São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2008

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Banco Central e Fazenda têm análises diferentes sobre os rumos da inflação

SHEILA D'AMORIM
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O efeito da apreciação cambial na economia neste início do ano tem reforçado o discurso da ala conservadora do Banco Central de que ainda não é possível afastar de vez a possibilidade de uma alta nos juros.
A tese conta com o argumento de que a contribuição do câmbio para controlar os preços será parcialmente anulada pelo maior crescimento do nível de atividade.
A avaliação se contrapõe à linha defendida no Ministério da Fazenda. Por essa segunda corrente, a taxa de câmbio atual favorece o combate à inflação -a trajetória dos índices de preço no início de 2008 mostra isso- e os desdobramentos da crise nos EUA também não afetaram tanto o país. Assim, a necessidade de subir os juros seria coisa do passado.
Na verdade, o presidente do BC, Henrique Meirelles, e sua equipe não querem ter que elevar juros, mas evitam embarcar no discurso de que o pior já passou.
Temem uma virada no cenário internacional ou mesmo uma aceleração ainda maior do nível de atividade com repercussão mais séria na inflação.
Preferem a cautela e querem esperar mais um pouco antes de descartarem de vez essa possibilidade. Meirelles já pavimentou esse caminho com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que, acredita, reduz o desgaste do BC dentro do governo e alivia pressões das correntes contrárias à posição conservadora do BC.
A preocupação de Lula é se o cenário atual, especialmente o câmbio, afetará o crescimento da economia previsto em 5% neste ano. A resposta dos seus auxiliares foi que não. Ao contrário, segundo a Folha apurou, eles argumentaram que o mercado interno está aquecido, e o Brasil produz o que o mundo quer comprar atualmente.
Com o recuo da inflação, a possibilidade de aumentar os juros perdeu força, mas, depois de tê-la cogitado recentemente, o BC prefere deixá-la em banho-maria. Na Fazenda, acredita-se que já seria possível até retomar gradualmente a discussão sobre o momento ideal para voltar a cortar os juros.
Os índices de preços ao consumidor caíram. O IPCA, referência para o sistema de metas, foi de 0,52% em janeiro, ante 0,74% em dezembro. O número de fevereiro ainda não saiu, mas o IPC da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) despencou de 0,52% em janeiro para 0,19% no mês passado.
Para o BC, essa melhora é reconhecida, mas "os riscos" não estariam totalmente afastados. Para parte dos integrantes do Copom (Comitê de Política Monetária), o cenário internacional ainda é incerto. A taxa de câmbio não deverá ajudar tanto a derrubar os preços porque, com a demanda aquecida, os empresários não deverão sacrificar suas margens de lucro para repassar a queda aos consumidores.
Isso minimizaria o benefício da apreciação cambial, que já passa de 6% neste ano. Por outro lado, qualquer depreciação do real ante o dólar teria impacto redobrado.
Para reforçar o alicerce da tese de que é melhor esperar antes de mexer no juro, juntam-se os seguintes argumentos: 1) ainda não é conhecido integralmente o impacto dos recentes aumentos do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e do compulsório nas operações de leasing, 2) as commodities em alta favorecem as exportações, mas também têm um impacto nos preços locais e 3) o nível de utilização do maquinário das indústrias é alto.


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