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Banco Central e Fazenda têm análises diferentes sobre os rumos da inflação
SHEILA D'AMORIM
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O efeito da apreciação cambial na economia neste início
do ano tem reforçado o discurso da ala conservadora do Banco Central de que ainda não é
possível afastar de vez a possibilidade de uma alta nos juros.
A tese conta com o argumento de que a contribuição do
câmbio para controlar os preços será parcialmente anulada
pelo maior crescimento do nível de atividade.
A avaliação se contrapõe à linha defendida no Ministério da
Fazenda. Por essa segunda corrente, a taxa de câmbio atual favorece o combate à inflação -a
trajetória dos índices de preço
no início de 2008 mostra isso-
e os desdobramentos da crise
nos EUA também não afetaram
tanto o país. Assim, a necessidade de subir os juros seria coisa do passado.
Na verdade, o presidente do
BC, Henrique Meirelles, e sua
equipe não querem ter que elevar juros, mas evitam embarcar
no discurso de que o pior já passou.
Temem uma virada no cenário internacional ou mesmo
uma aceleração ainda maior do
nível de atividade com repercussão mais séria na inflação.
Preferem a cautela e querem
esperar mais um pouco antes
de descartarem de vez essa possibilidade. Meirelles já pavimentou esse caminho com o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, o que, acredita, reduz o
desgaste do BC dentro do governo e alivia pressões das correntes contrárias à posição
conservadora do BC.
A preocupação de Lula é se o
cenário atual, especialmente o
câmbio, afetará o crescimento
da economia previsto em 5%
neste ano. A resposta dos seus
auxiliares foi que não. Ao contrário, segundo a Folha apurou, eles argumentaram que o
mercado interno está aquecido, e o Brasil produz o que o
mundo quer comprar atualmente.
Com o recuo da inflação, a
possibilidade de aumentar os
juros perdeu força, mas, depois
de tê-la cogitado recentemente, o BC prefere deixá-la em banho-maria. Na Fazenda, acredita-se que já seria possível até
retomar gradualmente a discussão sobre o momento ideal
para voltar a cortar os juros.
Os índices de preços ao consumidor caíram. O IPCA, referência para o sistema de metas,
foi de 0,52% em janeiro, ante
0,74% em dezembro. O número de fevereiro ainda não saiu,
mas o IPC da Fipe (Fundação
Instituto de Pesquisas Econômicas) despencou de 0,52% em
janeiro para 0,19% no mês passado.
Para o BC, essa melhora é reconhecida, mas "os riscos" não
estariam totalmente afastados.
Para parte dos integrantes do
Copom (Comitê de Política
Monetária), o cenário internacional ainda é incerto. A taxa de
câmbio não deverá ajudar tanto a derrubar os preços porque,
com a demanda aquecida, os
empresários não deverão sacrificar suas margens de lucro para repassar a queda aos consumidores.
Isso minimizaria o benefício
da apreciação cambial, que já
passa de 6% neste ano. Por outro lado, qualquer depreciação
do real ante o dólar teria impacto redobrado.
Para reforçar o alicerce da tese de que é melhor esperar antes de mexer no juro, juntam-se os seguintes argumentos: 1)
ainda não é conhecido integralmente o impacto dos recentes
aumentos do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e
do compulsório nas operações
de leasing, 2) as commodities
em alta favorecem as exportações, mas também têm um impacto nos preços locais e 3) o
nível de utilização do maquinário das indústrias é alto.
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