São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

Notícias aleatórias da crise

Juro interbancário volta ao nível de dias de pânico, bancos perderão mais dinheiro e EUA, aos poucos, param de gastar

A BOLSA americana foi um dos piores negócios do mundo em fevereiro (entenda-se, entre os negócios "globais"). Ficaram atrás de Bolsas emergentes, títulos da dívida pública e privada emergente (na "média") e até de papéis ligeiramente podres de empresas.
Especular com "commodities" foi o negócio campeão. "Commodities" como o cobre ficaram tão caras que estimulam o crime na Austrália. Segundo autoridades do país, roubar materiais de cobre e vendê-los para a reciclagem tornou-se bom negócio. Estão roubando quilômetros da fiação das linhas de trem. Como deve andar o índice de roubo de tampas de bueiros e de fios no Brasil?

Saudades de 2007
No primeiro bimestre do ano, a venda de carros ("veículos leves") nos EUA caiu 5,6% em relação ao começo de 2007. O gasto total em consumo se estagnou em três dos últimos quatro meses, descontada a inflação. Em janeiro, as encomendas de bens de capital (máquinas etc.) caíram 1,5% em janeiro; as de bens duráveis (como TVs) despencaram 5%. Em fevereiro, o ISM, índice que computa a avaliação dos gerentes de compras sobre encomendas, produto, emprego, estoques etc., baixou a um nível que indica contração da atividade fabril.
O ISM do setor de serviços que saiu ontem foi festejado, pois a contração do mês foi menor. Descontada a contribuição da balança comercial, o PIB dos EUA no último trimestre de 2007 teria sido zero.

Só de graça, ou nem isso
As taxas de juros interbancários voltaram a subir na Europa (em euros e libras) para níveis semelhantes aos dias de pânico de janeiro. Isto é, os bancos estão se olhando torto outra vez. Enquanto isso, o Fed, o BC americano, continua a emprestar dinheiro abaixo da taxa de redesconto por meio de sua linha "disfarçada" de redesconto, criada no final de 2007, de resto aceitando até pão dormido, casco de cerveja, derivativos imobiliários e ações de bancos americanos como garantia. Na prática, o Fed está dando dinheiro aos bancos.

Boatos inseguros
"Seguro" de crédito financeiro é um assunto vastamente chato. Mas foi o risco de que essas seguradoras perdessem sua nota de crédito que motivou e/ou justificou carnificinas nos mercados em janeiro. Se as seguradoras perdem crédito, também são desvalorizados os papéis que "asseguram", o que pode arrebentar ainda mais balanços de bancos. Desde janeiro, boatos otimistas ou plantados davam conta de que essas seguradoras arrumariam sócios que lhes trariam capital novo etc. Era cascata. Uma das grandes desse negócio anunciou que pretende vender ações a fim de aumentar seu capital reduzido pelos calotes imobiliários. As Bolsas dos EUA continuam a tropeçar nas seguradoras. E nos primeiros sinais de que o prejuízo dos bancos será ainda feio neste trimestre.

Citi no tapetão voador
O gerente do fundo do xeque de Dubai disse na terça que os árabes vão ter de colocar mais dinheiro no Citi para "resgatar" ou "SALVAR" o banco dos prejuízos por vir.


vinit@uol.com.br

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