São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2008

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Bancos discutem código bancário em reunião no Rio

Instituto de Finanças Internacionais, de bancos mundiais, debate práticas que resolveriam deficiências expostas pela redução de crédito

GILLIAN TETT
DO "FINANCIAL TIMES", EM LONDRES

O hotel Copacabana Palace, no Rio Janeiro, há muito atrai astros do rock e famosos de todo o mundo. Nesta semana, porém, seus quartos com vista para o mar abrigarão convivas mais sóbrios e formais.
O IIF (Instituto de Finanças Internacionais), uma associação mundial de bancos sediada em Washington, abre sua reunião de primavera no Rio, hoje.
O encontro pode ser especialmente intrigante se der sinais da preparação do setor de bancos de investimento para combater a crescente ameaça de aperto geral na regulamentação. Um dos principais tópicos será o esforço de criar um código de "práticas recomendadas" que resolveria algumas deficiências setoriais expostas pela compressão de crédito.
O documento se encaixará em um panorama mais amplo de propostas de reforma que serão reveladas na reunião do G7, em abril, pelo Fórum da Estabilidade Financeira, que congrega autoridades mundiais de regulamentação e fiscalização e serve como uma das principais arenas para o planejamento de ações políticas internacionais.
Em público, o IIF enfatiza que o tema dominante do evento é a cooperação entre autoridades regulatórias e bancos privados -haverá executivos bancários como Josef Ackerman, presidente do Deutsche Bank, e Francisco Gonzalez, presidente do BBVA, e autoridades financeiras e regulatórias como Jochen Sanio, o principal fiscal do setor financeiro alemão, e Thomas Hoenig, presidente do Fed do Kansas.
Nos bastidores, a iniciativa está sendo conduzida ao menos em parte -e aos olhos de alguns banqueiros- pelo medo de que o setor bancário sofra forte aperto regulatório.
À medida que os prejuízos do mercado de crédito crescem e começam a prejudicar a economia real, aumenta a preocupação entre os dirigentes bancários quanto à possibilidade de adoção de novas restrições à atuação dos bancos. "O setor de fato tem agora a grande responsabilidade de organizar suas ações", diz Charles Dallara, presidente do IIF e antigo fiscal financeiro nos Estados Unidos.
O IIF preparou um amplo acordo entre seus membros quanto a diretrizes sobre práticas recomendáveis; os bancos podem adotá-las para questões como a administração de riscos e a gestão da liquidez. Também existe um consenso generalizado de que é preciso adotar padrões mais firmes para operações de subscrição, e tratamento de veículos de investimento como os "conduits", que não são registrados como parte dos balanços das instituições.
Há outras problemáticas. A questão mais espinhosa será determinar se o setor bancário pode ser convencido a adotar as práticas recomendadas no que tange à estrutura de remuneração. Os tópicos sensíveis incluem ainda reformas no processo de classificação de créditos e nos sistemas usados para avaliar instrumentos financeiros complexos.
Há forte divisão de opinião quanto ao uso da técnica contábil "mark-to-market", em que os instrumentos são contabilizados de acordo com o valor de mercado que detenham. A criação de um comitê internacional de bancos para monitorar os mercados de capitais também é uma idéia controversa -o argumento é que alertas de executivos bancários importantes poderiam pesar mais, na próxima bolha, do que os das autoridades econômicas.
"Será que é possível criar um grupo de pessoas eminentes que, de tempos em tempos, ofereçam sinais de alerta caso as coisas tenham ido longe demais? "Talvez possamos criar algum grupo que nos ajude a reconhecer [bolhas perigosas] antes que seja tarde demais."
Determinar se os debates produzirão documentos tangíveis, esta semana, ainda não é possível. Mas está claro que a pressão política por ação dos bancos não desaparecerá.


Tradução de PAULO MIGLIACCI

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