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Bancos discutem código bancário em reunião no Rio
Instituto de Finanças Internacionais, de bancos mundiais, debate práticas que resolveriam deficiências expostas pela redução de crédito
GILLIAN TETT
DO "FINANCIAL TIMES", EM LONDRES
O hotel Copacabana Palace,
no Rio Janeiro, há muito atrai
astros do rock e famosos de todo o mundo. Nesta semana, porém, seus quartos com vista para o mar abrigarão convivas
mais sóbrios e formais.
O IIF (Instituto de Finanças
Internacionais), uma associação mundial de bancos sediada
em Washington, abre sua reunião de primavera no Rio, hoje.
O encontro pode ser especialmente intrigante se der sinais da preparação do setor de
bancos de investimento para
combater a crescente ameaça
de aperto geral na regulamentação. Um dos principais tópicos será o esforço de criar um
código de "práticas recomendadas" que resolveria algumas
deficiências setoriais expostas
pela compressão de crédito.
O documento se encaixará
em um panorama mais amplo
de propostas de reforma que
serão reveladas na reunião do
G7, em abril, pelo Fórum da Estabilidade Financeira, que congrega autoridades mundiais de
regulamentação e fiscalização e
serve como uma das principais
arenas para o planejamento de
ações políticas internacionais.
Em público, o IIF enfatiza
que o tema dominante do evento é a cooperação entre autoridades regulatórias e bancos
privados -haverá executivos
bancários como Josef Ackerman, presidente do Deutsche
Bank, e Francisco Gonzalez,
presidente do BBVA, e autoridades financeiras e regulatórias como Jochen Sanio, o principal fiscal do setor financeiro
alemão, e Thomas Hoenig, presidente do Fed do Kansas.
Nos bastidores, a iniciativa
está sendo conduzida ao menos
em parte -e aos olhos de alguns banqueiros- pelo medo
de que o setor bancário sofra
forte aperto regulatório.
À medida que os prejuízos do
mercado de crédito crescem e
começam a prejudicar a economia real, aumenta a preocupação entre os dirigentes bancários quanto à possibilidade de
adoção de novas restrições à
atuação dos bancos. "O setor de
fato tem agora a grande responsabilidade de organizar suas
ações", diz Charles Dallara,
presidente do IIF e antigo fiscal
financeiro nos Estados Unidos.
O IIF preparou um amplo
acordo entre seus membros
quanto a diretrizes sobre práticas recomendáveis; os bancos
podem adotá-las para questões
como a administração de riscos
e a gestão da liquidez. Também
existe um consenso generalizado de que é preciso adotar padrões mais firmes para operações de subscrição, e tratamento de veículos de investimento
como os "conduits", que não
são registrados como parte dos
balanços das instituições.
Há outras problemáticas. A
questão mais espinhosa será
determinar se o setor bancário
pode ser convencido a adotar as
práticas recomendadas no que
tange à estrutura de remuneração. Os tópicos sensíveis incluem ainda reformas no processo de classificação de créditos e nos sistemas usados para
avaliar instrumentos financeiros complexos.
Há forte divisão de opinião
quanto ao uso da técnica contábil "mark-to-market", em que
os instrumentos são contabilizados de acordo com o valor de
mercado que detenham. A criação de um comitê internacional
de bancos para monitorar os
mercados de capitais também é
uma idéia controversa -o argumento é que alertas de executivos bancários importantes
poderiam pesar mais, na próxima bolha, do que os das autoridades econômicas.
"Será que é possível criar um
grupo de pessoas eminentes
que, de tempos em tempos, ofereçam sinais de alerta caso as
coisas tenham ido longe demais? "Talvez possamos criar
algum grupo que nos ajude a reconhecer [bolhas perigosas]
antes que seja tarde demais."
Determinar se os debates
produzirão documentos tangíveis, esta semana, ainda não é
possível. Mas está claro que a
pressão política por ação dos
bancos não desaparecerá.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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