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Boom imobiliário na China pressagia bolha
Em Xangai, a mais rica e deslumbrante das cidades chinesas, os preços dos imóveis subiram mais de 150% desde 2003
Autoridades de Pequim já tomaram medidas para restringir crédito; em 2009, o mercado movimentou 80% mais, US$ 560 bilhões
DAVID BARBOZA
DO "NEW YORK TIMES", EM XANGAI
O espaçoso dúplex vem com
cama cujo dossel é sustentado
por colunas revestidas em couro de crocodilo, portas de bronze esculpidas à mão -e enfeitadas com cristais Swarovski- e
custa US$ 45 milhões.
O apartamento ainda está no
mercado, mas Charles Tong, o
incorporador imobiliário do
Tomson Riviera, um luxuoso
complexo à beira-rio no coração do distrito financeiro de
Xangai, diz que não tem problemas para atrair compradores e
que vende "de três a quatro
apartamentos por mês". "Agora, as pessoas aqui desejam algo
mais luxuoso; gostariam de um
novo estilo de vida."
Todo mundo concorda que a
China atravessa um boom imobiliário; a questão é determinar
se o país também está em meio
a uma bolha imobiliária em rápido crescimento -cujo estouro poderia afetar boa parte do
mundo. A China é a grande economia de mais rápido crescimento e o principal propulsor
para que a economia mundial
saia da recessão.
Pequim está claramente
preocupada. As autoridades recentemente tomaram medidas
para restringir o crédito fácil
que ajudou a financiar o desenvolvimento excessivo de projetos imobiliários chineses, entre
elas dificultar a obtenção de
uma segunda hipoteca pelos
proprietários de residências.
No ano passado, o recorde de
US$ 560 bilhões em propriedades residenciais foi vendido na
China, uma alta de 80% ante
2008, segundo estatísticas governamentais. Em meio à disparada dos preços, os incorporadores correm para construir
mais empreendimentos de luxo que ostentam nomes como
Rich Gate e Palais de Fortune.
Os sinais de exuberância são
onipresentes. Um investidor de
Xangai recentemente adquiriu
54 apartamentos em um único
dia, uma casa de campo foi vendida por US$ 30 milhões no ano
passado e um consórcio de incorporadores pagou mais de
US$ 3,5 bilhões por um imenso
terreno em Guangzhou.
Os especuladores vêm abocanhando imóveis na expectativa
de que os preços continuem a
subir, como vem acontecendo
praticamente a cada ano há
mais de uma década. E poderosos incorporadores imobiliários estão trabalhando com governos locais a fim de transformar velhas cidades em paisagens urbanas oníricas. Xangai,
a mais rica e deslumbrante das
cidades chinesas, é o epicentro
do boom. Os preços subiram
mais de 150% desde 2003.
Em seu esforço para tentar
modular o mercado, os governos local e central precisam encontrar um ponto delicado de
equilíbrio. As vendas de terrenos são importante fonte de receita para o governo e respondem por cerca de metade do
custo do programa de estímulo
chinês de US$ 500 bilhões.
Determinar se o país vive bolha se tornou tema de debate.
Alguns economistas dizem que
o boom está sendo alimentado
por uma grande campanha de
urbanização, que resulta em casas caras. Outros dizem que os
preços vêm sendo empurrados
por incorporadores gananciosos e políticas governamentais
que tornam os imóveis menos
acessíveis à massa migrante.
Os apartamentos mais recentes do Tomson Riviera foram vendidos por US$ 25 mil o
m2. Um apartamento de luxo
médio em Manhattan valia
pouco menos de US$ 21 mil o
m2 no fim de 2009.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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