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CÂMBIO
Moeda fechou em R$ 1,98, com valorização de 4,8% do real; investidores venderam estoque prevendo BC mais ativo
Dólar cai abaixo de R$ 2 sem intervenção
CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local
O Banco Central nem precisou intervir no
mercado de
câmbio, ontem,
para o real ganhar valor contra o dólar comercial. No fechamento, a cotação
da moeda dos EUA ficou em R$
1,985, uma valorização do real de
4,79% em um dia. Ficou, pela primeira vez desde o dia 22 de fevereiro, abaixo do patamar de R$ 2.
Desde que Armínio Fraga assumiu a presidência do Banco Central, anteontem, o real recuperou
8,82% de seu valor.
Na média ponderada de todos os
negócios do dia divulgada pelo
Banco Central, o dólar ficou a R$
1,9934 ontem, uma queda de 5,16%
em um dia e de 7,91% desde que
Fraga tomou posse.
Ontem, não houve pressão forte
na ponta da compra de dólares. O
ABN-Amro, que tinha um eurobônus de US$ 150 milhões vencendo
no dia 9 e precisaria comprar dólares, conseguiu colocar novo papel
no mercado externo no valor de
US$ 100 milhões. O banco já tinha
comprado mais do que os US$ 50
milhões restantes e foi visto, ontem, vendendo dólares.
Também a corretora Votorantim, o Citibank e o Deutsche atuaram com força na ponta de venda,
dizem especialistas. Segundo rumores, o Citi teria vendido até US$
100 milhões no mercado.
Os investidores entraram vendendo dólares pois apostam que as
cotações da moeda vão cair contra
o real com um Banco Central mais
atuante. A possibilidade de o governo poder gastar na defesa do
real os recursos da ajuda do FMI e
dos países ricos, prevista para chegar a US$ 41,5 bilhões, está assustando quem apostava em um fortalecimento do dólar.
Além de um eurobônus de US$
20 milhões da Brascam, não há novos papéis brasileiros vencendo no
mercado externo na semana que
vem. E US$ 20 milhões, em um
mercado de câmbio que movimenta cerca de US$ 2,5 bilhões por
dia, não é quase nada. Não é volume suficiente para pressionar para
cima ascotações do dólar.
A grande pressão de compra do
dólar, pelo menos neste mês, tem
vindo de empresas que têm suas
dívidas externas vendendo e não
têm conseguido rolar esses papéis.
Os investidores internacionais, em
sua maior parte, ainda têm desconfianças sobre o futuro da economia brasileira e pedem taxas de
juros altas demais para carregar os
papéis das empresas brasileiras.
Sem eurobônus e com Fraga, os
investidores passaram a acreditar
em uma semana mais calma. Os
contratos da Bolsa de Mercadorias
& de Futuros projetaram um dólar
mais fraco.
Nos contratos para vencimento
em abril, que indicam o dólar do
último dia útil de março, a moeda
dos EUA terminou o dia cotada a
R$ 1,986, uma desvalorização de
3,77% contra anteontem.
Com o alívio nas cotações, os importadores começaram a voltar ao
mercado à vista, segundo Carlos
Gandolfo, sócio da Pioneer Corretora de Câmbio.
Ele também percebeu uma atuação dos exportadores vendendo
dólares, mas em volumes pouco
expressivos. "Os grandes exportadores, principalmente de commodities como a soja, por exemplo,
ainda não mostraram sua cara no
mercado", afirmou Gandolfo.
O problema, afirma, são as caras
linhas de crédito para os exportadores ingressarem com seus dólares no país antes de a exportação
ter sido realizada, os chamados
Adiantamentos de Contrato de
Câmbio, ACCs.
Gandolfo diz que antes da crise
decorrente da moratória da rússia,
em agosto do ano passado, as taxas
de juros dos ACCs eram a libor, a
taxa interbancária de Londres,
mais 0,5%. No início deste ano, haviam subido para libor mais 2% ao
ano. Hoje, custam a libor mais 4%.
"O crédito ainda está proibitivo."
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