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São Paulo, domingo, 06 de abril de 2003

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GOVERNO LULA CEM DIAS

Só Uruguai tem empréstimo mais caro que o Brasil

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Brasil é um dos piores países do mundo para tomar um empréstimo. Numa lista formada por 42 países, os juros praticados por bancos brasileiros ocupam a segunda posição entre os mais elevados, segundo levantamento feito a partir de dados do IFS (International Financial Statistics).
De acordo com o IFS, quem tomou um empréstimo no Brasil ao longo de 2002 pagou juros reais -ou seja, já descontada a inflação do período- de 50,18% ao ano. Essa taxa só foi superada pela praticada no Uruguai, onde um financiamento custava, em média, 98,35% ao ano.
Os juros bancários em vigor no Brasil superam, de longe, as taxas observadas em outros países emergentes. Na Argentina, os juros reais ficaram em 22,89% ao ano. No Paraguai, 25,47% ao ano. No Chile, 5,14%. As taxas mais baixas são encontradas nos países desenvolvidos, como Irlanda, Canadá e Holanda.
A lista de 42 países foi elaborada pela Folha com base nos dados do IFS, órgão ligado ao FMI que acompanha indicadores econômicos em mais de cem países. Foram selecionados todos os países cujos dados relativos ao ano de 2002 já estavam disponíveis.
No Uruguai, a elevada taxa de juros reflete a crise econômica enfrentada pelo país. Bastante ligada à Argentina, a economia uruguaia vem enfrentando dificuldades com a derrocada do país vizinho. A crise se alastrou pelos bancos e muitas instituições financeiras ameaçaram fechar as portas.
Já no Brasil, que não vive crise tão aguda quanto a uruguaia, são várias as justificativas para os juros altos. Segundo Roberto Troster, economista-chefe da Febraban, o principal motivo é a elevada dívida pública.
"Quando o governo toma muito dinheiro no mercado, isso acaba distorcendo as taxas praticadas nos empréstimos ao setor privado", diz ele. A dívida do setor público (União, Estados, municípios e estatais) soma R$ 904 bilhões, o equivalente a 56,6% do PIB (Produto Interno Bruto).
O grande credor do governo é o chamado "mercado": bancos e fundos de investimento. Cria-se, então, um ambiente bastante desfavorável a pessoas e empresas que procuram os empréstimos bancários. Como o governo paga aos bancos juros altos, com um risco mínimo de inadimplência, as instituições preferem direcionar seus recursos ao setor público. Quando emprestam ao setor privado, emprestam a taxas muito elevadas.
Parte dos juros altos cobrados pelos bancos reflete a taxa Selic. Hoje em 26,5% ao ano, ela serve de referência nos empréstimos que os próprios bancos contraem quando precisam de dinheiro.


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