São Paulo, quinta-feira, 06 de abril de 2006

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CRISE NO AR

Presidente da empresa admite que caixa está "bastante limitado'; credores apertam aérea, que busca apoio do governo

Varig diz que não pára de voar nesta semana

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da Varig, Marcelo Bottini, descartou ontem a hipótese de a companhia paralisar suas atividades nesta semana, mas reconheceu que o caixa da empresa "está bastante limitado". Ele destacou também que a companhia precisa de um aporte de capital o mais rápido possível.
Bottini minimizou o risco de a empresa parar, ao afirmar que "já se fala disso há dez anos". O clima entre os credores, no entanto, é de tensão, e a expectativa é que a ajuda surja do governo.
Até ontem, a Infraero não havia voltado atrás em sua ameaça de passar a cobrar da companhia aérea as tarifas aeroportuárias antes do início de cada vôo, sob pena de seus passageiros não embarcarem. O prazo final dado pela estatal é amanhã.
Empresas de leasing e representantes envolvidos no processo de recuperação da Varig afirmam que a companhia pode não passar desta semana porque não tem mais caixa suficiente para pagar despesas do dia-a-dia. O clima entre os arrendadores de aeronaves é ruim, e eles avaliam se pedirão ou não suas aeronaves de volta.
"O caixa da Varig chegou ao seu limite, ou é feito alguma coisa já ou a Varig paralisa as suas operações. A informação que tenho é que a possibilidade de paralisação da empresa é uma realidade", afirmou Márcio Marsillac, coordenador do TGV (Trabalhadores do Grupo Varig).
A juíza da 2ª Vara Empresarial do Rio Márcia Cunha, que cuida do processo de recuperação da Varig, confirma que a situação de caixa da aérea se agravou nos últimos meses. Para ela, a Varig só se recupera se houver aporte de capital, que poderia vir do governo, dos credores ou de terceiros interessados na empresa. "O processo está em curso na Justiça há mais de dez meses, estamos chegando a um ponto em que a capacidade dos credores de aguardar o recebimento dos créditos está no limite", disse ela.

Demissões
A consultoria americana Alvarez & Marsal, contratada para atuar como reestruturadora, propôs aos principais fornecedores da Varig um prazo de carência de 90 dias, sugeriu o corte de 2.900 funcionários e a redução de salários em 30%. De acordo com Bottini, nenhum dos credores se dispôs a oferecer o prazo de carência.
Sobre a oferta de compra apresentada pela Varig Log de US$ 350 milhões, duramente criticada pelos credores, Bottini disse que aprova qualquer proposta que possa dar "uma solução de continuidade" à companhia. Ele destacou, no entanto, que a aprovação cabe aos credores, que responderão nesta semana. A proposta da Varig Log é priorizar os vôos internacionais da aérea.
Depois das críticas, a Varig informou que a Varig Log faria uma nova apresentação da proposta ao fundo de pensão Aerus, um dos mais críticos à proposta e principal credor, na noite de ontem.

Casa Civil
A expectativa entre trabalhadores e agentes envolvidos é que o governo tome providências. De acordo com pessoas ligadas ao setor, existe uma reunião marcada para hoje com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que já solicitou informações sobre a companhia aérea ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Bottini negou ter ouvido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que a "Varig não pode parar".
Ele disse que entrou em contato com o governo para se apresentar como presidente da aérea, entregar o plano de recuperação e discutir a situação da empresa após a aprovação do plano.
"Já temos tratado com o governo há algum tempo sobre o plano de recuperação, tenho feito contato com a ministra Dilma", afirmou o presidente da empresa.


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