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OPINIÃO ECONÔMICA
O Brasil pode crescer mais?
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
O período Malan-Palocci
foi um fracasso em termos
de crescimento. Entre 1996 e
2005, o nosso PIB per capita aumentou em média apenas 0,7%
ao ano, uma das menores taxas
de crescimento do mundo, segundo levantamento recente da
CNI.
O que explica essa performance
lamentável? De 1995 a 2002, o
problema central foi a vulnerabilidade das contas externas, que
resultou da combinação de câmbio sobrevalorizado (até o início
de 1999) e abertura unilateral da
economia (redução de tarifas e
outras barreiras à importação).
Depois de 2003, o balanço de
pagamentos deixou de ser a principal restrição. O quadro internacional tornou-se francamente
favorável, tanto no plano comercial como no financeiro. Além
disso, com as inevitáveis defasagens temporais, as empresas brasileiras responderam vigorosamente ao estímulo proporcionado pela depreciação cambial iniciada em 1999, conquistando
mercados no exterior e substituindo importações no mercado
interno.
No subperíodo Palocci, o que
conteve o crescimento foi fundamentalmente a adoção de políticas macroeconômicas exageradamente restritivas. Prevaleceu
uma mentalidade hipercautelosa, que dava prioridade quase
absoluta ao combate à inflação e
procurava bajular permanentemente os mercados financeiros.
Repare, leitor, que essa é uma
interpretação otimista. Nos parágrafos anteriores, está implícita a tese de que o baixo crescimento não tem raízes estruturais. Não é o que pensam outros
economistas. Muitos acreditam
que o Brasil só crescerá de forma
sustentada se passar por reformas profundas, demoradas e politicamente difíceis. Não nego, é
claro, que o país precisa de diversas reformas (por exemplo: a reforma tributária, a reforma financeira, a reforma do sistema
político). Afirmo apenas que a
retomada do crescimento não
pressupõe essas reformas e que
ela depende, fundamentalmente,
de uma reorientação das políticas macroeconômicas. Reorientação que teria dois objetivos: estimular a demanda agregada
(especialmente os investimentos
produtivos) e impedir o reaparecimento da vulnerabilidade externa.
Estou sonhando? Não creio. A
economia possui grande capacidade ociosa. A indústria brasileira opera atualmente com cerca
de 80% da capacidade instalada,
segundo a CNI. E esses dados tendem a subestimar a efetiva capacidade de produção da indústria.
Em resposta a um estímulo de
demanda, os níveis de produção
podem aumentar para além da
"capacidade instalada", mesmo
sem grandes investimentos, com
base em aumento no número de
turnos de trabalho, investimentos marginais e outras adaptações do processo produtivo.
O desemprego da força de trabalho também é alto, apesar da
diminuição recente. As taxas de
desemprego total (que incluem
desemprego aberto, desemprego
por trabalho precário e desemprego por desalento) são muito
elevadas. Na Região Metropolitana de São Paulo, o desemprego
total alcança 16%. No Distrito
Federal, 19%. Em Porto Alegre,
13%. Em Recife, 21%. Em Salvador, 24%.
Não há risco apreciável de inflação de demanda. A taxa de inflação brasileira está razoavelmente controlada, situando-se
próxima à média dos principais
países emergentes e não muito
acima da média dos países desenvolvidos.
Os resultados de balanço de pagamentos continuam favoráveis,
apesar da apreciação do real. O
superávit comercial ainda será
muito elevado em 2006. E tudo
indica que o balanço de pagamentos em conta corrente será
superavitário pelo quarto ano
consecutivo, algo muito raro, talvez inédito, na história econômica brasileira.
Há muito tempo que não se vê
uma configuração macroeconômica tão favorável ao crescimento vigoroso dos níveis de atividade e de emprego.
Faltou, até agora, governo para
aproveitá-la.
Paulo Nogueira Batista Jr., 51, economista e professor da FGV-EAESP, escreve
às quintas-feiras nesta coluna. É autor
do livro "O Brasil e a Economia Internacional: Recuperação e Defesa da Autonomia Nacional" (Campus/Elsevier, 2005).
E-mail - pnbjr@attglobal.net
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