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LUÍS NASSIF
O quebra-cabeça da Cemar
O quebra-cabeça da Cemar (Centrais Elétricas do
Maranhão) começa a se fechar.
Como se sabe, em 2004 a SVM
(controlada pela GP Investimentos) adquiriu 142 milhões
de ações da Cemar pelo valor
simbólico de R$ 1,00. Pouco
mais de um ano depois, em 31
de dezembro de 2005, o valor
contábil do patrimônio líquido
era equivalente a R$ 3,54 por
ação -no total, R$ 502 milhões.
Em 7 de março de 2006, a
SVM transferiu suas ações para
um fundo sediado em Delaware
(paraíso fiscal norte-americano), o Equatorial, que passou a
ser o controlador de fato da Cemar. A transferência foi de 36
milhões de ações ordinárias pelo equivalente a R$ 1,33 por
ação. Poucos dias depois, houve
um IPO (oferta pública de ações
da companhia) em que parte
dessas ações foi colocada a um
valor de R$ 14,50 por ação.
O que levaria o controlador
da Cemar, o GP Investimentos,
dos mais categorizados fundos
do mercado, a errar tanto na
mão na hora de vender uma
parte do capital para o Pactual?
Fontes do fundo dizem que,
quando as negociações começaram, em meados do ano passado, não se tinha idéia do potencial de valorização da empresa
-o que não é crível.
É mais lógica a seguinte versão, montada a partir das peças
colhidas no mercado:
1. O GP era candidato certo à
compra da Light, associado à
Cemig, de Minas Gerais. Em determinado momento, sem mais
explicações, o GP pulou fora e
entraram no negócio Aldo Flores e o Fundo Pactual, trazido
pelas mãos da Andrade Gutierrez.
2. Em seguida houve a associação entre os dois fundos, e
um acordo de não-concorrência e exclusividade, registrado
na CVM (Comissão de Valores
Mobiliários).
3. Esse acordo culminou com
a operação de jogar o preço para baixo, na venda para o Pactual, para impedir a Eletrobrás
de exercer o direito de "tag
along" (direito do minoritário
de vender suas ações pelo mesmo valor oferecido a outro investidor). Como se recorda, na
compra da Cemar, em 2004, o
GP conseguiu que a Eletrobrás
transformasse parte de seus créditos com a empresa em 35% de
participação.
4. Agora, ao fazer um IPO da
Equatorial, o GP deixa a Eletrobrás com o "mico-preto". O controle salta para a Equatorial,
que passa a ter ações negociadas em Bolsa, e a Eletrobrás fica
amarrada ao capital da Cemar,
uma empresa sem liquidez.
Há duas implicações, A primeira, de ordem legal. O corretor não deve ter uma "remuneração excessiva", que o leve a
um incentivo desproporcional
em vender os títulos numa oferta pública, pois isso poderia incentivá-lo a romper sua responsabilidade fiduciária. No caso
da Equatorial, esse princípio foi
escandalosamente ferido. Além
do mais, se o corretor, que é um
expert, utiliza determinados
critérios para avaliar títulos
que está adquirindo para sua
própria carteira, como pode,
num período imediatamente
subseqüente, utilizar critérios
totalmente díspares para vendê-los a investidores de mercado, que obviamente não têm o
mesmo conhecimento técnico e
recursos para avaliar tal investimento?
O segundo ponto é saber se a
Eletrobrás vai reagir e fazer valer seus direitos ao "tag along"
em cima do valor real negociado em mercado.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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