São Paulo, quinta-feira, 06 de abril de 2006

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LUÍS NASSIF

O quebra-cabeça da Cemar

O quebra-cabeça da Cemar (Centrais Elétricas do Maranhão) começa a se fechar. Como se sabe, em 2004 a SVM (controlada pela GP Investimentos) adquiriu 142 milhões de ações da Cemar pelo valor simbólico de R$ 1,00. Pouco mais de um ano depois, em 31 de dezembro de 2005, o valor contábil do patrimônio líquido era equivalente a R$ 3,54 por ação -no total, R$ 502 milhões.
Em 7 de março de 2006, a SVM transferiu suas ações para um fundo sediado em Delaware (paraíso fiscal norte-americano), o Equatorial, que passou a ser o controlador de fato da Cemar. A transferência foi de 36 milhões de ações ordinárias pelo equivalente a R$ 1,33 por ação. Poucos dias depois, houve um IPO (oferta pública de ações da companhia) em que parte dessas ações foi colocada a um valor de R$ 14,50 por ação.
O que levaria o controlador da Cemar, o GP Investimentos, dos mais categorizados fundos do mercado, a errar tanto na mão na hora de vender uma parte do capital para o Pactual? Fontes do fundo dizem que, quando as negociações começaram, em meados do ano passado, não se tinha idéia do potencial de valorização da empresa -o que não é crível.
É mais lógica a seguinte versão, montada a partir das peças colhidas no mercado:
1. O GP era candidato certo à compra da Light, associado à Cemig, de Minas Gerais. Em determinado momento, sem mais explicações, o GP pulou fora e entraram no negócio Aldo Flores e o Fundo Pactual, trazido pelas mãos da Andrade Gutierrez.
2. Em seguida houve a associação entre os dois fundos, e um acordo de não-concorrência e exclusividade, registrado na CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
3. Esse acordo culminou com a operação de jogar o preço para baixo, na venda para o Pactual, para impedir a Eletrobrás de exercer o direito de "tag along" (direito do minoritário de vender suas ações pelo mesmo valor oferecido a outro investidor). Como se recorda, na compra da Cemar, em 2004, o GP conseguiu que a Eletrobrás transformasse parte de seus créditos com a empresa em 35% de participação.
4. Agora, ao fazer um IPO da Equatorial, o GP deixa a Eletrobrás com o "mico-preto". O controle salta para a Equatorial, que passa a ter ações negociadas em Bolsa, e a Eletrobrás fica amarrada ao capital da Cemar, uma empresa sem liquidez.
Há duas implicações, A primeira, de ordem legal. O corretor não deve ter uma "remuneração excessiva", que o leve a um incentivo desproporcional em vender os títulos numa oferta pública, pois isso poderia incentivá-lo a romper sua responsabilidade fiduciária. No caso da Equatorial, esse princípio foi escandalosamente ferido. Além do mais, se o corretor, que é um expert, utiliza determinados critérios para avaliar títulos que está adquirindo para sua própria carteira, como pode, num período imediatamente subseqüente, utilizar critérios totalmente díspares para vendê-los a investidores de mercado, que obviamente não têm o mesmo conhecimento técnico e recursos para avaliar tal investimento?
O segundo ponto é saber se a Eletrobrás vai reagir e fazer valer seus direitos ao "tag along" em cima do valor real negociado em mercado.


E-mail - Luisnassif@uol.com.br

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