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VIZINHO
Críticos questionam eficácia do controle de preços
Apesar de proibição de exportação, carne puxa inflação na Argentina
FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES
Mesmo com a exportações do
produto proibidas desde 13 de
março para forçar a queda do preço interno, a carne na Argentina
subiu 3,4% em março e contribuiu para que a inflação geral do
mês no país alcançasse 1,2%.
O IPC (Índice de Preços ao Consumidor) foi divulgado ontem pelo instituto oficial. Embora represente uma alta em relação a fevereiro (quando a inflação foi 0,4%),
o número foi menor do que o de
março do ano passado, que chegou a 1,5%.
O primeiro trimestre fechou
com alta acumulada de 2,9%, menor que os 4% do mesmo período
de 2005, dado comemorado pelo
governo por "quebrar a expectativa" de escalada da inflação.
Os itens que mais impulsionaram a alta do mês passado foram
educação ( 9,5%) e vestuário
(6,1%).
O preço maior de artigos escolares e roupas já era, porém, esperado pelo governo e pelo mercado,
por conta da volta às aulas e da
mudança da estação.
Queda-de-braço
No caso da carne, o aumento é
uma derrota do governo e adiciona tensão à queda-de-braço entre
a Casa Rosada e produtores e frigoríficos. A exportação foi proibida, salvo os cortes de alta qualidade da cota destinada à Europa, para aumentar a oferta interna.
A medida tem gerado protestos
diários de pecuaristas e empresários do setor, respondido por movimentos sociais que apóiam o
presidente Néstor Kirchner.
Kirchner convocou um boicote
ao produto e há propagandas da
Presidência na TV com o mesmo
mote: "Se o preço não baixar, não
compre carne".
Com a restrição da venda ao exterior, o preço no principal mercado de abates caiu, mas a queda
não chegou ao consumidor. O aumento médio de 3,4% da carne
-um corte popular como a carne
picada subiu 6,1%- impactou na
cesta básica de alimentos, que
avançou 1,8%.
A alta da cesta básica e de alimentos e bebidas em geral (1,5%)
também lança dúvidas sobre a estratégia de combater a inflação
com controle de preços, já que há
acordos do governo com empresas e supermercados para congelar o valor de mais de 200 produtos, de biscoitos a azeite.
Para integrantes do Ministério
da Economia, os acordos têm funcionado porque, do contrário, os
números do primeiro trimestre já
projetariam uma inflação maior
que 12%, a meta de 2006. Defendem que as medidas tomadas
controlam a alta sem deprimir a
economia.
A expectativa do mercado internacional, porém, é outra. Em relatório divulgado na terça-feira na
reunião do BID (Bando Interamericano de Desenvolvimento), em
Belo Horizonte, o IIF (Instituto
Internacional de Finanças, na sigla em inglês), que reúne os principais bancos do mundo, prevê
uma inflação de 14,9% para 2006 e
de até 18% no ano que vem caso o
governo mantenha apenas a estratégia atual.
O IIF defende que o governo
Kirchner aplique um "ajuste monetário" e critica a atitude "agressiva" da Casa Rosada com empresários. Para o instituto, há um risco de a alta provocar "uma espiral
salarial".
Além de negociar diretamente
com empresas os acordos de preço, Kirchner também entrou na
questão dos salários. Ontem, em
negociação com a direta participação do presidente argentino, o
sindicato dos caminhoneiros, um
dos mais influentes do país, conseguiu reajuste de 19% e os trabalhadores voltaram ao serviço depois de cinco dias de greve.
O presidente do sindicato, Hugo Moyano, que também lidera a
principal central trabalhadora,
pedia 28% de reajuste, mas depois
de ser recebido por Kirchner na
Casa Rosada acabou aceitando a
proposta de 19%, em duas parcelas (abril e julho).
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