São Paulo, sexta-feira, 06 de abril de 2007

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Peça pirata de carro chinês é ameaça ao Brasil

Qilai Shen -20.jan.06/Bloomberg
Funcionário trabalha na montagem de carro na fábrica chinesa de automóveis Chery, que produz o modelo mais barato, o QQ


CLÁUDIA DIANNI
ENVIADA ESPECIAL A CINGAPURA

A disputa pelos ávidos consumidores de carros na China deve acelerar o avanço dos automóveis chineses no mercado externo. Quanto mais cedo as montadoras no país esgotarem o mercado doméstico, mais rapidamente os baratos carros chineses chegarão aos países com forte tradição na produção de automóveis, como o Brasil.
O modelo mais barato da chinesa Chery, o QQ, é vendido a US$ 5.000, cerca de R$ 11 mil, e o Free Cruise, da Geely, a US$ 10 mil ou R$ 22 mil. Especialistas acreditam que a falta de tradição na China na linha de montagem garanta às montadoras brasileiras tempo para se preparar para enfrentar os modelos chineses, mas a rede de reposição de peças, elo mais frágil da cadeia, já começou a sentir o peso da concorrência.
"O Brasil tem décadas de experiência na cadeia automotiva. Ainda não há chinês capaz de fazer as peças com a qualidade das brasileiras. Mesmo importando, eles conseguem preços finais mais baratos porque recebem subsídios do governo, que já sinalizou que vai cortar essa ajuda", disse à Folha Bernardo da Cunha -que desenvolveu projetos de exportação de autopeças brasileiras para a China e para Europa-, em visita à Volkswagem, em Xangai.
Segundo ele, o problema é que estão entrando peças de reposição chinesas no Brasil e esse mercado é de difícil controle porque a venda é direta ao consumidor final, que tem mais dificuldade de identificar qualidade e se a peça é legítima. "Há dois tipos de concorrência com as autopeças chinesas.
As importadas legalmente, que são só produtos de mais um concorrente e não ameaçam o setor, e as ilegais. Essas têm o poder de destruir a indústria brasileira", afirma Antonio Carlos Pinto de Sousa, coordenador do GMA (Grupo de Manutenção Automotiva). Segundo ele, há estimativas de que entre 5% e 10% das peças de reposição chinesas que entram Brasil sejam ilegais. "O quilo de rolamentos custa entre US$ 13 e US$ 17 no mercado internacional. O produto chinês pelo mercado negro custa US$ 0,74". A explicação clássica para os preços tão baixos é o tratamento sub-humano da mão-de-obra. Mas a mão-de-obra é só parte do custo do produto e, segundo Sousa, no caso dos rolamentos, US$ 0,75 não paga a matéria-prima.
Outra explicação é que a indústria chinesa da cópia não precisa recuperar o dinheiro empregado na pesquisa, no design e no investimento, embutido no preço final. "O mercado doméstico de automóveis é muito grande. Por enquanto a estratégia da empresa é a venda interna e ainda estamos recebendo investimentos", afirma Gu Lina, que recebe visitantes estrangeiro na fábrica da Volkswagem, em Xangai.
O Santana é o modelo mais popular que a Volks fabrica na China e custa, em média, US$ 15 mil. Mas uma guerra de preços deflagrada no mês passado levou as montadoras a oferecer descontos substanciais. A Volks reduziu o preços dos modelos do Santana entre US$ 500 a US$ 1.500. Os desconto da General Motors para o Buick sedan chega a US$ 1.200.

Bicicletas
Há dez anos, as bicicletas eram o principal veículo na China. Só no ano passado, as montadoras colocaram mais de 7 milhões de automóveis em circulação. Yale Zhang, diretor da GDS China Veículos, estima que neste ano 52 novos modelos vão entrar em circulação. Todas as grandes montadoras, das americanas às japonesas, têm redes de distribuição na China (Volks, GM, Toyota, Ford, Ranault, Peageut, Hyundai, etc..). Para entrarem, são obrigadas a fazer joint ventures com as montadoras locais. As maiores são a Saic e a FAW, sócias da VW e da GM. Para a Anfavea (Associação Nacional do Fabricantes de Veículos Automotores), o governo brasileiro tem que ter políticas fiscais, tecnológicas e melhorar a infra-estrutura para se preparar para a concorrência.

A repórter CLÁUDIA DIANNI viajou a Cingapura a convite do IEL (Instituto Euvaldo Lodi)

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