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Subir juro não é a única alternativa, afirma Appy
Para Fazenda, elevar taxa pode provocar efeitos como a valorização maior do real
Em resposta a Marcos Lisboa, secretário de Política
Econômica diz que governo tem outros instrumentos
para conter a demanda
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, não concorda com as críticas feitas pelo
economista Marcos Lisboa, em
entrevista publicada pela Folha no último domingo. Lisboa,
que ocupou a mesma cadeira
de Appy no governo e hoje é diretor do Unibanco, manifestou
preocupação com as freqüentes intervenções da Fazenda na
economia e disse que o melhor
instrumento para combater a
inflação sem comprometer o
crescimento é a alta do juro.
Appy disse que o governo
tem de analisar todos os instrumentos de que dispõe e avaliar
seus custos e benefícios e, dependendo do momento, um ou
outro pode ser mais adequado.
A seu ver, o governo não errou
ao ter optado por instrumentos
regulatórios, como a alta do
IOF (Imposto sobre Operações
Financeiras), em vez de ter
adotado o instrumento padrão,
a elevação do juro. Leia trechos
da entrevista.
FOLHA - Por que não aumentar o
juro?
BERNARD APPY - O governo, na
condução da política econômica, tem instrumentos mais tradicionais de contenção da demanda, como a política monetária, e instrumentos regulatórios mais finos, como é o caso
do aumento do IOF sobre o crédito. É preciso saber analisar os
custos e benefícios de cada um
desses instrumentos, tanto do
ponto de vista de eficiência macroeconômica como microeconômica. Muitas vezes, quando
você adota o uso de algum instrumento, você sabe que terá
um custo. Na hora em que você
amplia o IOF sobre a pessoa física, como se fez no início do
ano, algumas pessoas podem
criticar a medida por não considerarem o melhor instrumento
possível, mas, se a alternativa é
subir os juros, é preciso que se
levem em conta outros fatores.
FOLHA - Que outros fatores?
APPY - A elevação dos juros pode provocar efeitos colaterais,
principalmente de ordem macroeconômica, e não em termos de eficiência microeconômica. Num momento em que
os Estados Unidos estão num
processo de forte redução dos
juros, a elevação da taxa pode
ampliar o fluxo cambial no país
e aumentar a valorização do
real. Ou seja, você pode, dessa
forma, aumentar a instabilidade econômica. Essa não é uma
avaliação nossa, do governo, da
equipe econômica, mas da própria revista "The Economist"
da semana passada [retrasada].
A avaliação da revista foi que os
emergentes terão mais dificuldades de usar a política antiinflacionária ao longo dos próximos meses em razão da forma
como está sendo dirigida a política monetária nos Estados
Unidos. É por isso que a questão está na escolha dos instrumentos de política econômica.
Muitos instrumentos podem
ser desejados em termos de eficiência macroeconômica no
curto prazo, mas podem não
ser o ideal do ponto de vista microeconômico.
FOLHA - O sr. é contra subir juro?
APPY - Não estou dizendo que
o governo não deva utilizar a
política monetária como instrumento de política econômica. O que estou dizendo apenas
é que, na gestão da política econômica, devem ser analisados
os custos e benefícios de cada
um dos instrumentos, sejam
eles regulatórios, como o IOF,
sejam eles padrões, como a política monetária. O governo sabe que o uso inadequado dos
instrumentos regulatórios pode ter efeitos negativos de longo prazo. A grande questão é
encontrar a calibragem ideal.
Há riscos numa gestão inadequada de instrumentos regulatórios? Sim. Isso significa que
não devam ser utilizados? Não.
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