São Paulo, domingo, 06 de abril de 2008

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Subir juro não é a única alternativa, afirma Appy

Para Fazenda, elevar taxa pode provocar efeitos como a valorização maior do real

Em resposta a Marcos Lisboa, secretário de Política Econômica diz que governo tem outros instrumentos para conter a demanda

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, não concorda com as críticas feitas pelo economista Marcos Lisboa, em entrevista publicada pela Folha no último domingo. Lisboa, que ocupou a mesma cadeira de Appy no governo e hoje é diretor do Unibanco, manifestou preocupação com as freqüentes intervenções da Fazenda na economia e disse que o melhor instrumento para combater a inflação sem comprometer o crescimento é a alta do juro.
Appy disse que o governo tem de analisar todos os instrumentos de que dispõe e avaliar seus custos e benefícios e, dependendo do momento, um ou outro pode ser mais adequado. A seu ver, o governo não errou ao ter optado por instrumentos regulatórios, como a alta do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), em vez de ter adotado o instrumento padrão, a elevação do juro. Leia trechos da entrevista.

 

FOLHA - Por que não aumentar o juro?
BERNARD APPY
- O governo, na condução da política econômica, tem instrumentos mais tradicionais de contenção da demanda, como a política monetária, e instrumentos regulatórios mais finos, como é o caso do aumento do IOF sobre o crédito. É preciso saber analisar os custos e benefícios de cada um desses instrumentos, tanto do ponto de vista de eficiência macroeconômica como microeconômica. Muitas vezes, quando você adota o uso de algum instrumento, você sabe que terá um custo. Na hora em que você amplia o IOF sobre a pessoa física, como se fez no início do ano, algumas pessoas podem criticar a medida por não considerarem o melhor instrumento possível, mas, se a alternativa é subir os juros, é preciso que se levem em conta outros fatores.

FOLHA - Que outros fatores?
APPY
- A elevação dos juros pode provocar efeitos colaterais, principalmente de ordem macroeconômica, e não em termos de eficiência microeconômica. Num momento em que os Estados Unidos estão num processo de forte redução dos juros, a elevação da taxa pode ampliar o fluxo cambial no país e aumentar a valorização do real. Ou seja, você pode, dessa forma, aumentar a instabilidade econômica. Essa não é uma avaliação nossa, do governo, da equipe econômica, mas da própria revista "The Economist" da semana passada [retrasada].
A avaliação da revista foi que os emergentes terão mais dificuldades de usar a política antiinflacionária ao longo dos próximos meses em razão da forma como está sendo dirigida a política monetária nos Estados Unidos. É por isso que a questão está na escolha dos instrumentos de política econômica. Muitos instrumentos podem ser desejados em termos de eficiência macroeconômica no curto prazo, mas podem não ser o ideal do ponto de vista microeconômico.

FOLHA - O sr. é contra subir juro?
APPY
- Não estou dizendo que o governo não deva utilizar a política monetária como instrumento de política econômica. O que estou dizendo apenas é que, na gestão da política econômica, devem ser analisados os custos e benefícios de cada um dos instrumentos, sejam eles regulatórios, como o IOF, sejam eles padrões, como a política monetária. O governo sabe que o uso inadequado dos instrumentos regulatórios pode ter efeitos negativos de longo prazo. A grande questão é encontrar a calibragem ideal. Há riscos numa gestão inadequada de instrumentos regulatórios? Sim. Isso significa que não devam ser utilizados? Não.


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