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Alta no preço da soja já gera contenciosos milionários em MT
Diferença entre a cotação da oleaginosa no período de venda antecipada e a atual leva produtores e compradores à Justiça
No ano passado, vendas antecipadas foram feitas
a US$ 7,50 por saca; após disparada, soja ficou entre US$ 23 e US$ 28 por saca
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A explosão de preços das
commodities agrícolas já provoca contenciosos milionários
entre produtores e compradores que fecharam contratos de
compra e venda antes do forte
movimento de alta.
Alguns produtores chegaram
a fazer vendas antecipadas a valores próximos a US$ 7,50 por
saca de soja no ano passado.
Após a disparada de preços, a
oleaginosa ficou entre US$ 23 e
US$ 28 por saca, dependendo
da região. Ou seja, uma diferença superior a 200%.
Há um ano, a soja estava a
US$ 7,61 por bushel (27,2 quilos) para o primeiro contrato
na Bolsa de Chicago. Na sexta-feira, foi negociada a US$ 12,77.
É com base nessa diferença que
produtores e compradores que
fecharam negócios antecipados
estão em disputa.
Na semana passada, a Justiça
paulista ordenou que a Vanguarda do Brasil, uma das
maiores produtoras do ramo,
cumpra contrato de entrega,
em dez dias, de 29,35 mil toneladas de soja com a trading
multinacional Noble, sob pena
de multa diária de R$ 14,04 mil.
A Vanguarda alega que não tem
obrigação de entregar.
Após a realização do contrato
entre Vanguarda e Noble Brasil
Ltda., em julho do ano passado,
o preço da soja disparou, até
atingir, há um mês, o valor recorde de US$ 15,44 por bushel.
A Vanguarda, de Nova Mutum (MT), é presidida pelo deputado estadual Otaviano Olavo Pivetta (PDT-MT). Uma das principais produtoras de grãos
do país, cultiva cerca de 200 mil
hectares entre terras próprias e
de terceiros. Centrada basicamente em Mato Grosso, começa a montar um braço forte de
produção na Bahia, onde acaba
de adquirir 100 mil hectares.
A venda da Vanguarda, assumida por meio da emissão de
CPR (Cédula de Produto Rural), segundo argumentou a
Noble na Justiça, seria feita
com volume de 4.900 toneladas mensais, em seis meses seguidos, a partir de abril. Em setembro, a entrega seria de
4.850 toneladas.
A Noble colocaria US$ 5 milhões à disposição da Vanguarda para cobrir custos de produção. Desse montante, US$ 3,01
milhões foram antecipados para a compra de adubos e fertilizantes.
Luiz Valdemar Albrecht, advogado da Vanguarda, afirma
que o contrato com a Noble não
caracteriza uma CPR, que exigiria o pagamento antecipado
pela soja negociada.
"A Noble não pagou por esse
produto. Ela quer uma coisa
que não comprou e não pagou",
diz Albrecht. Segundo ele, a antecipação de US$ 3,01 milhões
foi um "empréstimo".
O contrato, feito em julho de
2007, estipulava que a soja viria
de três unidades de produção
da Vanguarda: as fazendas Santa Fé e Ribeiro do Céu, ambas
em Nova Mutum, e Ferronato,
em Sinop (MT).
Preocupada com a possibilidade da não-entrega da soja, a
Noble contratou a Control
Union Warrants Ltda., empresa especializada em monitoração de lavouras no mundo, que
constatou que 6.158 toneladas
já haviam sido retiradas das
áreas dadas à Noble em penhor
pela Vanguarda.
Segundo a avaliação da Control, a soja estava indo para armazéns da Bunge, em Nova
Mutum, e da Amaggi, em Novo
Horizonte (MT).
Contratos
Um dos motivos do desentendimento entre as empresas
é um contrato de vendas antecipadas. Nesse contrato, a Vanguarda teria acertado preços
inferiores a US$ 7,50 por saca
-valores vigentes na época e
que tinham por base Chicago.
Os contratos de antecipação
de vendas são comuns entre os
produtores, que garantem antecipadamente um valor para a
sua produção. Em 2007, no entanto, houve uma reviravolta
no mercado de commodities,
com os preços subindo a patamares não imaginados nem pelos analistas mais otimistas.
A soja que está sendo colhida
neste ano começou a ser negociada a valores próximos a US$
7,50 e a US$ 8 por saca em
2007, quando os produtores
ainda nem tinham iniciado o
plantio. Há poucas semanas,
variou de US$ 23 a US$ 28.
Diante dessas oscilações,
muitos produtores deixaram
de receber um valor maior pelo
produto. Mesmo assim, estão
honrando esses compromissos
de vendas antecipadas, ao contrário do que ocorreu em 2004,
quando houve grande número
de rompimento de contratos.
As quebras de contrato daquele ano geraram falta de crédito no setor, já que parte dos
financiamentos é feita pelas
próprias tradings.
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