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Gás no Brasil é um dos mais caros do mundo
Combustível é vendido à indústria por mais que o dobro do valor em relação a países como EUA, Reino Unido e México
Indústria contesta fórmula de composição de preço da
Petrobras; setores em que
o gás tem grande peso
no custo fecham fábricas
Leonardo Wen/Folha Imagem
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Indústria de pisos e revestimento no interior de SP; setor ceramista fecha unidades e corta investimentos em razão do preço do gás
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O gás natural consumido pela indústria brasileira, produzido no país e na Bolívia, já é um
dos mais caros do mundo. O
preço, em São Paulo, atingiu
mais que o dobro do valor negociado em países desenvolvidos
como os EUA e o Reino Unido.
E quase o triplo em relação ao
insumo comprado em nações
em desenvolvimento como o
México, segundo dados da empresa de embalagens de vidro
Owens-Illinois, a maior do
mundo. A pesquisa inclui ainda
países da Europa continental,
do Oriente Médio e Venezuela.
Só em 2008, em São Paulo, o
preço do gás natural subiu
60,7%, segundo a indústria.
Empresas em que o combustível tem grande peso no custo
vivem dificuldade, agravada pela queda nas encomendas em
razão da crise. Companhias do
polo cerâmico de Santa Gertrudes (SP), o maior do país, fecharam as portas, o parque vidreiro perde competitividade para
exportar e a expansão da produção de fertilizantes está
ameaçada. Tradicionais consumidores de gás consideram voltar ao uso do óleo, em muitos
casos combustível mais barato
-e mais poluente.
O setor industrial pediu intermediação do Ministério de
Minas e Energia para abrir o
que considera uma "caixa-preta" da política de preços do insumo. Sem resposta, a indústria diz que a tarifa de gás no
Brasil é usada para bancar parte dos US$ 174,4 bilhões de investimentos da estatal entre
2009 e 2013 previstos no PAC
(Programa de Aceleração do
Crescimento), daí a pouca disposição do governo em intermediar negociações que visem
baixar o preço do insumo.
Cesta
A "caixa-preta" a que a indústria se refere está na parcela de
40% do preço final do gás nacional vendido pela Petrobras.
Sobre essa fatia não estão atreladas nem a variação do câmbio
nem as oscilações da cesta de
óleo combustível (insumo concorrente do gás na indústria).
Hoje, a variação internacional
dessa cesta de óleos é a que corrige trimestralmente 100% do
gás importado da Bolívia, além
da fatia de 60% do gás nacional.
A Petrobras diz que a parcela
de 40% do preço do gás produzido no Brasil se refere ao custo
da expansão da infraestrutura
de gás natural do país e serve
para financiar investimentos
da estatal. Sua correção se dá
pelo IGP-M.
Enquanto isso, os preços em
importantes praças de consumo do insumo em São Paulo e
no Rio de Janeiro chegam, respectivamente, a US$ 12,36 e
US$ 10,30 por milhão de BTU
-unidade térmica britânica que
mede o poder calorífico do combustível. Esse é o preço pago pela indústria a distribuidoras, como a Comgás e a CEG, no Rio. O
valor inclui a margem da distribuidora, o valor pago à estatal
pela molécula (o gás) e o transporte. O valor médio recebido
pela Petrobras é de US$ 7 por
milhão de BTU.
Na Nymex, Bolsa mundial para transações de contratos futuros e opções de commodities
metálicas e fósseis (entre elas o
gás natural), o preço era de
US$ 3,729 por milhão de BTU
na sexta-feira. O preço médio
dos contratos para 2009 é de
US$ 4,41 por milhão de BTU. A
ele deve ser adicionado cerca de
US$ 1 por milhão de BTU para
transporte e distribuição.
Diante da pressão de custo,
setores como vidro, cerâmica,
siderurgia e papel perdem competitividade e cortam a produção pela concorrência com importados, segundo a Abrace (associação de grandes consumidores de energia).
Em todos esses ramos, o gás
representa de 20% a 30% do
custo final dos produtos. Nos
EUA, o preço para os consumidores industriais está em US$
5,30; na Europa (Alemanha,
França, entre outros países), em
US$ 6,50; e, no México, em US$
4,70 por milhão de BTU. No exterior, o preço que é pago pela
indústria segue mais de perto a
cotação de mercado do gás
-que caiu, em razão do desaquecimento econômico.
Com tal disparidade, alguns
setores já diminuíram a produção e sofrem com a invasão de
produtos importados, segundo
Ricardo Lima, presidente da
Abrace. De acordo com dados
da Secretaria de Comércio Exterior, as importações de produtos químicos saltaram 68% no
primeiro bimestre deste ano,
apesar da desaceleração da economia. No aço, a expansão foi de
23%. No setor de papel, de 10%.
"Neste momento de crise, é
preciso uma ampla discussão
para baixar o preço do gás e não
prejudicar ainda mais a competitividade da indústria brasileira", diz Lima. Lucien Belmonte,
superintendente da Abividro
(associação das indústrias de vidro), concorda: "É impossível
competir com o gás absurdamente caro como está. O gás, sozinho, corresponde a 30% do
custo do vidro, que já sofre com
a parada da construção civil".
O assunto é investigado em
inquérito aberto pelo Ministério Público Federal em São Paulo, no Rio e em Brasília. O MPF
apura se o monopólio da Petrobras representa hoje risco à
competitividade da indústria.
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