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São Paulo, terça-feira, 06 de maio de 2003

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PROTECIONISMO

Para produtores, importação da China com subsídio barra vendas

Encalhe de alho pode custar R$ 50 mi

Susi Padilha/"Diário Catarinense"
Galpão com alho estocado em Lages (SC); agricultores afirmam que, se produção quebrar, 30 mil empregos podem ser perdidos


CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O encalhe de 1,5 milhão de caixas de alho no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina pode causar um prejuízo de cerca de R$ 50 milhões para os Estados, de acordo com a Anapa (Associação Nacional dos Produtores de Alho).
A comercialização está estagnada há cinco meses e, segundo os produtores, o alho tem que ser vendido nos próximos 20 dias ou será perdido.
O principal motivo apontado para o alto volume estocado é a concorrência com o produto chinês, que chega ao Brasil a preços mais baixos. No ano passado o Brasil importou 133% a mais do que em 2001.
"Não somos competitivos, especialmente contra o produto chinês, que tem subsídio", diz Gilmar Dallamaria, presidente da Anapa. Enquanto o alho chinês é ofertado a um custo total de US$ 5 a US$ 6 (R$ 15,2 e R$ 18,2) a caixa de 10 kg- preço do produto pago no galpão do importador-, o brasileiro custa US$ 8 (R$ 24,32).
Porém o presidente da Ania (Associação Nacional dos Produtores de Alho), Adilson Duarte, afirma que, após a aplicação da taxa antidumping, o alho chinês fica mais caro que o brasileiro (entre R$ 31 e R$ 32). "Compramos alho chinês porque a qualidade é superior", afirma.

Prejuízo social
A cultura de alho é uma atividade na qual predominam as pequenas propriedades -1,2 hectare, em média-, sobretudo as de mão-de-obra familiar.
"Pior que o prejuízo financeiro é o social. Há muitos trabalhadores que dependem da atividade. Se os produtores quebrarem, 30 mil empregos poderão ser perdidos só no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina", diz Dallamaria.
Segundo a Anapa, nos principais Estados produtores -Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal e Bahia- a cultura gera 100 mil empregos diretos e é a principal fonte de renda de 12 mil famílias.
Esse é o caso de Euclides Marcon, 59, produtor em Curitibanos (SC). "Eu vivo do alho, mas a minha produção está toda estocada. Mesmo oferecendo o produto abaixo do custo de produção [R$ 2,50, o quilo", não consegui vender quase nada", diz.
O agricultor catarinense estima que possa ter um prejuízo de R$ 200 mil nesta safra. "Por sorte, não pedi financiamento em bancos, mas me descapitalizei completamente. Não sei como farei no próximo plantio [em junho"."
Para o presidente da Câmara de Comércio , Charles Tang, a alternativa para esses produtores seria se voltar para outra atividade. "Eles poderiam ganhar dinheiro com a China, investindo na produção de aves, por exemplo, que têm ótima aceitação no mercado chinês", diz. Tang afirma que o governo chinês pode rever a abertura para a importação de carne do Brasil caso a taxa antidumping não acabe.

Justiça
A polêmica entre importadores e produtores de alho foi levada ao Ministério da Agricultura.
Na semana passada, as duas correntes se encontraram com o secretário de Política Agrícola do ministério, Ivan Wedekin, em Brasília. A primeira medida acertada foi a criação de um grupo para verificar os estoques no Sul.
As visitas devem começar até o final desta semana.


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