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OPINIÃO ECONÔMICA
Recuperar a Varig
GESNER OLIVEIRA
O Brasil não pode se dar ao
luxo de destruir empregos,
capital, impostos e, sobretudo,
marcas de penetração internacional. Muito menos quando se
trata de empresa de transporte
aéreo que ocupa posição estratégica na distribuição de rotas de
interesse para o país.
Como membro do Conselho de
Administração da Varig, havia
optado até agora por não escrever sobre o tema na coluna. Mas,
diante da gravidade da situação
e do grau de desinformação de
algumas manifestações sobre o
assunto, prefiro submeter minha
opinião ao leitor.
É absurda a idéia de que o governo não deveria ajudar a Varig
sob pretexto de "proteger os recursos públicos" e "dar uma solução de mercado". É exatamente
em defesa do interesse público, do
dinheiro do contribuinte e do
próprio mercado que o governo
não pode se omitir. Isso se deve a
sete razões.
Em primeiro lugar, a empresa
se encontra em regime de recuperação judicial desde junho de
2005. A lógica da nova legislação
é propiciar uma oportunidade de
reestruturação, permitindo a
continuidade de suas atividades
em novas bases. A legislação contém incentivos para que os credores e devedores superem os problemas de coordenação e encontrem uma solução viável do ponto de vista econômico. No caso da
Varig, o setor público é o maior
credor. Os créditos do governo representam cerca de 64% do total
da dívida contratada. Portanto,
a posição de "deixar quebrar" a
empresa é um tiro no pé. Equivale a destruir ativos do setor público.
Em segundo lugar, uma solução para a crise resolveria ao
mesmo tempo o acúmulo de obrigações que a companhia detém
contra o setor público. Não faz
sentido interromper a atividade
de uma empresa que detém direitos da ordem de R$ 4,5 bilhões
por conta de defasagem tarifária
e créditos de ICMS da ordem de
R$ 1,3 bilhão.
Em terceiro lugar, ao deixar
paralisar uma empresa do porte
da Varig, o governo deixa de recolher impostos de cerca de R$
1,28 bilhão anual referente a serviços prestados a quase 13 milhões de passageiros apenas em
2005.
Em quarto lugar, é errado afirmar que a cadeia de atividades
promovida pela Varig seria restabelecida pelas concorrentes. A
razão é simples. No plano doméstico, o mercado teria outra estrutura. Seria mais concentrado e,
como resultado, haveria menor
oferta e maiores preços em prejuízo do consumidor. No plano
mundial, o país perderia para
empresas estrangeiras a malha
de linhas internacionais conquistada a duras penas nas últimas
cinco décadas.
Em quinto lugar, o Brasil perderia enorme fonte geradora de
divisas em serviços. As vendas de
passagens aéreas no exterior representam ingresso anual da ordem de US$ 1,2 bilhão, algo equivalente à exportação de óleo de
soja em 2005. Isso sem contar o
mecanismo de promoção comercial que uma empresa aérea nacional como a Varig representa.
Em sexto lugar, é errôneo afirmar que os problemas atuais se
devem exclusivamente a erros de
estratégia empresarial e de gestão. Estes últimos ocorreram.
Mas os problemas da empresa
também decorrem de uma sucessão de falhas regulatórias e omissões de várias administrações. Isso inclui a incidência indevida de
tributos, controle de preços artificiais, distribuição sem critérios
de linhas internacionais, ausência de marco regulatório adequado, interferência direta nas decisões empresariais, entre outros
problemas. Além disso, em nenhum país sério o Estado deixou
de intervir para atenuar os efeitos de choques externos sobre a
indústria de aviação civil.
Por fim, uma ação governamental criteriosa neste momento
não estaria socorrendo antigos
controladores. A atual recuperação judicial já prevê a assembléia
de credores como instância de decisão. Uma nova Varig recuperada terá composição e organização societárias distintas, propiciando a continuidade dos empregos e serviços prestados pela
companhia.
A recuperação da Varig é possível. Mas isso pressupõe superar a
dificuldade de caixa até a constituição dos fundos de investidores
previstos no plano de recuperação. Uma ação do BNDES nesse
sentido pouparia recursos públicos e seria benéfica ao mercado.
Gesner Oliveira, 49, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), presidente do Instituto Tendências e ex-presidente do Cade. Atualmente, é professor visitante do Centro
de Estudos Brasileiros na Universidade
Columbia (EUA).
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
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