São Paulo, domingo, 06 de maio de 2007

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Apesar de câmbio, indústria gera emprego
Entre 2005 e o ano passado, 71 segmentos criaram vagas de trabalho formais, contra 14 que fecharam, aponta estudo

Para economista, indústria vive fase de "adaptação competitiva", com alguns segmentos que já reagem à concorrência externa

VALDO CRUZ
JULIANNA SOFIA

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A despeito do câmbio baixo e da conseqüente concorrência de importados, há mais setores hoje na indústria gerando empregos do que cortando vagas.
Entre 2005 e 2006, 71 segmentos industriais podem ser classificados de criadores de empregos, favorecidos pelos efeitos positivos da inflação baixa e até mesmo do aumento das importações. Na outra ponta, 14 setores figuram na lista dos considerados destruidores de vagas no período -metade do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando foram observadas a valorização do real e a alta das compras externas.
O levantamento consta de estudo elaborado pelo economista Octavio de Barros, diretor de pesquisas macroeconômicas do Bradesco, para debater se há tendência de "destruição de empregos na indústria".
Analisando apenas os números dos 14 setores classificados de destruidores de empregos, foram cortadas nos dois últimos anos 54.765 vagas de trabalho formais. Já os criadores de empregos abriram no mesmo período 495.513 postos.
"Esses dados mostram que a tese da destruição de empregos industriais é questionável. Prefiro dizer que estamos numa fase de adaptação competitiva, alguns setores estão de fato sofrendo, mas outros, reagindo", diz Octavio de Barros.
Segundo ele, várias empresas aumentaram suas importações e observaram crescimento de produção e abertura de novas vagas. "O mesmo não aconteceu com setores que sofrem competição direta de alguns importados, mas até aí há medidas de reação."
O estudo aponta como destruidores de empregos setores que demitiram nos dois anos e os que criaram vagas em 2005, mas cortaram em 2006. Na lista estão a indústria têxtil, de calçados, madeira, tratores e máquinas agrícolas, além de adubos e fertilizantes.
São segmentos atingidos pelo aumento da concorrência externa, por conta do dólar baixo, e por problemas pontuais como a estiagem registrada principalmente na região Sul.

Proteção
Na tentativa de proteger esses setores e seus empregados, o governo vem adotando desde 2006 uma série de medidas. Linhas de crédito com recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) foram abertas no ano passado para beneficiar os setores de máquinas agrícolas, móveis e calçados.
No final de abril, o governo também decidiu elevar a TEC (Tarifa Externa Comum) de dois produtos -calçados e confecções- para 35%, que é o nível máximo. Apesar de aplaudida pelos dois setores, a medida foi fortemente criticada por gerar ineficiências na indústria.
Para o coordenador de Política Econômica da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Flávio Castelo Branco, é surpreendente haver setores da indústria cortando vagas. "Em plena onda de aquecimento da economia mundial e no terceiro ano seguido de expansão do PIB [Produto Interno Bruto] brasileiro em níveis mais aceitáveis, isso me surpreende", declarou.
Os criadores de vagas (inclui quem cortou em 2005, mas contratou em 2006) se beneficiaram da expansão do consumo interno e do aumento dos preços internacionais das commodities. Exemplos: alimentos e bebidas, farmacêutica e perfumaria, máquinas e equipamentos, siderúrgica e extrativa.
Ex-presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o professor Glauco Arbix diz que a indústria nacional viveu nos anos 90 e início de 2000 uma melhora na capacidade produtiva que não foi registrada por boa parte dos economistas, que erraram nas previsões de que a exportação iria cair com o real valorizado.


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