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Lojas passam a testar sacolas biodegradáveis
Grandes redes varejistas começam a distribuir embalagens que se degradam ao entrar em contato com ar, luz e umidade
Especialistas na área do ambiente afirmam que
produto pode agravar
a poluição e contribuir
para o efeito estufa
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os consumidores que foram
recentemente ao Wal-Mart de
Tamboré, região metropolitana de São Paulo, empacotaram
suas compras com uma novidade: sacolas plásticas biodegradáveis. Em fase de testes, as novas embalagens foram adotadas pela rede americana depois
que uma lei do município de
São Paulo, tornando obrigatória seu uso, foi aprovada em primeira votação.
Apesar de ainda precisar passar por uma segunda votação
na Câmara de Vereadores e pela sanção do prefeito Gilberto
Kassab, todas as grandes redes
varejistas têm estudado sua
adoção em escala nacional. O
Wal-Mart deve oferecê-las em
suas 302 lojas até o final deste
ano. O Pão de Açúcar testou-as
no ano passado em sua loja no
Real Parque, bairro da zona
oeste de São Paulo, e o Carrefour também está trabalhando
no assunto.
Com um aditivo em sua composição, essas sacolas se degradam três meses após serem expostas à luz, ao calor e à umidade. O que poderia ser comemorado como um grande ganho
contra a poluição, no entanto,
vem sendo apontado por especialistas como a criação de um
novo problema ambiental.
"Lobby irresponsável"
"Essa lei é um lobby irresponsável", afirma Eloísa Garcia, gerente do grupo de ambiente do Cetea (Centro de Tecnologia de Embalagem), do
Ital (Instituto de Tecnologia de
Alimentos), órgão ligado à Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo. "Há um risco
grande de contaminação dos
alimentos embalados e muito
maior ainda de poluição do ambiente."
Isso porque, explica Garcia,
as micropartículas resultantes
da degradação do plástico podem ser absorvidas por rios e
por lençóis freáticos. Como recebem pigmentos e minerais
pesados durante a impressão,
contribuiriam de maneira
agressiva para a poluição do
ambiente. Em aterros, também
produziriam gás metano, um
dos maiores responsáveis pelo
efeito estufa.
"O fato de um material ser
biodegradável não quer dizer
que ele seja bom para o ambiente", afirma Garcia. "O Tietê
está cheio de líquidos biodegradáveis e é um rio morto."
Outro argumento usado por
especialistas contra as sacolas é
que o plástico biodegradável
deseducaria a população. Ao saber que as sacolas se degradam,
as pessoas não se preocupariam mais com a reciclagem e
teriam de comprar mais plástico para usar como recipiente de
lixo. Além disso, o plástico biodegradável teria o poder de
"contaminar" outros plásticos
destinados à recompostagem.
"Também há uma preocupação sobre a manutenção da
propriedade dos alimentos",
afirma Luciana Pellegrino, diretora-executiva da Abre (Associação Brasileira de Embalagem). "As pessoas costumam reusar os saquinhos e podem
contaminar os alimentos."
Preocupação da lei
O autor da lei, o vereador Arselino Tatto (PT), diz desconhecer estudos que comprovem os benefícios -ou malefícios- das sacolas biodegradáveis. Segundo ele, a preocupação da lei é tirar da natureza o
plástico, que leva dezenas de
anos para se degradar.
"A lei diz que a degradação
não pode ser danosa ao ambiente", diz Tatto. "Se o plástico
for mesmo danoso ao ambiente, a indústria que se vire para
arrumar outra alternativa",
afirma o vereador.
As redes varejistas afirmam
que esperam os laudos das autoridades competentes antes
de adotar o uso das sacolas.
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