São Paulo, terça-feira, 06 de maio de 2008

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BCs vêem crise mais fraca e países emergentes mais fortes

DO ENVIADO A BASILÉIA

A economia mundial começa a ver uma luz no fim do túnel. Embora ainda não se arrisquem a dizer que o pior já passou, essa foi a mensagem transmitida ontem por algumas das principais autoridades monetárias do planeta, demonstrando um otimismo que estava ausente em seu encontro anterior, em março. Na época, uma recessão forte nos Estados Unidos parecia inevitável.
Reunidos em Basiléia, na Suíça, presidentes dos bancos centrais, entre eles o do brasileiro, Henrique Meirelles, sinalizaram que o crescimento econômico mundial continua significativo, em grande parte graças ao bom desempenho dos países emergentes, entre eles o Brasil. Ao mesmo tempo, alertaram de que há um outro perigo à espreita, do qual nenhum país está imune, o da inflação.
"O crescimento global continua significativo, apesar da desaceleração observada em alguns países industrializados", disse o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, falando em nome dos banqueiros. "Graças à notável resistência de grande número de economias emergentes, nós vemos contínuo crescimento em nível significativo, ainda que menor que em 2007."
Trichet, que há meses vem citando o risco da inflação ao resistir às pressões para que reduza os juros na zona do euro, disse que a disparada global nos preços dos alimentos e do petróleo aumentou o perigo.
"Os riscos inflacionários são significativos, o que é percebido em todas as economias, sem exceção", disse Trichet. "Estão tão presentes nas economias emergentes como no mundo desenvolvido."
A conclusão dos banqueiros reunidos na Suíça, afirmou Trichet, é a de que não há espaço para "complacência" no combate à inflação, sobretudo em um momento em que as matérias-primas batem recordes de preços. A boa notícia é que a crise financeira dá sinais de arrefecimento. "Um número de indicadores nos sugere que as tensões estão aliviando progressivamente", disse Trichet.
Henrique Meirelles confirmou que houve uma mudança de foco desde a última reunião realizada no Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), em março. Para ele, ainda há risco de uma "recessão profunda" nos EUA, mas menor que há dois meses. "O cenário é de muito mais serenidade, não há dúvida", disse Meirelles.
Segundo o presidente do BC brasileiro, com a melhora na atividade econômica mundial, a preocupação com a inflação esteve em primeiro plano na reunião do BIS.
"Houve um consenso de que os BCs devem estar preparados para evitar que um processo inflacionário se instale, tal qual ocorreu na década de 1970, quando houve o choque do petróleo. Naquela oportunidade, o controle da inflação, depois de instalada, foi muito custoso para os países", disse ele.
Meirelles atribuiu a relativa recuperação dos mercados de crédito à intervenção das autoridades monetárias dos países mais atingidos. De acordo com ele, ao contrário das incertezas que persistem no mercado imobiliário, "os mercados financeiros começam a dar sinais de estabilização". (MN)


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