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País estuda criar estatal para lixo nuclear
Empresa cuidaria de depósito permanente para o combustível usado nas usinas; leilão definirá município de localização
Proposta está sendo discutida por grupo de oito ministros; governo daria compensação financeira a
cidade que abrigar depósito
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo estuda a criação
de uma empresa estatal para
cuidar do lixo nuclear no país.
Segundo a proposta discutida
por grupo de oito ministros encarregado da revisão do Programa Nuclear Brasileiro, a nova
estatal vai operar um depósito
permanente para o combustível usado nas usinas, adiantou à
Folha o ministro Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia).
O governo espera atrair o interesse de municípios para
abrigar o lixo atômico mediante o pagamento de compensação financeira, semelhante aos
royalties pagos pela exploração
de petróleo. O município será
escolhido mediante leilão.
Atualmente, o combustível
usado nas usinas em operação
no país, classificado de rejeito
de alto nível de radioatividade,
é retirado dos reatores e armazenado em piscinas de resfriamento no interior de Angra 1 e
2. Com poder de emitir radiação ainda por centenas de anos,
esses rejeitos são um dos principais problemas da retomada
do programa nuclear.
Até o final do ano, os ministros concluirão o debate sobre
quantas usinas -entre quatro e
oito- serão construídas depois
de Angra 3. O objetivo do programa é o domínio do ciclo do
combustível nuclear em escala
industrial.
Duas etapas desse ciclo -a
conversão do "yellow cake" (o
concentrado de urânio) para
gás e grande parte do posterior
enriquecimento do urânio-
ainda são feitas no exterior. "O
país tem o domínio tecnológico
completo, mas não tem produção em escala industrial", resume Rezende.
O programa nuclear foi oficialmente retomado há nove
meses, com a decisão de concluir a construção de Angra 3.
O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) prevê para 2014 o início de operação da
terceira usina nuclear brasileira, com potência de 1.350 MW.
A retomada das obras -suspensas em 1986- ainda aguarda a licença prévia do Ibama
(Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). O aval do
órgão ambiental do governo
deverá ser liberado neste mês,
informou à Folha Bazileu Margarido Alves, presidente do instituto.
O passo seguinte será a renegociação, pela Eletronuclear,
dos contratos com a empreiteira Andrade Gutierrez, para as
obras civis, e com a multinacional francesa Areva, responsável pelo fornecimento de equipamentos.
Estudo encomendado à consultoria suíça Colenco estimou
gastos de R$ 7,33 bilhões para
concluir Angra 3. O valor supera o de outra megaobra do PAC,
a transposição do rio São Francisco, e seria suficiente para pagar oito meses de benefícios do
Bolsa Família.
Os R$ 7,33 bilhões não incluem o gastos já feitos na usina, calculados em cerca de R$
1,5 bilhão, segundo Luiz Manuel Messias, superintendente
de gerenciamento de empreendimentos da Eletronuclear.
Grande parte desse custo se
deve à paralisação das obras e à
manutenção de 13 mil toneladas de equipamentos já comprados para Angra 3.
O custo da usina é o mais recente argumento apresentado
pela campanha antinuclear da
ONG Greenpeace contra a retomada das obras. Documento
intitulado "Elefante Branco: os
verdadeiros cursos da energia
nuclear", entregue em março à
direção da Eletrobrás, estima
em R$ 4 bilhões o custo do subsídio oficial necessário -mas
ainda não explicitado- para
sustentar o empreendimento.
A tarifa a ser cobrada pela
energia produzida em Angra 3
deverá ficar próxima de R$ 140
por MW/h, segundo estimativa
preliminar do governo. Esse é
um dos itens da pauta do grupo
de oito ministros que se reúne
desde janeiro para debater a revisão do Programa Nuclear
Brasileiro, sob coordenação da
Casa Civil.
Um dos pontos pacíficos na
discussão é a criação de uma
agência reguladora, que cuidará do licenciamento e da fiscalização das normas de segurança das instalações nucleares.
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