São Paulo, quinta-feira, 06 de maio de 2010

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Protestos na Grécia deixam três mortos

Greve geral é resposta a plano de arrocho fiscal do governo grego, exigência de FMI e UE para liberar dinheiro para o país

Temor de que o pacote de ajuda não seja suficiente e que a crise se espalhe por vizinhos derrubou mercados ontem, arrastando o euro

Aris Messinis/France Presse
Grego joga pedra em policiais, em protesto próximo ao Parlamento

DIOGO BERCITO
EM ATENAS

A greve geral e os protestos ontem em Atenas -contra o plano de arrocho fiscal do governo grego- começaram de forma pacífica, mas rapidamente evoluíram para um confronto violento, que terminou com um saldo de três mortos.
De acordo com autoridades locais, as vitimas estavam em um dos prédios que foram incendiados no centro da cidade, em meio ao clima de confusão que se espalhou pelas ruas e deixou um rastro de lixeiras em chamas, vidraças estilhaçadas e pedras -armas de jovens contra policiais- espalhadas pelo asfalto.
O confronto foi uma resposta ao plano que prevê cortes salariais e aumento de impostos, entre outras medidas, e que deve proporcionar uma economia de até € 30 bilhões aos cofres públicos. O arrocho é uma contrapartida, exigida por FMI e União Europeia, para a liberação do pacote de 110 bilhões que tem como objetivo salvar a endividada e deficitária economia grega de um colapso.
As manifestações haviam começado durante a manhã nas imediações do Parlamento grego, com o comparecimento de cerca de 25 mil pessoas, nos cálculos da policia. Aproximadamente às 15h (9h, no horário de Brasília), os incêndios começaram, mudando as regras do jogo e atraindo repressão por parte do governo.
Carregando bandeiras do KKE (partido comunista) e do Pame (central de trabalhadores), os revoltosos reclamavam, a pedradas e coquetéis molotov, contra o pacote de medidas econômicas encaminhado para votação parlamentar nesta semana pelo primeiro-ministro grego, George Papandreou.
Na avenida Amalias, que passa por importantes atracões turísticas, uma van de uma emissora de televisão foi incendiada e se desfez, sob o olhar de turistas atônitos munidos de suas câmeras fotográficas.
Embaixo do arco de Adriano, do século 2º d.C., um carro pegava fogo, a cinco minutos da entrada da Acrópole ateniense.
Fumaça escura subia das ruas estreitas do centro, e sirenes começavam a tocar, enquanto o comércio baixava as portas.
"Eu entendo que o governo tenha de tomar essas medidas, mas esperava que os políticos tivessem sido honestos antes de a crise chegar a esse ponto", disse à Folha o estudante Nikolas P., 28, sentado na frente do Parlamento, diante de um paredão de policiais.
Ao redor dele, outros manifestantes cobriam os rostos para resistir ao gás lacrimogêneo que afastou momentaneamente o restante dos revoltosos. Entre espirros e olhos ardentes, os jovens defendiam ideias de um pais sem governo.

Ilhas gregas
A situação calamitosa já era esperada em Atenas desde segunda-feira, quando foi anunciada a greve geral de ontem -que fechou prédios públicos e escolas, deixou hospitais com quadros reduzidos e impossibilitou voos internacionais de pousar e decolar na cidade. Os serviços de balsas, que levam os turistas às ilhas gregas, também foram interrompidos.
Sentada em um muro, vigiando sua loja de computadores contra manifestantes descontrolados, Talin Gazerian, 39, não escondia seu descontentamento. "É claro que fui ao protesto de manhã! Ninguém aqui está feliz com a crise!"
Entre os principais alvos dos revoltosos de ontem estavam prédios do governo, como um escritório do Ministério do Turismo no centro, cuja porta de vidro foi despedaçada. Às 16h, uma hora depois da onda de violência, a situação começou a se acalmar, com pedestres e carros voltando às ruas -e bombeiros apagando focos de incêndio. Segundo agências internacionais, a cidade de Thessaloniki, no norte, também enfrentou manifestações.
Com o resgate à economia grega, os países europeus e o FMI pretendem evitar a contaminação de outras economias fragilizadas -como Espanha e Portugal- e a excessiva desvalorização do euro, que ontem fechou com queda de 1%, a US$ 1,2822. Nos últimos três dias, a moeda perdeu mais de 3% ante o dólar, a pior performance desde janeiro de 2009.

FOLHA ONLINE
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