São Paulo, quinta-feira, 06 de maio de 2010

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ARTIGO

Primo pobre da politica econômica

RUBENS BARBOSA
ESPECIAL PARA A FOLHA

As medidas de apoio aos exportadores anunciadas pelo governo são positivas e estão no caminho certo. As decisões, limitadas e setoriais, visam, sobretudo, à facilitação de comércio, à isenção tributária e à devolução de crédito, todas com condicionantes significativas.
A criação do Eximbank, antiga aspiração do setor exportador, talvez seja a medida de maior impacto e, dependendo dos recursos disponíveis e de como for colocada em prática pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), poderá vir a representar respaldo importante.
As providências, porém, não enfrentam as principais causas da perda da competitividade dos produtos brasileiros. O "custo Brasil", resultado da alta carga tributária, das despesas com logística (infraestrutura), juros, burocracia, energia, investimentos e insumos básicos, representa 36% do preço de produção, de acordo com estudo recente da Abimaq. Se acrescentarmos os efeitos da apreciação do câmbio, temos o quadro real das dificuldades dos exportadores.
O aumento expressivo do comércio exterior até 2008 escondeu a vulnerabilidade do setor. As reformas necessárias para reduzir o "custo Brasil" foram deixadas de lado. Assim, a queda das exportações em 2009 não pode ser atribuída apenas à recessão e à desaceleração do consumo de produtos brasileiros no mercado internacional.
No plano doméstico, transpareceram as dificuldades de coordenação e a necessidade de um comando claramente identificado no setor. Não consta que as medidas agora anunciadas tenham sido examinadas pela Camex, o colegiado competente para discuti-las e aprová-las.
A rentabilidade das exportações, tanto de manufaturados quanto de produtos agrícolas, foi em 2009 a menor da história. A crise propiciou a mudança no perfil das exportações brasileiras. Pela primeira vez, desde 1978, a exportação de commodities supera a de produtos manufaturados.
Com a perda da competitividade dos produtos manufaturados, nossas exportações, em 2009, caíram 22,7%, e as importações, 26,4%. As perspectivas para 2010 não são diferentes, prevendo-se uma significativa queda do superavit na balança comercial.
As metas fixadas pelo governo não estão sendo alcançadas, e o Brasil está perdendo mercado no contexto global do comércio exterior, voltando a ser responsável apenas por 1,1% do total das trocas internacionais.
O comércio exterior brasileiro está demandando uma ampla reforma, a partir do fortalecimento da Camex e da coordenação interna, em parceria com o setor privado, com vistas a reduzir o "custo Brasil".
Política industrial, com ênfase na inovação, e nova estratégia de negociação externa poderiam abrir mercados para produtos de alto valor agregado, por meio de acordos de livre comércio, paralisados nos últimos oito anos, por considerações políticas.


RUBENS BARBOSA é presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).


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