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FINANÇAS
BC faz grande troca de títulos para tentar segurar a turbulência que arrasta fundos e pressiona dólar e risco-país
Para conter a crise, BC cede ao mercado
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Banco Central demonstrou
ontem que não quer mais enfrentar o mercado para forçar as instituições financeiras a comprar títulos públicos. De um lado, o BC
desistiu de remunerar o capital
excedente dos bancos a taxas punitivas. De outro, reduziu em até
três anos o prazo dos papéis da dívida do governo, para facilitar a
aceitação dos títulos pelo mercado.
O recuo do BC veio logo após
uma série de eventos negativos
para a economia, acompanhados
de fortes críticas à atuação da instituição. Ao tentar, sem sucesso,
introduzir novo instrumento (o
"swap" cambial) de refinanciamento da dívida interna em dólar,
o BC contribuiu para provocar
elevadas depreciações nos preços
dos papéis do governo federal.
Como consequência da queda
dos títulos, os fundos de investimento tiveram grandes perdas
(até agora estimadas em mais de
R$ 4 bilhões), e as instituições financeiras passaram a evitar comprar papéis públicos.
A autoridade monetária (o BC),
então, tentou forçar os bancos a
voltar a investir nesses títulos
(fundamentais para a rolagem da
dívida interna, atualmente em
mais de R$ 630 bilhões). Além de
o BC não obter o efeito desejado,
as instituições financeiras partiram para a compra de dólares, o
que explica em grande a parte a
recente valorização da moeda
americana, que ontem fechou cotada a R$ 2,609 -alta de 0,46%
em relação ao dia anterior.
Risco Brasil
O nervosismo do mercado refletiu-se também no risco Brasil
-medida de desconfiança dos
investidores em relação à capacidade do país de pagar suas dívidas-, que ontem chegou a 1.127
pontos (o equivalente a 11,27 pontos percentuais de juros acima do
que pagam os títulos do Tesouro
dos EUA).
Na segunda e na terça-feira, o
BC ofereceu apenas 10% ao ano
de remuneração sobre o dinheiro
dos bancos recolhido diariamente
à autoridade monetária em empréstimos de um dia para o outro
("overnight"). Em períodos de
normalidade no mercado, o BC
remunera esse dinheiro a taxas
bem próximas da meta dos juros
básicos da economia (a taxa Selic,
atualmente em 18,5%).
A lógica da operação era influenciar os bancos com excesso
de dinheiro a comprar títulos, que
costumam render juros mais altos
do que a meta da Selic. Ao perceber que sua tática não funcionava,
o BC resolveu aumentar ontem a
remuneração do dinheiro excedente dos bancos para 15%.
Outra preocupação dos bancos
era com o prazo dos papéis. O BC
queria alongar o perfil da dívida
(ou não encurtá-lo), vendendo títulos que venciam além de 2004.
Para acalmar os ânimos do mercado ontem, o BC fez uma troca
maciça de títulos públicos que
vencem de 2004 a 2006 por papéis
com resgate no início de 2003, como queriam as instituições financeiras.
O volume total movimentado
somente pelos leilões de troca de
LFTs-títulos corrigidos pelos juros pós-fixados-foi de R$ 10,9
bilhões. O número surpreendeu o
mercado, que esperava um volume de, no máximo, R$ 6 bilhões.
A atitude do BC foi interpretada
como uma decisão de ceder, em
parte, às pressões do mercado e
de tentar acalmar os investidores,
evitando sangria maior de recursos nos fundos. Entre quarta-feira
da semana passada e a última terça-feira, os saques em fundos DI
(pós-fixados) e de renda fixa já superam os depósitos em, aproximadamente, R$ 4,3 bilhões.
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