UOL


São Paulo, sexta-feira, 06 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EUROPA ESTAGNADA

Na Alemanha, taxa será a menor desde 1875; presidente do banco sugere que pode haver nova redução

BC Europeu decide agir e corta juro para 2%

TONY MAJOR
BETTINA WASSENER
PERONET DESPAIGNES

DO "FINANCIAL TIMES"

O BCE (Banco Central Europeu) cortou ontem as taxas de juros em 0,5 ponto percentual, para 2%, em meio ao crescente pessimismo quanto ao estado da economia na zona do euro. Trata-se da taxa mais baixa já adotada pelo BCE, e os juros para os países da zona do euro serão os menores desde o final da Segunda Guerra.
Enquanto o medo da deflação atinge a Alemanha, os juros no país caíram ao patamar mais baixo desde 1875, quando começaram a ser registradas. O corte já havia sido previstos pelos analistas do mercado financeiro e foi elogiado pelos líderes políticos do continente.
O holandês Wim Duisenberg, presidente do Banco Central Europeu, disse que o nível de consenso entre os diretores da instituição sobre o corte foi "elevado". Afirmou ainda que a possibilidade de um corte ainda maior havia sido "mencionada" durante a reunião do conselho.
Mas o corte na taxa e os comentários sobre um eventual novo corte não bastaram para conter a valorização do euro diante do dólar. A moeda européia teve a maior alta diária dos últimos dois anos, encerrando o dia cotada a US$ 1,183.

EUA frustram
O deslize do dólar ocorreu por causa de fracos indicadores divulgados nos EUA. Os pedidos de seguro-desemprego novos dispararam na semana passada para seu total mais elevado em cinco semanas, e as encomendas à indústria em abril caíram 2,9%, a maior queda nos últimos 17 meses.
Os indicadores levaram os mercados futuros a embutir em seus preços a possibilidade de um novo corte nos juros norte-americanos, de 0,25 ponto percentual, antes do final do próximo mês. A taxa do Federal Reserve (banco central norte-americano) está hoje em 1,25% ao ano, o menor nível em mais de quatro décadas.
Duisenberg disse que o conselho do BCE optou por não adotar nenhum viés, nem de redução nem de elevação da taxa. Mas o presidente da instituição enfatizou que o banco, como já disse o Federal Reserve, não havia exaurido seu "espaço de manobra".
O presidente do BCE disse que a decisão de cortar os juros tinha base em previsões da equipe interna da instituição, que serão publicadas na semana que vem, e que as projeções de crescimento e de inflação do BCE haviam sido substancialmente reduzidas.
Duisenberg afirmou que a projeção do BCE para a inflação da zona do euro no ano que vem era agora "significativamente inferior" à meta limite de 2% do banco para a estabilidade de preços. O crescimento deve continuar lento, mas se recuperará gradualmente a partir do ano que vem, afirmou o presidente do banco.

Crescimento tímido
O BCE deve reduzir sua projeção para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) da zona do euro este ano de 1% para cerca de 0,7% ou menos, depois que a região praticamente se paralisou no primeiro trimestre e mostrou sinais de contração no segundo.
Os economistas dizem que o BCE deixou as portas "completamente abertas" a novos cortes, e que os dados sobre a economia continuam a ser decepcionantes.
"O BCE perdeu a fé em sua previsão sobre a recuperação econômica, que está sempre prestes a chegar, mas nunca aparece", disse Ken Wattret, economista do BNP Paribas.
Holger Schmieding, economista do Bank of America, disse ser provável que o BCE faça um novo corte em setembro, porque a alta do euro gera mais revisões sobre as projeções de inflação e crescimento.

Deflação
Duisenberg relativizou os temores sobre deflação na zona do euro, dizendo que não se trata de um conceito significativo para uma união monetária. Mas economistas advertem que a deflação, uma queda duradoura de preços, é um risco sério na Alemanha e uma ameaça para toda a região.
"Se houver deflação na Alemanha, que responde por um terço da zona do euro, alguns dos países menores, como Holanda, Áustria e Bélgica, também estarão ameaçados", disse Gwynn Hache, do HSBC.


Tradução de Paulo Migliacci


Texto Anterior: O vaivém das commodities
Próximo Texto: Águia empacada: Indústria e emprego têm queda nos EUA
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.