São Paulo, domingo, 06 de junho de 2004

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SEMENTES DA DISCÓRDIA

Enquanto Lula definia país como "shopping de oportunidades", China comprou briga e derrubou preços

Soja brasileira perde US$ 1 bi com veto chinês

DA AGÊNCIA FOLHA
DE PEQUIM
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma fiscalização deficiente nos portos brasileiros e a euforia oficial com a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, no mês passado, deram espaço para que o governo chinês deflagrasse a crise que derrubou o preço da soja e impôs ao Brasil um prejuízo de até US$ 1 bilhão.
Enquanto Lula descrevia a China como um "shopping de oportunidades", durante discurso a empresários em Pequim, autoridades chinesas fechavam os portos à soja do Brasil e criavam a maior crise comercial recente entre os dois países.
A China, principal destino da soja exportada pelo Brasil, acusa produtores e exportadores brasileiros de misturar sementes contaminadas com fungicida. Sete exportadoras foram proibidas de vender à China, e quatro navios, impedidos de atracar em portos chineses.
Segundo o Ministério da Agricultura brasileiro, a crise provocou queda de US$ 50 na cotação da tonelada da soja. Os prejuízos com a devolução dos carregamentos e com a cotação menor chegam perto de US$ 1 bilhão.
Os produtores mais afetados pertencem a cooperativas no Rio Grande do Sul. Para eles, o governo brasileiro teria hesitado em questionar os chineses para não atrapalhar o "brilho" da viagem presidencial à China.
Durante a viagem, o ministro Roberto Rodrigues (Agricultura) atribuiu a crise à "ganância" dos exportadores brasileiros.
De volta ao Brasil, passou a dizer que o governo não tomará partido em questões comerciais privadas e que Lula está "muito preocupado" com o assunto.

Constrangimento
A Folha apurou que Lula e Rodrigues ficaram constrangidos com o fato de a China ter detonado a crise às vésperas da viagem presidencial, o que teria inibido uma reação inicial contrária do governo brasileiro. Procurado na noite de sexta-feira, Rodrigues não retornou os telefonemas.
O governo admite um aumento na contaminação por agrotóxicos e promete buscar os responsáveis. "É difícil, mas estamos tentando", disse Francisco Signor, delegado do Ministério em Porto Alegre.
Cooperativas e exportadores brasileiros acusam a China de usar o problema sanitário para forçar a redução dos preços.


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