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SEMENTES DA DISCÓRDIA
Enquanto Lula definia país como "shopping de oportunidades", China comprou briga e derrubou preços
Soja brasileira perde US$ 1 bi com veto chinês
DA AGÊNCIA FOLHA
DE PEQUIM
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma fiscalização deficiente nos
portos brasileiros e a euforia oficial com a viagem do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva à China,
no mês passado, deram espaço
para que o governo chinês deflagrasse a crise que derrubou o preço da soja e impôs ao Brasil um
prejuízo de até US$ 1 bilhão.
Enquanto Lula descrevia a China como um "shopping de oportunidades", durante discurso a
empresários em Pequim, autoridades chinesas fechavam os portos à soja do Brasil e criavam a
maior crise comercial recente entre os dois países.
A China, principal destino da
soja exportada pelo Brasil, acusa
produtores e exportadores brasileiros de misturar sementes contaminadas com fungicida. Sete
exportadoras foram proibidas de
vender à China, e quatro navios,
impedidos de atracar em portos
chineses.
Segundo o Ministério da Agricultura brasileiro, a crise provocou queda de US$ 50 na cotação
da tonelada da soja. Os prejuízos
com a devolução dos carregamentos e com a cotação menor
chegam perto de US$ 1 bilhão.
Os produtores mais afetados
pertencem a cooperativas no Rio
Grande do Sul. Para eles, o governo brasileiro teria hesitado em
questionar os chineses para não
atrapalhar o "brilho" da viagem
presidencial à China.
Durante a viagem, o ministro
Roberto Rodrigues (Agricultura)
atribuiu a crise à "ganância" dos
exportadores brasileiros.
De volta ao Brasil, passou a dizer que o governo não tomará
partido em questões comerciais
privadas e que Lula está "muito
preocupado" com o assunto.
Constrangimento
A Folha apurou que Lula e Rodrigues ficaram constrangidos
com o fato de a China ter detonado a crise às vésperas da viagem
presidencial, o que teria inibido
uma reação inicial contrária do
governo brasileiro. Procurado na
noite de sexta-feira, Rodrigues
não retornou os telefonemas.
O governo admite um aumento
na contaminação por agrotóxicos
e promete buscar os responsáveis.
"É difícil, mas estamos tentando",
disse Francisco Signor, delegado
do Ministério em Porto Alegre.
Cooperativas e exportadores
brasileiros acusam a China de
usar o problema sanitário para
forçar a redução dos preços.
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