São Paulo, quarta-feira, 06 de junho de 2007

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Após expansão, indústria pisa no freio

Produção industrial recua 0,1% em abril, mas analistas vêem acomodação após forte crescimento dos últimos meses

Para IBGE, efeitos do câmbio se acentuam, com importados afetando produção de TVs, celulares, calçados e farmacêuticos


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Após seis meses consecutivos de expansão, a indústria pisou no freio em abril e a produção caiu 0,1% na comparação livre de influências sazonais com março. Em relação com abril de 2006, porém, houve expansão de 6%, a maior desde junho de 2005, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Um dos motivos para o fraco desempenho de março para abril foi o efeito negativo do câmbio, de acordo com o IBGE.
Sob impacto da perda de competitividade das exportações ou da maior penetração de importados, alguns ramos tiveram resultados negativos em abril, como materiais elétricos e comunicações (-14,1%) e madeira (-8,6%). Itens como TVs, celulares, calçados, artigos de madeira, produtos farmacêuticos, entre outros, sofrem com o real valorizado.
"Antes, o efeito estava mais restrito aos calçados e semiduráveis. Agora, o câmbio já atinge os eletrodomésticos da linha marrom [TV, vídeo e som]", disse Silvio Sales, coordenador de Indústria do IBGE.
Afetada pela valorização do real, a categoria de bens duráveis teve o pior desempenho em abril -queda de 1,4%. Também caiu a produção de bens intermediários (-0,6%) e de bens de capital (-1,2%). Somente os bens de consumo semi e não-duráveis registraram expansão -0,8%.

Câmbio
Para Sales, embora o câmbio tenha um papel relevante sobre a produção de muitos setores, ele sozinho não explica a perda de fôlego do setor industrial em abril. "Depois de um período logo de crescimento, era de esperar que a indústria se acomodasse em algum momento."
Se o câmbio puxa a indústria para baixo, existem outros fatores que impulsionam o setor. Sales cita os juros mais baixos e o crescimento do emprego e da massa salarial.
Diante de tal cenário, diz, a indústria mantém um forte crescimento na comparação tanto com abril de 2006 como ante o primeiro quadrimestre de 2006 -no período, acumula alta de 4,3%.
"Apesar da estagnação em abril, a indústria mostra um padrão de crescimento compatível com uma taxa anual de 4%, maior do que o anterior de 2005 e 2006, quando o crescimento estava na casa 3%", avalia Edgard Pereira, economista do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).

Abaixo do previsto
Apesar do resultado da indústria em abril ter ficado abaixo das previsões, especialistas não interpretam o indicador como uma interrupção da tendência de crescimento da produção fabril.
"Foi bem mais fraco do que o previsto, mas não é um sinal de desaceleração, pois vem depois de seis meses de um crescimento muito forte. Aposto na tese de acomodação", avalia Solange Srour, economista-chefe da Mellon Global Investments.
Para a economista, o câmbio prejudica a indústria, mas a recente desvalorização da moeda norte-americana -que bateu na casa dos R$ 1,90- ainda não teve impacto.
A opinião da especialista difere da apresentada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), que atribuiu anteontem ao câmbio o fraco desempenho das vendas em abril -queda de 0,9% ante março.
Para Edgar Pereira, a inesperada paralisação do crescimento de março para abril é um "ponto fora da curva" e o setor deve acelerar. "A indústria tem potencial para crescer cerca de 5% em 2007, se repetir o desempenho do primeiro trimestre", diz o economista do Iedi.


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