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Após expansão, indústria pisa no freio
Produção industrial recua 0,1% em abril, mas analistas vêem acomodação após forte crescimento dos últimos meses
Para IBGE, efeitos do câmbio se acentuam, com importados afetando produção de TVs, celulares, calçados e farmacêuticos
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Após seis meses consecutivos de expansão, a indústria pisou no freio em abril e a produção caiu 0,1% na comparação livre de influências sazonais com
março. Em relação com abril de
2006, porém, houve expansão
de 6%, a maior desde junho de
2005, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Um dos motivos para o fraco
desempenho de março para
abril foi o efeito negativo do
câmbio, de acordo com o IBGE.
Sob impacto da perda de
competitividade das exportações ou da maior penetração de
importados, alguns ramos tiveram resultados negativos em
abril, como materiais elétricos
e comunicações (-14,1%) e madeira (-8,6%). Itens como TVs,
celulares, calçados, artigos de
madeira, produtos farmacêuticos, entre outros, sofrem com o
real valorizado.
"Antes, o efeito estava mais
restrito aos calçados e semiduráveis. Agora, o câmbio já atinge os eletrodomésticos da linha
marrom [TV, vídeo e som]",
disse Silvio Sales, coordenador
de Indústria do IBGE.
Afetada pela valorização do
real, a categoria de bens duráveis teve o pior desempenho
em abril -queda de 1,4%. Também caiu a produção de bens
intermediários (-0,6%) e de
bens de capital (-1,2%). Somente os bens de consumo semi e
não-duráveis registraram expansão -0,8%.
Câmbio
Para Sales, embora o câmbio
tenha um papel relevante sobre
a produção de muitos setores,
ele sozinho não explica a perda
de fôlego do setor industrial em
abril. "Depois de um período
logo de crescimento, era de esperar que a indústria se acomodasse em algum momento."
Se o câmbio puxa a indústria
para baixo, existem outros fatores que impulsionam o setor.
Sales cita os juros mais baixos e
o crescimento do emprego e da
massa salarial.
Diante de tal cenário, diz, a
indústria mantém um forte
crescimento na comparação
tanto com abril de 2006 como
ante o primeiro quadrimestre
de 2006 -no período, acumula
alta de 4,3%.
"Apesar da estagnação em
abril, a indústria mostra um padrão de crescimento compatível com uma taxa anual de 4%,
maior do que o anterior de
2005 e 2006, quando o crescimento estava na casa 3%", avalia Edgard Pereira, economista
do Iedi (Instituto de Estudos
para o Desenvolvimento Industrial).
Abaixo do previsto
Apesar do resultado da indústria em abril ter ficado abaixo das previsões, especialistas
não interpretam o indicador
como uma interrupção da tendência de crescimento da produção fabril.
"Foi bem mais fraco do que o
previsto, mas não é um sinal de
desaceleração, pois vem depois
de seis meses de um crescimento muito forte. Aposto na tese
de acomodação", avalia Solange Srour, economista-chefe da
Mellon Global Investments.
Para a economista, o câmbio
prejudica a indústria, mas a recente desvalorização da moeda
norte-americana -que bateu
na casa dos R$ 1,90- ainda não
teve impacto.
A opinião da especialista difere da apresentada pela CNI
(Confederação Nacional da Indústria), que atribuiu anteontem ao câmbio o fraco desempenho das vendas em abril
-queda de 0,9% ante março.
Para Edgar Pereira, a inesperada paralisação do crescimento de março para abril é um
"ponto fora da curva" e o setor
deve acelerar. "A indústria tem
potencial para crescer cerca de
5% em 2007, se repetir o desempenho do primeiro trimestre", diz o economista do Iedi.
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