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Roma frustra "revolução" de Lula
DO ENVIADO ESPECIAL A ROMA
Para quem, como o presidente Lula, vê nos biocombustíveis
o elemento-chave para uma
"revolução" não só na matriz
energética mundial mas também no desenvolvimento dos
países mais pobres (África, Caribe e América Central), a cúpula de Roma só pode ser uma
tremenda frustração.
O encontro não produziu nada que ajudasse a empurrar seu
projeto. Não condenou o etanol, é verdade, mas só mesmo
desinformação e/ou má-fé poderiam estimular especulações
nesse sentido. Com os EUA, a
maior potência do planeta, e o
Brasil, um dos grandes emergentes, produzindo 80% do etanol mundial, não passa pela cabeça de ninguém sério que o
biocombustível possa ser condenado num foro global.
Até o foi, mas na cúpula paralela, das Organizações Não-Governamentais, cada vez menos
ouvidas nas discussões globais.
A anódina declaração de Roma
não impedirá o Brasil de produzir etanol, mas embaça o projeto de transformá-lo em "instrumento importante para gerar
renda e retirar países da insegurança alimentar e energética", como disse Lula no seu
apaixonado discurso em Roma.
Disse ainda que "cerca de
cem países têm vocação natural
para produzir biocombustíveis
de forma sustentável". Para
que transformem essa vocação
em fatos, precisariam de uma
combinação de tecnologia e recursos financeiros. Tecnologia,
o Brasil tem e é considerada a
melhor do mundo. Já recursos
financeiros dependem dos países ricos. E é óbvio que eles não
porão dinheiro em um instrumento que não consegue um
selo internacional de qualidade
definitivo, seja por contrariar
os interesses de quem tem "os
dedos sujos de óleo e carvão",
como acusou Lula, seja por outros interesses comerciais.
A batalha de Lula vai agora ao
Japão. Na reunião de Hokkaido, em julho, o G8 (oito países
mais industrializados) e grandes emergentes como o Brasil
discutirão de novo os temas
que, em Roma, não conseguiram sair do estágio de "papers"
preparatórios. A comunidade
internacional no seu conjunto,
representada na FAO, ficou paralisada. Resta ver se o "diretório do mundo", como chegou a
ser chamado o G8, consegue
decidir.
(CR)
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