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OPINIÃO ECONÔMICA
Tempo de turismo
GESNER OLIVEIRA
Para quem não pode viajar
neste julho de férias escolares,
não custa sonhar com alguns paraísos na Terra. Como a pequena
cidade de Piaçabuçu, entre Alagoas e Sergipe, perto da foz do rio
São Francisco, da histórica Penedo, o montante do Velho Chico, e
das praias de Coruripe e Feliz Deserto.
Poucos brasileiros e estrangeiros visitam Piaçabuçu ou qualquer um do sem-número de destinos com potencial turístico do
país. Perde-se com isso uma chance de desenvolver novas regiões,
gerar empregos e melhorar a situação das contas externas.
O Brasil é superavitário na balança comercial (US$ 2,6 bilhões
no ano passado), mas ainda tem
déficit na conta de serviços mesmo após a exclusão dos pagamentos de juros e lucros sobre o capital externo. Nessa conta, chamada de "serviços não-fatores", o déficit anual foi de US$ 7,8 bilhões
em 2001 e poderá atingir, segundo
projeção do Banco Central, US$
6,7 bilhões em 2002.
O turismo é o mais promissor
dos "serviços não-fatores". Em
contraste com o aço e os aviões,
não há restrições da OMC (Organização Mundial do Comércio)
ao estímulo governamental de
serviços como o turismo. Por definição, trata-se de segmento para
o qual não há o problema de acesso aos mercados frequentemente
protegidos de parceiros comerciais, mas a questão é atrair o turista para o próprio território nacional.
Houve um grande progresso no
setor no período recente, porém
ainda há muito a ser explorado.
A conta "viagens internacionais"
do balanço de pagamentos apresentou um déficit de US$ 4,15 bilhões em 1998. Esse saldo negativo
caiu para US$ 1,47 bilhão em
2001, e a projeção do Banco Central para este ano aponta um déficit de US$ 1,13 bilhão.
Alerte-se que as estatísticas de
turismo no balanço de pagamentos ainda são imprecisas no Brasil. A conta "viagens internacionais" apurada pelo Banco Central registra transações que não
necessariamente têm natureza
turística. Por exemplo, uma compra efetuada mediante cartão internacional pode representar mera aquisição de bem ou serviço e
ser confundida com gastos com
viagens. Do lado da receita, os dólares ou euros trazidos pelo turista e possivelmente descontados
no mercado paralelo não são contabilizados.
Em contraste com o Brasil, alguns países sustentam o balanço
de pagamentos graças ao turismo. Na Espanha, por exemplo, as
receitas de viagens e turismo respondem por 27,9% dos ingressos
com bens e serviços da conta corrente. O superávit nesta conta foi
de 30 bilhões em 2001, quase cobrindo o déficit de 35 bilhões na
balança comercial!
Se o Brasil tem tanto potencial
turístico, por que não há mais investimento nesse segmento? A política pública é fundamental nessa área. Ninguém chega por acaso
à orla brasileira. Parcela da historiografia sustenta que nem mesmo Pedro Álvares Cabral ancorou por acaso em Porto Seguro,
no litoral da Bahia!
O mercado, por si só, não resolve o problema. Tampouco bastam praias bonitas. É preciso um
pacote coordenado de inversões
concentradas no tempo. A atração de turistas depende de fatores
como a oferta de infra-estrutura,
da segurança pública e do cuidado com o ambiente, além de ações
específicas para o setor.
O saneamento é um dos pilares
para o desenvolvimento da atividade turística. Programas federais voltados para o turismo têm
papel relevante, como o Prodetur
(Programa de Desenvolvimento
do Turismo), que teve foco inicial
no Nordeste com bons resultados
e já começou a ser estendido a outras regiões.
As condições de segurança pública influenciam a demanda por
turismo internacional com destino ao Brasil. Esse é um dentre vários exemplos nos quais a política
de segurança repercute na economia. Por sua vez, a questão do
ambiente também é crucial, considerando a vantagem comparativa que o Brasil tem no nicho
promissor de ecoturismo.
Naturalmente, existem ações
próprias do setor de turismo que
são fundamentais para incrementar o fluxo de divisas. Destaque-se, por exemplo, a necessidade de incentivo aos vôos charter
nas chegadas internacionais. O
Brasil já avançou na regulamentação desse segmento, e qualquer
estratégia de incremento do turismo estrangeiro requer sua expansão, pois o tempo, itinerário e orçamento do turista é completamente distinto do viajante das rotas regulares.
A promoção do Brasil no exterior também merece especial
atenção. A seleção brasileira, que
já fez tanto pelo país ao trazer o
pentacampeonato, poderia fazer
ainda mais nessa direção.
Mesmo fora das principais rotas
do mundo, o turismo brasileiro
tem tudo para crescer. As mudanças necessárias poderão tornar
mais conhecidos locais como Penedo, Piaçabuçu, Feliz Deserto e
Coruripe. E transformar em realidade o sonho vendido (ainda timidamente) de férias inesquecíveis nos mais diferentes lugares
do Brasil.
Gesner Oliveira, 46, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da FGV-SP, consultor da Tendências e ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
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