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São Paulo, domingo, 06 de julho de 2003

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À PROCURA DA ESTABILIDADE

Vaga para serviço funerário atrai 17 mil pessoas, concorrência maior que a de vestibulares

Desemprego faz de concurso público "tábua de salvação"

DA REPORTAGEM LOCAL

Opção de trabalho estável em tempos de desemprego recorde, o poder de atração do emprego público foi evidenciado na semana passada, quando dezenas de milhares de pessoas se aglomeraram no sambódromo do Rio de Janeiro na expectativa de concorrer a uma vaga de gari da prefeitura.
A tábua de salvação do funcionalismo não se mostra tão segura, no entanto, quando se sabe que, para chegar a uma dessas vagas, o candidato tem que enfrentar concorrência maior do que os vestibulandos do seleto curso de medicina da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
A relação foi de 98 candidatos/ vaga para o vestibular 2003, o mais apertado da história da universidade. A competição faz rir as 47 mil pessoas que devem concorrer no próximo mês às 21 vagas para oficial de promotoria do Ministério Público de São Paulo. Ou seja, são 2.200 candidatos por vaga. Entre elas está Sílvia Enomoto, 46, desempregada desde fevereiro do ano passado, que calcula que vai poder errar apenas 3 das 70 questões se quiser ficar entre os cerca de mil que vão concorrer na etapa final do concurso.
"Vale a pena pelos benefícios do emprego público, como a estabilidade", analisa ela, que já prestou dez concursos públicos e pretende tentar mais dois neste ano.

Sem restrição
Nos concursos, as ocupações e salários variam de acordo com o nível de escolaridade dos candidatos. Mas a experiência mostra que quem tem ensino superior, por exemplo, vem deixando qualquer restrição de lado e concorrendo às colocações que pagam e exigem pouco.
Em Londrina, no Paraná, por exemplo, o anúncio de 19 vagas no serviço funerário da cidade atraiu 17 mil pessoas, o equivalente a 3,8% da população da cidade.
Entre os candidatos a cargos de coveiro, preparador de cadáver e motorista funerário, entre outros, que exigiam ensino fundamental, muitos têm terceiro grau e estão dispostos a ganhar salários de em média R$ 650.
É o caso de Yuri Arbelli Segura, 22, formado em artes plásticas, que concorre à vaga de coveiro. Atualmente ele ganha R$ 50 por mês dando aula em um projeto social da prefeitura da cidade.
"Emprego na minha área está difícil. Preciso juntar dinheiro para fazer um mestrado no ano que vem, quero dar aula em faculdade", sonha.

Recorde
Não existem números consolidados que permitam comparar a procura por concursos públicos em 2003 em relação a anos anteriores. No entanto, a percepção do mercado preparatório para concursos públicos é que a demanda é a maior em cinco anos.
Um concurso para analista e técnico previdenciário do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), realizado em março, foi o maior já organizado por uma única instituição, no caso o Cespe (Centro de Seleção e Promoção de Eventos), da Universidade de Brasília. Cerca de 676 mil pessoas se inscreveram para 3.900 vagas, com salários de R$ 629 a R$ 1.000.
Os índices de desemprego ajudam a entender a demanda. Em 2002, a taxa média de desemprego foi de 11,7%. Neste ano, chegou a cerca de 13% em maio, segundo dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Consequência do agravamento da crise econômica a partir do segundo semestre do ano passado, que prejudicou empresas e causou demissões.
"O desemprego crescente é o principal fator que determina um aumento na procura neste ano. Mas de forma geral o concurso público atrai tanta gente porque, além da estabilidade e aposentadoria integral, não discrimina na hora da seleção", estima José Luís Baubeta, diretor de recursos humanos da Central de Concursos.
Segundo Baubeta, a relação média é de 80 a 90 candidatos por vaga. Apenas de 3% a 5% realmente estão preparados para passar.
E dá-lhe gastos com apostilas e cursos, como atesta a multiplicação de cursinhos preparatórios e editoras especializadas. Para concorrer a uma vaga que exige ensino médio, pode-se desembolsar de R$ 1.000 a R$ 1.500, estima Baubeta. Para ensino superior, de R$ 2.500 a R$ 3.000.
(MAELI PRADO)


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