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À PROCURA DA ESTABILIDADE
Vaga para serviço funerário atrai 17 mil pessoas, concorrência maior que a de vestibulares
Desemprego faz de concurso público "tábua de salvação"
DA REPORTAGEM LOCAL
Opção de trabalho estável em
tempos de desemprego recorde, o
poder de atração do emprego público foi evidenciado na semana
passada, quando dezenas de milhares de pessoas se aglomeraram
no sambódromo do Rio de Janeiro na expectativa de concorrer a
uma vaga de gari da prefeitura.
A tábua de salvação do funcionalismo não se mostra tão segura,
no entanto, quando se sabe que,
para chegar a uma dessas vagas, o
candidato tem que enfrentar concorrência maior do que os vestibulandos do seleto curso de medicina da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
A relação foi de 98 candidatos/
vaga para o vestibular 2003, o
mais apertado da história da universidade. A competição faz rir as
47 mil pessoas que devem concorrer no próximo mês às 21 vagas
para oficial de promotoria do Ministério Público de São Paulo. Ou
seja, são 2.200 candidatos por vaga. Entre elas está Sílvia Enomoto,
46, desempregada desde fevereiro
do ano passado, que calcula que
vai poder errar apenas 3 das 70
questões se quiser ficar entre os
cerca de mil que vão concorrer na
etapa final do concurso.
"Vale a pena pelos benefícios do
emprego público, como a estabilidade", analisa ela, que já prestou
dez concursos públicos e pretende tentar mais dois neste ano.
Sem restrição
Nos concursos, as ocupações e
salários variam de acordo com o
nível de escolaridade dos candidatos. Mas a experiência mostra
que quem tem ensino superior,
por exemplo, vem deixando qualquer restrição de lado e concorrendo às colocações que pagam e
exigem pouco.
Em Londrina, no Paraná, por
exemplo, o anúncio de 19 vagas
no serviço funerário da cidade
atraiu 17 mil pessoas, o equivalente a 3,8% da população da cidade.
Entre os candidatos a cargos de
coveiro, preparador de cadáver e
motorista funerário, entre outros,
que exigiam ensino fundamental,
muitos têm terceiro grau e estão
dispostos a ganhar salários de em
média R$ 650.
É o caso de Yuri Arbelli Segura,
22, formado em artes plásticas,
que concorre à vaga de coveiro.
Atualmente ele ganha R$ 50 por
mês dando aula em um projeto
social da prefeitura da cidade.
"Emprego na minha área está
difícil. Preciso juntar dinheiro para fazer um mestrado no ano que
vem, quero dar aula em faculdade", sonha.
Recorde
Não existem números consolidados que permitam comparar a
procura por concursos públicos
em 2003 em relação a anos anteriores. No entanto, a percepção
do mercado preparatório para
concursos públicos é que a demanda é a maior em cinco anos.
Um concurso para analista e
técnico previdenciário do INSS
(Instituto Nacional do Seguro Social), realizado em março, foi o
maior já organizado por uma única instituição, no caso o Cespe
(Centro de Seleção e Promoção de
Eventos), da Universidade de
Brasília. Cerca de 676 mil pessoas
se inscreveram para 3.900 vagas,
com salários de R$ 629 a R$ 1.000.
Os índices de desemprego ajudam a entender a demanda. Em
2002, a taxa média de desemprego
foi de 11,7%. Neste ano, chegou a
cerca de 13% em maio, segundo
dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Consequência do agravamento
da crise econômica a partir do segundo semestre do ano passado,
que prejudicou empresas e causou demissões.
"O desemprego crescente é o
principal fator que determina um
aumento na procura neste ano.
Mas de forma geral o concurso
público atrai tanta gente porque,
além da estabilidade e aposentadoria integral, não discrimina na
hora da seleção", estima José Luís
Baubeta, diretor de recursos humanos da Central de Concursos.
Segundo Baubeta, a relação média é de 80 a 90 candidatos por vaga. Apenas de 3% a 5% realmente
estão preparados para passar.
E dá-lhe gastos com apostilas e
cursos, como atesta a multiplicação de cursinhos preparatórios e
editoras especializadas. Para concorrer a uma vaga que exige ensino médio, pode-se desembolsar
de R$ 1.000 a R$ 1.500, estima
Baubeta. Para ensino superior, de
R$ 2.500 a R$ 3.000.
(MAELI PRADO)
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