São Paulo, terça-feira, 06 de julho de 2004

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PRODUÇÃO

Exportações de 1,3 mi de toneladas em 2003 estimularam o plantio neste ano; Conab prevê 5,9 mi de toneladas

Boom do agronegócio eleva safra de trigo

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

A cultura de trigo, que andou na contramão do desempenho agrícola brasileiro na última década, entrou no ritmo de crescimento do agronegócio e deve ter produção próxima de 6 milhões de toneladas neste ano.
Será a segunda vez, desde 1990, que a produção brasileira ultrapassa os 5 milhões de toneladas.
Estimativas da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) apontam que a safra deste ano deverá ser de 5,9 milhões de toneladas, pouco acima dos 5,8 milhões do ano passado.
Esse crescimento se sustenta em um paradoxo: país sem auto-suficiência em trigo, o Brasil exportou 1,3 milhão de toneladas na última safra -a maioria embarcada no início deste ano. Essas exportações inéditas estimularam o plantio nesta safra.

Segurança alimentar
Considerada um dos principais itens de segurança alimentar no mundo, a cultura de trigo só teve desempenho próximo da auto-suficiência no Brasil no final da década de 80.
Em 1987, por exemplo, o país produziu 6,1 milhões de toneladas, para um consumo, à época, de 6,5 milhões de toneladas. Para este ano, a expectativa é que o país consuma 10,1 milhões de toneladas do produto.
As negociações para o Mercosul e o processo de globalização afetaram diretamente a cultura no país, que foi abandonada até mesmo como opção de inverno pelos produtores.
"Plantar trigo na década de 90 era sinônimo de falta de juízo, mas hoje a coisa está mudada", afirma Carlos Eulis Carneiro Filho, 45, produtor de soja no Paraná e em Mato Grosso do Sul e que neste ano cultivou trigo em 670 hectares nos dois Estados.

Tecnologia e clima
Segundo Otmar Hubner, técnico do Deral (Departamento de Economia Rural), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná, o país tem tecnologia e condições climáticas para que essa reação do trigo se sustente nas próximas safras.
"A auto-suficiência no país é possível, embora hoje seja mais rentável o Norte e o Nordeste importarem trigo do que se abastecerem da produção do centro-sul", afirma.
Os três Estados do Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) são responsáveis por mais de 90% da produção nacional, e só agora o trigo está se deslocando para o Centro-Oeste.
"Além da questão logística de fornecimento para o Norte e o Nordeste, a produção de trigo no cerrado, especialmente o trigo irrigado, pode alavancar a produtividade", arrisca Hubner.
No Distrito Federal, lavouras irrigadas de trigo conseguiram produtividade até três vezes maior do que as registradas no Sul do país no ano passado.
No Paraná, por exemplo, responsável por 53% da produção nacional, a produtividade tem se mantido em torno de 2.500 quilos por hectare.

Separação e consumo
As exportações na safra passada levaram as cooperativas e os produtores a se preocupar, nesta safra, em separar os diferentes tipos de trigo no momento da armazenagem.
O Rio Grande do Sul saiu na frente nesse setor e conseguiu vender trigo soft (mole, usado para a produção de biscoitos) com melhores preços do que o trigo paranaense, que, em sua maioria, é grão duro, mais utilizado para a panificação.
"Como o mercado é que determina hoje a expansão ou não de uma cultura, o trigo poderá se beneficiar de uma melhoria nas condições de renda da população, que hoje consome muito pouco trigo", afirma Hubner.
Embora esteja no patamar de mais de 70 quilos por habitante por ano nos Estados do Sul, o consumo não ultrapassa 60 quilos por habitante em todo o Brasil.
Como base de comparação, a vizinha Argentina, por exemplo, possui consumo anual de mais de 100 quilos por habitante.


Colaborou Tiago Ornaghi, da Agência Folha

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