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PRODUÇÃO
Exportações de 1,3 mi de toneladas em 2003 estimularam o plantio neste ano; Conab prevê 5,9 mi de toneladas
Boom do agronegócio eleva safra de trigo
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA
A cultura de trigo, que andou na
contramão do desempenho agrícola brasileiro na última década,
entrou no ritmo de crescimento
do agronegócio e deve ter produção próxima de 6 milhões de toneladas neste ano.
Será a segunda vez, desde 1990,
que a produção brasileira ultrapassa os 5 milhões de toneladas.
Estimativas da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento)
apontam que a safra deste ano deverá ser de 5,9 milhões de toneladas, pouco acima dos 5,8 milhões
do ano passado.
Esse crescimento se sustenta em
um paradoxo: país sem auto-suficiência em trigo, o Brasil exportou
1,3 milhão de toneladas na última
safra -a maioria embarcada no
início deste ano. Essas exportações inéditas estimularam o plantio nesta safra.
Segurança alimentar
Considerada um dos principais
itens de segurança alimentar no
mundo, a cultura de trigo só teve
desempenho próximo da auto-suficiência no Brasil no final da
década de 80.
Em 1987, por exemplo, o país
produziu 6,1 milhões de toneladas, para um consumo, à época,
de 6,5 milhões de toneladas. Para
este ano, a expectativa é que o país
consuma 10,1 milhões de toneladas do produto.
As negociações para o Mercosul
e o processo de globalização afetaram diretamente a cultura no
país, que foi abandonada até mesmo como opção de inverno pelos
produtores.
"Plantar trigo na década de 90
era sinônimo de falta de juízo,
mas hoje a coisa está mudada",
afirma Carlos Eulis Carneiro Filho, 45, produtor de soja no Paraná e em Mato Grosso do Sul e que
neste ano cultivou trigo em 670
hectares nos dois Estados.
Tecnologia e clima
Segundo Otmar Hubner, técnico do Deral (Departamento de
Economia Rural), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná, o país tem tecnologia e condições climáticas para que essa reação do trigo se sustente nas próximas safras.
"A auto-suficiência no país é
possível, embora hoje seja mais
rentável o Norte e o Nordeste importarem trigo do que se abastecerem da produção do centro-sul", afirma.
Os três Estados do Sul (Paraná,
Santa Catarina e Rio Grande do
Sul) são responsáveis por mais de
90% da produção nacional, e só
agora o trigo está se deslocando
para o Centro-Oeste.
"Além da questão logística de
fornecimento para o Norte e o
Nordeste, a produção de trigo no
cerrado, especialmente o trigo irrigado, pode alavancar a produtividade", arrisca Hubner.
No Distrito Federal, lavouras irrigadas de trigo conseguiram produtividade até três vezes maior do
que as registradas no Sul do país
no ano passado.
No Paraná, por exemplo, responsável por 53% da produção
nacional, a produtividade tem se
mantido em torno de 2.500 quilos
por hectare.
Separação e consumo
As exportações na safra passada
levaram as cooperativas e os produtores a se preocupar, nesta safra, em separar os diferentes tipos
de trigo no momento da armazenagem.
O Rio Grande do Sul saiu na
frente nesse setor e conseguiu
vender trigo soft (mole, usado para a produção de biscoitos) com
melhores preços do que o trigo
paranaense, que, em sua maioria,
é grão duro, mais utilizado para a
panificação.
"Como o mercado é que determina hoje a expansão ou não de
uma cultura, o trigo poderá se beneficiar de uma melhoria nas condições de renda da população,
que hoje consome muito pouco
trigo", afirma Hubner.
Embora esteja no patamar de
mais de 70 quilos por habitante
por ano nos Estados do Sul, o consumo não ultrapassa 60 quilos
por habitante em todo o Brasil.
Como base de comparação, a vizinha Argentina, por exemplo,
possui consumo anual de mais de
100 quilos por habitante.
Colaborou Tiago Ornaghi,
da Agência Folha
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