São Paulo, sexta-feira, 06 de julho de 2007

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Meirelles desmarca reunião "secreta" com mercado em SP

Objetivo seria acalmar bancos sobre derrota na definição da meta de inflação

Presidente do BC queria meta menor que 4,5% para 2009, mas prevaleceu a posição de Mantega, apoiado por Lula

SHEILA D'AMORIM
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma articulação de bastidores do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, para tentar manter a credibilidade da sua política monetária gerou mais desgaste do BC com o mercado e dentro do governo.
A Folha apurou que Meirelles tentou fazer uma reunião em segredo hoje, na sede do banco em São Paulo, com tesoureiros de grandes bancos, mas o vazamento do encontro o levou a suspendê-lo. Antes, porém, o BC tentou transferi-lo para terça-feira retirando o caráter reservado da iniciativa.
A assessoria do BC negou que o banco tenha tentado organizar o encontro, mas a Folha confirmou com três pessoas que foram convidadas que a reunião chegou a ser marcada, adiada e, finalmente, suspensa. Segundo do BC, não haverá reunião hoje nem terça.
As ações de Meirelles buscam demonstrar que o BC não será mais tolerante com a inflação nos próximos anos na comparação com o trabalho feito desde 2003, quando ele assumiu a presidência do BC. Na prática, tenta fazer prevalecer nas contas do mercado financeiro que o patamar de inflação de 4% defendido por ele é o que vale para o país no longo prazo, e não os 4,5% do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que foram oficializados como meta para 2009 pelo governo.
Com isso, Meirelles esforça-se para reverter as conseqüências da derrota que sofreu no debate interno, evitando que os analistas financeiros incorporem a expectativa de mais inflação nas estatísticas.
Economistas com posição de destaque no mercado financeiro avaliam que Meirelles se enfraqueceu no segundo mandato e que a prova disso teria sido a perda da batalha pela redução da meta de inflação. Com aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, prevaleceu a posição de Mantega.
Na avaliação de um integrante da equipe econômica, o estresse criado com a discussão da meta potencializou a piora no cenário internacional das últimas semanas por causa da economia dos EUA. Para complicar ainda mais a situação, a confusão gerada com a reunião secreta de Meirelles irritou os colegas da equipe econômica no Ministério da Fazenda. Ontem, o comentário era que isso era totalmente desnecessário e só contribuía para mais ruídos no mercado. Isso, justamente num momento em que tudo o que o governo não precisa é de volatilidade.

Queixas
Em conversas com integrantes do mercado financeiro, diretores do Banco Central têm feito queixas em relação a Lula e a Mantega. Afirmam que a manutenção da meta em 4,5% foi uma rasteira. Mantega convenceu Lula dizendo que o BC já persegue meta menor do que a oficial, como provaria a previsão de inflação para 2007 (3,5% no ano). Portanto, alegou o ministro da Fazenda, a redução para 4%, como desejava Meirelles, poderia resultar numa política monetária mais austera em caso de crise externa no futuro. E isso poderia comprometer o crescimento.
Haveria também na diretoria um grau de insatisfação em relação a Meirelles. Antes da reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional) na qual foi derrotado, o presidente do BC tentou tranqüilizar a diretoria, segundo relato de alguns de seus integrantes a representantes do mercado financeiro. De acordo com a versão desses diretores, Meirelles não deu explicação a eles após a derrota no CMN.


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