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Meirelles desmarca reunião "secreta" com mercado em SP
Objetivo seria acalmar bancos sobre derrota na definição da meta de inflação
Presidente do BC queria meta menor que 4,5% para 2009, mas prevaleceu a posição de Mantega, apoiado por Lula
SHEILA D'AMORIM
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma articulação de bastidores do presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles,
para tentar manter a credibilidade da sua política monetária
gerou mais desgaste do BC com
o mercado e dentro do governo.
A Folha apurou que Meirelles tentou fazer uma reunião
em segredo hoje, na sede do
banco em São Paulo, com tesoureiros de grandes bancos,
mas o vazamento do encontro
o levou a suspendê-lo. Antes,
porém, o BC tentou transferi-lo para terça-feira retirando o
caráter reservado da iniciativa.
A assessoria do BC negou
que o banco tenha tentado organizar o encontro, mas a Folha confirmou com três pessoas que foram convidadas que
a reunião chegou a ser marcada, adiada e, finalmente, suspensa. Segundo do BC, não haverá reunião hoje nem terça.
As ações de Meirelles buscam demonstrar que o BC não
será mais tolerante com a inflação nos próximos anos na comparação com o trabalho feito
desde 2003, quando ele assumiu a presidência do BC. Na
prática, tenta fazer prevalecer
nas contas do mercado financeiro que o patamar de inflação
de 4% defendido por ele é o que
vale para o país no longo prazo,
e não os 4,5% do ministro da
Fazenda, Guido Mantega, que
foram oficializados como meta
para 2009 pelo governo.
Com isso, Meirelles esforça-se para reverter as conseqüências da derrota que sofreu no
debate interno, evitando que os
analistas financeiros incorporem a expectativa de mais inflação nas estatísticas.
Economistas com posição de
destaque no mercado financeiro avaliam que Meirelles se enfraqueceu no segundo mandato
e que a prova disso teria sido a
perda da batalha pela redução
da meta de inflação. Com aval
do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, prevaleceu a posição
de Mantega.
Na avaliação de um integrante da equipe econômica, o estresse criado com a discussão
da meta potencializou a piora
no cenário internacional das
últimas semanas por causa da
economia dos EUA. Para complicar ainda mais a situação, a
confusão gerada com a reunião
secreta de Meirelles irritou os
colegas da equipe econômica
no Ministério da Fazenda. Ontem, o comentário era que isso
era totalmente desnecessário e
só contribuía para mais ruídos
no mercado. Isso, justamente
num momento em que tudo o
que o governo não precisa é de
volatilidade.
Queixas
Em conversas com integrantes do mercado financeiro, diretores do Banco Central têm
feito queixas em relação a Lula
e a Mantega. Afirmam que a
manutenção da meta em 4,5%
foi uma rasteira. Mantega convenceu Lula dizendo que o BC
já persegue meta menor do que
a oficial, como provaria a previsão de inflação para 2007 (3,5%
no ano). Portanto, alegou o ministro da Fazenda, a redução
para 4%, como desejava Meirelles, poderia resultar numa política monetária mais austera
em caso de crise externa no futuro. E isso poderia comprometer o crescimento.
Haveria também na diretoria
um grau de insatisfação em relação a Meirelles. Antes da reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional) na qual foi derrotado, o presidente do BC tentou tranqüilizar a diretoria, segundo relato de alguns de seus
integrantes a representantes
do mercado financeiro. De
acordo com a versão desses diretores, Meirelles não deu explicação a eles após a derrota
no CMN.
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