São Paulo, domingo, 06 de agosto de 2006

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Empresa lucra menos e rentabilidade cai

Análise com 50 balanços mostra que piorou a capacidade de as companhias gerarem recursos para arcar com as dívidas

No primeiro semestre, ganho líquido das empresas caiu 7,4% na comparação com o mesmo período do ano passado, para R$ 11,3 bi


ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A rentabilidade do setor privado foi afetada no primeiro semestre do ano. É o que mostra análise preliminar feita pela Folha com base em dados de balanços financeiros de 50 empresas abertas que já publicaram as informações do período. O lucro líquido também caiu neste ano, assim como piorou a capacidade de as empresas gerarem recursos para arcar com as suas dívidas.
Câmbio desfavorável à exportação, mercado interno pouco rentável e ganhos tributários que não se repetiram em 2006 impactaram no desempenho das companhias no segundo trimestre. Isso ocorreu após vários trimestres consecutivos só com resultados positivos para as empresas. Mas a situação é pontual e deve ser revertida já no terceiro trimestre, afirmam companhias e analistas.
De janeiro a junho, o lucro líquido das empresas caiu 7,4% em relação ao mesmo período de 2005 -o valor passou de R$ 12,2 bilhões para R$ 11,3 bilhões. Se for levado em conta apenas o segundo trimestre, a redução foi maior, de 11,6% sobre o ano passado.
Ao mesmo tempo, os dados mostram que a receita operacional das companhias subiu. A alta foi de 10,5% no semestre -o valor superou os R$ 103 bilhões em junho de 2006- e de 10,5% no segundo trimestre.
Pode ocorrer de as empresas elevarem o faturamento, mas verificarem prejuízo ou redução no lucro líquido. Isso acontece por causa de efeitos negativos em uma série de variáveis que compõem o balanço financeiro. Aumento na inadimplência de clientes (provisão para devedores), pagamento de impostos determinados pelo fisco em disputas judiciais ou subida forte das despesas da empresa, por exemplo, têm impacto direto na última linha do balanço.
Segundo companhias que já apresentaram os resultados, as razões são as mais diversas. A petroquímica Braskem, por exemplo, disse que gerou menos caixa em 2006 em relação ao ano passado, por conta "da apreciação do real no período, (...) do aumento significativo da nafta, principal matéria-prima da companhia, e dos custos com energia (elétrica, gás natural e óleo combustível)".
O grupo privado encerrou o segundo trimestre com prejuízo de R$ 54 milhões -no mesmo intervalo de 2005, o lucro foi de R$ 437 milhões.
A Sadia, maior empresa de alimentos do país, reclama da retração do mercado externo e da falta de rentabilidade no mercado doméstico.
"Os mercados árabe e europeu reduziram fortemente o ritmo de compra e os preços internacionais caíram. Mesmo dentro do país, os preços despencaram por conta do excesso de oferta de mercadoria. Por isso, os resultados foram ruins", disse Luiz Murat, diretor financeiro da empresa.
Silvio Sales, chefe da coordenação de indústria do IBGE, afirmou na sexta-feira que a queda de 1,7% na produção industrial em junho foi resultado da continuidade do efeito cambial e da crise agrícola, combinada a fatores pontuais.

Retorno em baixa
O câmbio entra na pauta porque, quando o dólar perde valor diante da moeda brasileira, para cada item exportado, as empresas embolsam menos reais. O dólar sofreu desvalorização de 7,43% neste ano, até junho.
Pelas contas da área de investidores da Companhia Vale do Rio Doce, cada 1% de apreciação do dólar norte-americano em relação ao real gera aumento do Ebitda (lucro antes de despesas financeiras, impostos, depreciação e amortização) de aproximadamente 0,5%, em um período de 12 meses.
No mercado doméstico, as companhias ainda fecharam o semestre com uma piora no indicador chamado ROE (retorno sobre patrimônio) -que mostra, grosso modo, o quanto uma empresa consegue crescer usando nada além daquilo que ela já tem.
Essa rentabilidade ficou em 2% em junho de 2006, contra 8% em junho de 2005 e 14% em 2004. Como esse indicador é calculado pela divisão do lucro pelo patrimônio, e como o lucro caiu, o ROE fica menor.
A análise dos resultados das 50 empresas mostra ainda que a capacidade de as companhias gerarem lucro operacional para pagar dívidas caiu -número obtido pela relação entre Ebit e dívida líquida. De cada R$ 8 que as companhias registram como resultado operacional, existem R$ 100 em dívidas. Há um ano, eram R$ 21 para cada R$ 100.
Todos esses dados precisam ser analisados com cautela: cada balanço aponta fatos particulares para uma melhora ou piora nos dados. A Net Serviços, por exemplo, teve uma alta de 5,9% no lucro líquido no segundo trimestre porque, de abril a junho, a empresa teve o efeito de mais de R$ 10 milhões da reestruturação de sua dívida, além de um ganho cambial de quase R$ 40 milhões.
Exceções à parte, algumas companhias acreditam que o desempenho fraco do semestre não se repetirá na segunda metade do ano. "Já estamos percebendo uma melhora nos resultados", disse Murat, da Sadia.


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