São Paulo, domingo, 06 de agosto de 2006

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Megadoleiro preso em Praga há um ano é extraditado ao país

Foto divulgação
Hélio Laniano, preso há um ano em Praga e extraditado na sexta


Hélio Laniado é apontado como o campeão de remessas ilegais e considerado "caixa-preta" capaz de revelar outros nomes

Embora neguem as acusações, advogados devem tentar conseguir o regime de delação premiada para o seu cliente

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O doleiro brasileiro Hélio Renato Laniado, preso pela Interpol e pela Polícia Federal há quase um ano em Praga, foi extraditado na sexta-feira da República Tcheca para o Brasil. Ele já está sob custódia da PF.
Entre dezenas de doleiros investigados há anos pela PF e pelo MPF (Ministério Público Federal), Laniado é apontado como o campeão de remessas ilegais para fora do Brasil.
Ele é considerado a principal "caixa-preta" capaz de revelar nomes de empresários, políticos e endinheirados brasileiros que usaram durante anos esquemas ilegais para remeter dinheiro para fora do país.
Segundo dados da Força-Tarefa CC5 do Ministério Público Federal do Paraná, somente para os EUA, Laniado teria enviado US$ 1,2 bilhão entre outubro de 1995 e junho de 2002.
As movimentações, segundo o MPF, foram feitas em contas de nomes como Watson, Braza, Best e Durant em agências de Nova York dos bancos Banestado e Merchants Bank. As movimentações eram realizadas a partir de contas "offshore" no Caribe e no Uruguai.
A extradição de Laniado foi pedida pelo próprio MPF. Seus advogados negam as acusações.
Laniado teve pelo menos duas prisões preventivas decretadas em 2005. Ficou foragido por meses, até ser preso em Praga, em agosto passado, na Operação Zero Absoluto.

Listas e bancos
A mesma força-tarefa e a PF já investigaram vários outros doleiros e as listas de seus clientes -a algumas das quais a Folha teve acesso em 2005.
A partir dessas apurações, dezenas de empresários, políticos, artistas e esportistas conhecidos do grande público foram investigados e vêm sendo representados pela Receita Federal para, eventualmente, pagar impostos devidos e sonegados nas operações.
A PF, por seu lado, pretende indiciar criminalmente centenas de envolvidos e abriu inquérito, em fevereiro, contra 18 bancos que operam no Brasil para apurar se houve leniência ou colaboração com os doleiros nas remessas ilegais.
No total, há ao menos 269.869 registros de movimentações consideradas irregulares e que podem ter chegado a US$ 8 bilhões em sete anos.
Segundo as investigações, os doleiros usavam uma rede de "offshores" e contas para enviar dinheiro de brasileiros para fora sem pagar impostos.
Todos os bancos citados, que chegaram a ser investigados pelo Banco Central, negam envolvimento com os doleiros.
Segundo a Folha apurou, embora refutem as acusações, os advogados de Laniado devem tentar o regime de delação premiada para seu cliente.
Por esse instrumento, poderia haver uma diminuição da sua eventual pena em troca de informações sobre as operações que realizou -o que pode comprometer muita gente.
Outro doleiro famoso, Antonio de Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, foi condenado a 20 anos de prisão, em duas penas somadas, pelo envio ilegal de "apenas" US$ 150 milhões entre 1997 e 1999.


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