São Paulo, quinta-feira, 06 de agosto de 2009

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Lucratividade da Petrobras cai 50% desde 03

Em 2003, rentabilidade da petrolífera foi de 46%, contra 23% em 2008; real forte e política de preços afetam resultado

Alta no preço do petróleo no período não foi repassada para os combustíveis; investimento subiu 383%, nº de funcionários, 52%

Bloomberg News
Operário na plataforma P-34, da Petrobras, na bacia de Campos

SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Maior empresa da América Latina e terceira empresa mais lucrativa em 2008 entre todas as petrolíferas das Américas, a Petrobras deu cada vez menos menos retorno para seus investidores nos últimos cinco anos, sob o impacto do câmbio e da política de não repassar as grandes variações no preço do petróleo aos combustíveis.
Levantamento feito pela consultoria Economática a pedido da Folha mostra que, em 2003, a Petrobras era a empresa do setor mais rentável das Américas para seus investidores, com índice de 45,96% (um ano antes, era 20,6%). Em 2008, caiu para a sexta posição, com índice de retorno de 22,86%.
No período analisado, a receita da Petrobras cresceu 177%, de US$ 33,1 bilhões para US$ 92 bilhões. O lucro, porém, avançou de forma menos intensa, de US$ 6,1 bilhões, para US$ 14,1 bilhões.
O indicador de rentabilidade observado, conhecido por investidores e especialistas em finanças como ROE (retorno sobre patrimônio em inglês), é a relação entre o lucro proporcionado por uma empresa em um ano e seu patrimônio líquido médio no período.
É um dos indicadores mais importantes para os investidores porque dá uma medida de quanto o capital investido está trazendo em lucro para quem aplicou na empresa.
Entre 2003 e 2008, a rentabilidade da Exxon saltou de 26,15% para 38,53%, tornando-se líder em rentabilidade no mundo. A Murphy Oil passou a ser a segunda (não aparecia no ranking das dez mais rentáveis em 2003), com 30,7%.
Chevron (com evolução de 21,3% para 29,2% na rentabilidade entre 2003 e 2008), Sunoco (de 21,1% para 28,9%) e Occidental Petrol (fora do ranking em 2003; 27,4% ano passado) figuraram, respectivamente, como terceira, quarta e quinta empresas em rentabilidade das Américas.
"Apesar da alta no preço do petróleo nos últimos cinco anos, que favoreceu o aumento da receita de todas as empresas de petróleo, a rentabilidade da Petrobras não acompanhou. É reflexo de uma questão gerencial, que é sua política de preços", diz Marco Antônio Saravalle, da corretora Coinvalores.
"O lucro sozinho é um dado absoluto e não diz muito. O ROE é a real medida de quanto valor a empresa cria para seus investidores", diz o professor de finanças do Ibmec-RJ Nelson de Souza. "Ser controlada e gerida pelo governo interfere em sua capacidade de gerar valor. No mínimo porque as exigências feitas a uma empresa privada são maiores."
A Petrobras vende no mercado externo a maior parte do petróleo que produz porque seu parque de refino não é adaptado para o óleo pesado que predomina na Bacia de Campos. E compra óleo leve, de fora, para refinar no país. O óleo leve é mais caro.
A Petrobras mantém uma política, determinada pelo governo, seu controlador, de não repassar aos combustíveis as variações do preço do petróleo.
Entre 2003 e 2008, o número de funcionários na empresa e em suas subsidiárias cresceu 52%, de 48 mil para 74 mil pessoas. No período, os investimentos avançaram 383%, de US$ 6 bilhões para US$ 29 bilhões.

PAC
Os investimentos da empresa representam a base do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), maior programa de obras do governo Lula.
Do caixa da Petrobras sairão quase 30% dos recursos previstos inicialmente nos projetos do programa entre 2007 e 2010.
Entre 2005 e meados de 2008, período em que a cotação do barril de petróleo explodiu, a empresa absorveu em seu caixa o custo de não reajustar o preço da gasolina. Essa política de preços, se prejudicou o resultado da Petrobras, ajudou no combate à inflação.
No segundo semestre de 2008 e início de 2009, a situação foi oposta: a empresa não reduziu o preço da gasolina, apesar da queda do petróleo.
"Isso ajudou a recompor parte das perdas, mas não o suficiente para recuperar as perdas passadas", afirma Lucas Brendler, analista do Banco Geração Futuro.
Segundo Brendler, outro fator negativo foi a questão cambial. "Como empresa exportadora, a Petrobras sofreu o impacto da alta do câmbio nos últimos anos, o que afetou sua capacidade de gerar receita".
O analista lembra, ainda, que nos últimos seis anos a Petrobras foi obrigada a investir em ativos no exterior, como resposta ao crescimento da concorrência no mercado brasileiro, depois do fim do monopólio. Esses ativos também trouxeram impacto negativo ao balanço da empresa, com a queda do dólar.


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