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ANÁLISE
Retirada de estímulos fiscais requer cuidado
DO "FINANCIAL TIMES"
A retirada dos estímulos à
economia precisa ser gerida
com cuidado. Quando os líderes do G20 se reuniram no segundo trimestre, estavam unidos pelo medo de uma cruel recessão mundial. Na reunião
que os ministros de Finanças
do grupo realizam agora em
Londres, para preparar uma
conferência de cúpula mais
ampla marcada para daqui a algumas semanas em Pittsburgh,
haverá mais dificuldade para
chegar a um acordo sobre como
amparar uma recuperação
mundial sustentável.
No primeiro trimestre do
ano, as economias do G7, grandes países industrializados, estavam se contraindo em ritmo
anualizado de 8,4%. Os tremores causados pela crise do setor
financeiro e o colapso no comércio global, que caiu 17% de
setembro a dezembro de 2008,
foram sentidos no mundo todo.
Os ministros agora sabem
que o primeiro trimestre representou uma exceção, um período singular de queda no nível
de atividade das economias
mundiais. Um número menor
de bancos reporta aperto na situação de crédito, agora. Os
ágios dos papéis empresariais
continuam elevados, mas recuaram ante os picos atingidos
no passado recente. Tornou-se
claro agora que o volume do comércio mundial se estabilizou
no início de 2009.
As economias mercantilistas
dependentes de exportações
desfrutaram de recuperações
acentuadas: Alemanha e Japão,
que registram quedas anualizadas da ordem de 13,4% e 11,7%,
respectivamente, no primeiro
trimestre deste ano, se recuperaram e retomaram o crescimento no segundo trimestre, à
razão de 1,3% e 3,7% anuais.
As nações de consumo elevado recuperaram ao menos parte de sua confiança. A economia dos Estados Unidos encolheu no segundo trimestre, mas
a OCDE (Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico) antecipa que ela
voltará a crescer no terceiro.
O Reino Unido provavelmente será o último dos grandes países a recomeçar a crescer, mas a contração de sua economia deve se encerrar antes
do final do ano.
Seria perigoso, no entanto,
presumir que o crescimento
firme será agora retomado. Os
Estados Unidos e o Reino Unido estão pesadamente endividados, e não se pode contar que
retomem a posição de consumidores do planeta. Alguns países historicamente frugais precisarão estimular seu consumo
interno em caráter permanente se desejam garantir que o
crescimento continue.
Não se sabe ao certo que proporção da produção está relacionada diretamente aos pacotes de estímulo. Em termos
agregados, essas medidas de estímulo à demanda respondem
por quase 2% da produção total
dos países do G20. Na Alemanha, o consumo privado foi elevado em cerca de 1% no primeiro semestre deste ano como resultado de um programa financiado pelo governo para o uso
de carros velhos como pagamento de entrada no financiamento de veículos novos.
Como declarou ontem Dominique Strauss-Kahn, diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), a retirada das medidas de estímulo
terá de ser conduzida com delicadeza, e não antes que os domicílios e empresas estejam à
altura de "receber o bastão"
passado pelo setor público, no
que tange a apoiar o crescimento econômico.
Surgiram divisões entre os
membros do G20: Alemanha e
França adotaram retórica mais
belicosa quanto ao corte de dívidas. O Reino Unido, em particular, defende a flexibilidade. E
o governo britânico está certo
em fazê-lo. Os governos só deveriam retirar as medidas de
estímulo na velocidade com
que a recuperação econômica o
permita. Se isso significa que
será necessário prorrogar os
programas existentes, que assim seja. O G20 deve oferecer
cobertura política a essa necessidade, caso exista, e não dificultar que ela seja atendida.
Não é hora de estabelecer planos econômicos rígidos, porque a situação econômica continua muito indefinida.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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