São Paulo, domingo, 06 de setembro de 2009

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ANÁLISE

Retirada de estímulos fiscais requer cuidado

DO "FINANCIAL TIMES"

A retirada dos estímulos à economia precisa ser gerida com cuidado. Quando os líderes do G20 se reuniram no segundo trimestre, estavam unidos pelo medo de uma cruel recessão mundial. Na reunião que os ministros de Finanças do grupo realizam agora em Londres, para preparar uma conferência de cúpula mais ampla marcada para daqui a algumas semanas em Pittsburgh, haverá mais dificuldade para chegar a um acordo sobre como amparar uma recuperação mundial sustentável.
No primeiro trimestre do ano, as economias do G7, grandes países industrializados, estavam se contraindo em ritmo anualizado de 8,4%. Os tremores causados pela crise do setor financeiro e o colapso no comércio global, que caiu 17% de setembro a dezembro de 2008, foram sentidos no mundo todo.
Os ministros agora sabem que o primeiro trimestre representou uma exceção, um período singular de queda no nível de atividade das economias mundiais. Um número menor de bancos reporta aperto na situação de crédito, agora. Os ágios dos papéis empresariais continuam elevados, mas recuaram ante os picos atingidos no passado recente. Tornou-se claro agora que o volume do comércio mundial se estabilizou no início de 2009.
As economias mercantilistas dependentes de exportações desfrutaram de recuperações acentuadas: Alemanha e Japão, que registram quedas anualizadas da ordem de 13,4% e 11,7%, respectivamente, no primeiro trimestre deste ano, se recuperaram e retomaram o crescimento no segundo trimestre, à razão de 1,3% e 3,7% anuais.
As nações de consumo elevado recuperaram ao menos parte de sua confiança. A economia dos Estados Unidos encolheu no segundo trimestre, mas a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) antecipa que ela voltará a crescer no terceiro. O Reino Unido provavelmente será o último dos grandes países a recomeçar a crescer, mas a contração de sua economia deve se encerrar antes do final do ano.
Seria perigoso, no entanto, presumir que o crescimento firme será agora retomado. Os Estados Unidos e o Reino Unido estão pesadamente endividados, e não se pode contar que retomem a posição de consumidores do planeta. Alguns países historicamente frugais precisarão estimular seu consumo interno em caráter permanente se desejam garantir que o crescimento continue.
Não se sabe ao certo que proporção da produção está relacionada diretamente aos pacotes de estímulo. Em termos agregados, essas medidas de estímulo à demanda respondem por quase 2% da produção total dos países do G20. Na Alemanha, o consumo privado foi elevado em cerca de 1% no primeiro semestre deste ano como resultado de um programa financiado pelo governo para o uso de carros velhos como pagamento de entrada no financiamento de veículos novos.
Como declarou ontem Dominique Strauss-Kahn, diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), a retirada das medidas de estímulo terá de ser conduzida com delicadeza, e não antes que os domicílios e empresas estejam à altura de "receber o bastão" passado pelo setor público, no que tange a apoiar o crescimento econômico.
Surgiram divisões entre os membros do G20: Alemanha e França adotaram retórica mais belicosa quanto ao corte de dívidas. O Reino Unido, em particular, defende a flexibilidade. E o governo britânico está certo em fazê-lo. Os governos só deveriam retirar as medidas de estímulo na velocidade com que a recuperação econômica o permita. Se isso significa que será necessário prorrogar os programas existentes, que assim seja. O G20 deve oferecer cobertura política a essa necessidade, caso exista, e não dificultar que ela seja atendida.
Não é hora de estabelecer planos econômicos rígidos, porque a situação econômica continua muito indefinida.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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