São Paulo, domingo, 06 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DEPOIS DAS URNAS

Após meses de turbulência, analistas não esperam mais estragos na economia seja quem for o eleito

Mercado vê condição de "trégua pós-eleição"

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de meses de estresse atribuído ao risco eleitoral, os agentes do mercado financeiro não vêem hoje nenhuma probabilidade de ruptura que venha a prejudicar o desempenho da economia no ano que vem, seja quem for o novo presidente -desde que algumas poucas condições sejam cumpridas.
Na última semana, as equipes dos departamentos de economia de importantes instituições e consultorias financeiras passaram a fazer projeções para o período pós-eleição. A maioria das instituições trabalha com um cenário só, sem discriminar se esse ou aquele candidato será o escolhido.
Os analistas não esperam que a definição de quem será o eleito cause estragos na economia. "Não haverá córner [pressão] nem explosão do câmbio e da inflação, tampouco risco de calote da dívida após a eleição", diz Luis Fernando Lopes, vice-presidente e economista-chefe do JP Morgan no Brasil.
Segundo os analistas, a pancadaria desencadeada pelo temor de um calote na dívida pública interna, que fez o câmbio explodir e corroeu até à medula o valor dos títulos da dívida externa brasileira nos últimos meses, poderá refluir nos próximos dias. Mesmo que vença a oposição.
Segundo os analistas, se ganhar o Lula e, de imediato, ele anunciar sua equipe -inclusive o presidente do Banco Central- e esclarecer as linhas mestras da política econômica, novas turbulências serão evitadas.
Dessa forma, o cenário para 2003 será muito parecido ao que ocorreria em um governo do tucano José Serra (o preferido da maioria do mercado financeiro), segundo os analistas.
"Será um ano difícil e quem quer que ganhe a eleição terá de buscar o apoio do FMI e programar um superávit primário em torno de 4% do PIB", diz Carlos Kawall, economista-chefe do Citibank.
Superávit primário (receitas menos despesas, exceto gastos com juros) é o dinheiro que o governo economiza para abater parcelas de sua dívida.

Crédito externo
O grande problema a ser resolvido pelo novo governo é a dificuldade de o país obter crédito externo no curto prazo, segundo opinião unânime de analistas de bancos e consultorias financeiras ouvidos pela Folha.
"Sem linhas de financiamento externo para as empresas, a economia se ressentirá e cairá, diz Renato Russo, vice-presidente da Sul América Investimentos. Na sua opinião, se o eleito for José Serra (PSDB), ele terá de enfrentar restrições ao crédito "iguaizinhas às que Lula (PT) enfrentaria. Mas com ele seria mais fácil a retomada do financiamento".
Para Russo, "em um eventual governo Lula, o que amenizará esse problema é o novo governo mostrar consistência de política econômica e comprometimento com metas fiscal e de inflação".
Embora concordem no atacado, os analistas divergem na hora de fazer as contas do impacto das restrições externas de financiamento da economia.
As projeções de crescimento do PIB oscilam entre -0,5% e 3,5% para o ano que vem. As projeções para juros e câmbio também variam. A taxa básica de juros, a Selic, ficaria entre 13% e 16% ao ano. No final de 2003, US$ 1 poderá valer de R$ 3,25 a R$ 3,60, segundo as projeções.
"Em 2003 não haverá espaço para a queda do dólar, pois o fluxo de recursos para países emergentes, como o Brasil, não deverá melhorar devido à crise internacional", diz Fernando Honorato Barbosa, economista do BBV Banco. "E a taxa de juros vai depender da queda do dólar e da inflação", acrescenta.

Cenários
O BBV, desde agosto, trabalha com vários cenários macroeconômicos que levam em conta o perfil político e as propostas dos principais candidatos à Presidência. Os analistas do banco fazem prognósticos para o caso de vitória do candidato do governo, José Serra, e desenham três cenários possíveis se vencer a oposição. Segundo Honorato, essas projeções estão sendo revistas e prevalecerá só um cenário para a oposição.
O ABN Amro Asset Management, segundo seu economista-chefe Hugo Penteado, não distingue em seu cenário para 2003 esse ou aquele candidato. "Estamos levando em conta a possibilidade de ter ou não um choque de confiança com o novo governo", diz Penteado. Segundo ele, os mercados de câmbio, juros, Bolsa e títulos da dívida se deterioraram muito nos últimos dias porque estavam antecipando um futuro sombrio para a economia.
Passada a eleição, segundo Penteado, os preços desses ativos devem melhorar, "pois o mercado vai ver que somos capazes de escolher pessoas certas para conduzir a economia e que não há risco de mudanças radicais".
Na opinião de Penteado, o controle da inflação é condição para o crescimento econômico e deve nortear as políticas monetária e fiscal. "Lula, se eleito, irá dar prioridade a isso com mais afinco do que um governo de situação, até porque estaria governando pela primeira vez", diz.


Texto Anterior: Painel S.A.
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.