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DEPOIS DAS URNAS
Após meses de turbulência, analistas não esperam mais estragos na economia seja quem for o eleito
Mercado vê condição de "trégua pós-eleição"
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de meses de estresse
atribuído ao risco eleitoral, os
agentes do mercado financeiro
não vêem hoje nenhuma probabilidade de ruptura que venha a
prejudicar o desempenho da economia no ano que vem, seja quem
for o novo presidente -desde
que algumas poucas condições
sejam cumpridas.
Na última semana, as equipes
dos departamentos de economia
de importantes instituições e consultorias financeiras passaram a
fazer projeções para o período
pós-eleição. A maioria das instituições trabalha com um cenário
só, sem discriminar se esse ou
aquele candidato será o escolhido.
Os analistas não esperam que a
definição de quem será o eleito
cause estragos na economia. "Não
haverá córner [pressão] nem explosão do câmbio e da inflação,
tampouco risco de calote da dívida após a eleição", diz Luis Fernando Lopes, vice-presidente e
economista-chefe do JP Morgan
no Brasil.
Segundo os analistas, a pancadaria desencadeada pelo temor de
um calote na dívida pública interna, que fez o câmbio explodir e
corroeu até à medula o valor dos
títulos da dívida externa brasileira
nos últimos meses, poderá refluir
nos próximos dias. Mesmo que
vença a oposição.
Segundo os analistas, se ganhar
o Lula e, de imediato, ele anunciar
sua equipe -inclusive o presidente do Banco Central- e esclarecer as linhas mestras da política
econômica, novas turbulências
serão evitadas.
Dessa forma, o cenário para
2003 será muito parecido ao que
ocorreria em um governo do tucano José Serra (o preferido da
maioria do mercado financeiro),
segundo os analistas.
"Será um ano difícil e quem
quer que ganhe a eleição terá de
buscar o apoio do FMI e programar um superávit primário em
torno de 4% do PIB", diz Carlos
Kawall, economista-chefe do Citibank.
Superávit primário (receitas
menos despesas, exceto gastos
com juros) é o dinheiro que o governo economiza para abater parcelas de sua dívida.
Crédito externo
O grande problema a ser resolvido pelo novo governo é a dificuldade de o país obter crédito externo no curto prazo, segundo
opinião unânime de analistas de
bancos e consultorias financeiras
ouvidos pela Folha.
"Sem linhas de financiamento
externo para as empresas, a economia se ressentirá e cairá, diz
Renato Russo, vice-presidente da
Sul América Investimentos. Na
sua opinião, se o eleito for José
Serra (PSDB), ele terá de enfrentar restrições ao crédito "iguaizinhas às que Lula (PT) enfrentaria.
Mas com ele seria mais fácil a retomada do financiamento".
Para Russo, "em um eventual
governo Lula, o que amenizará esse problema é o novo governo
mostrar consistência de política
econômica e comprometimento
com metas fiscal e de inflação".
Embora concordem no atacado, os analistas divergem na hora
de fazer as contas do impacto das
restrições externas de financiamento da economia.
As projeções de crescimento do
PIB oscilam entre -0,5% e 3,5%
para o ano que vem.
As projeções para juros e câmbio
também variam. A taxa básica de
juros, a Selic, ficaria entre 13% e
16% ao ano. No final de 2003, US$
1 poderá valer de R$ 3,25 a R$
3,60, segundo as projeções.
"Em 2003 não haverá espaço
para a queda do dólar, pois o fluxo de recursos para países emergentes, como o Brasil, não deverá
melhorar devido à crise internacional", diz Fernando Honorato
Barbosa, economista do BBV
Banco. "E a taxa de juros vai depender da queda do dólar e da inflação", acrescenta.
Cenários
O BBV, desde agosto, trabalha
com vários cenários macroeconômicos que levam em conta o perfil
político e as propostas dos principais candidatos à Presidência. Os
analistas do banco fazem prognósticos para o caso de vitória do
candidato do governo, José Serra,
e desenham três cenários possíveis se vencer a oposição. Segundo Honorato, essas projeções estão sendo revistas e prevalecerá só
um cenário para a oposição.
O ABN Amro Asset Management, segundo seu economista-chefe Hugo Penteado, não distingue em seu cenário para 2003 esse
ou aquele candidato. "Estamos levando em conta a possibilidade
de ter ou não um choque de confiança com o novo governo", diz
Penteado. Segundo ele, os mercados de câmbio, juros, Bolsa e títulos da dívida se deterioraram
muito nos últimos dias porque estavam antecipando um futuro
sombrio para a economia.
Passada a eleição, segundo Penteado, os preços desses ativos devem melhorar, "pois o mercado
vai ver que somos capazes de escolher pessoas certas para conduzir a economia e que não há risco
de mudanças radicais".
Na opinião de Penteado, o controle da inflação é condição para o
crescimento econômico e deve
nortear as políticas monetária e
fiscal. "Lula, se eleito, irá dar prioridade a isso com mais afinco do
que um governo de situação, até
porque estaria governando pela
primeira vez", diz.
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