São Paulo, sexta-feira, 06 de outubro de 2006

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VINICIUS TORRES FREIRE

Máquinas ociosas

Dados da indústria indicam que PIB não deve ir além de 3% e que "sobra" capacidade para a economia crescer mais

DESDE AGOSTO é cada vez mais forte a impressão de que o país tem desperdiçado crescimento, mesmo levando em conta argumentos e números conservadores a respeito do potencial da economia (ainda assim, sempre muito imprecisos). "O Banco Central errou na dose de juros" é a expressão que traduz em linguagem pop a constatação desse desperdício de PIB.
Mas como a bola de cristal matemática do BC é tão turva como qualquer outro aparelho de profecias econômicas, o que passou, passou.
Importa mais agora é recuperar o tempo perdido, parar de deitar fora chances de crescer, ao menos no curto e no médio prazos, e de desperdiçar dinheiro público, pois política monetária apertada custa caro.
Ontem foi dia de fornada de indicadores e de mais sinais de tempo perdido. Saiu a produção industrial de agosto, alta de 0,7% no mês. Economistas do Itaú estimam que, com crescimento industrial de 1% em setembro, o PIB subiria em torno de 0,8% no terceiro trimestre. Afora milagres de Natal, o PIB fecharia o ano em torno de 3%. Mas setembro não está com uma cara boa.
O dado mais animador do ano é que o investimento vai crescer acima do PIB. Investimento em alta significa maior capacidade de produção industrial. No "Relatório de Inflação" de setembro, o BC recorreu à variação do nível de utilização da capacidade produtiva da indústria a fim de mostrar que a política monetária (mudanças nos juros) é eficaz e afeta a atividade econômica num prazo em torno de seis meses.
Ou seja, o uso da capacidade da indústria tenderia a voltar a seus níveis mais altos daqui a seis meses, reflexo da queda do juro real para seu patamar histórico mais baixo, o que está ocorrendo agora.
O problema é que a taxa de uso dos equipamentos industriais tem reagido em ritmo muito lento. De resto, como mostra o gráfico ao lado, faz algum tempo que parece "sobrar" capacidade produtiva (compara-se o nível de utilização da capacidade instalada, medido pela Confederação da Indústria, com o índice de produção industrial do IBGE).
A indústria vinha queimando estoques, o que pode explicar uma parte, parte agora quase negligenciável, de seu desempenho medíocre. A inflação baixa em parte se deve ao câmbio -em parte, se deve à baixa expansão econômica.
Ainda ontem, saíram os números das vendas da Associação Brasileira de Supermercados, os quais indicam um baixo apetite do consumidor por produtos de maior valor. A indústria automobilística ainda vai relativamente bem, mostram os dados de ontem, mas suas exportações sofrem com o real forte. O câmbio continua a razia nos setores de bens não-duráveis (comida, roupa, plásticos etc.) e de insumos industriais.
Pelo andar da carruagem, o BC terá mesmo de testar um novo piso histórico para os juros.


vinit@uol.com.br

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