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VINICIUS TORRES FREIRE
Máquinas ociosas
Dados da indústria indicam que PIB não deve ir além de 3% e que "sobra" capacidade para a economia crescer mais
DESDE AGOSTO é cada vez mais
forte a impressão de que o
país tem desperdiçado crescimento, mesmo levando em conta
argumentos e números conservadores a respeito do potencial da economia (ainda assim, sempre muito imprecisos). "O Banco Central errou
na dose de juros" é a expressão que
traduz em linguagem pop a constatação desse desperdício de PIB.
Mas como a bola de cristal matemática do BC é tão turva como qualquer outro aparelho de profecias
econômicas, o que passou, passou.
Importa mais agora é recuperar o
tempo perdido, parar de deitar fora
chances de crescer, ao menos no
curto e no médio prazos, e de desperdiçar dinheiro público, pois política monetária apertada custa caro.
Ontem foi dia de fornada de indicadores e de mais sinais de tempo
perdido. Saiu a produção industrial
de agosto, alta de 0,7% no mês. Economistas do Itaú estimam que, com
crescimento industrial de 1% em setembro, o PIB subiria em torno de
0,8% no terceiro trimestre. Afora
milagres de Natal, o PIB fecharia o
ano em torno de 3%. Mas setembro
não está com uma cara boa.
O dado mais animador do ano é
que o investimento vai crescer acima do PIB. Investimento em alta
significa maior capacidade de produção industrial. No "Relatório de
Inflação" de setembro, o BC recorreu à variação do nível de utilização
da capacidade produtiva da indústria a fim de mostrar que a política
monetária (mudanças nos juros) é
eficaz e afeta a atividade econômica
num prazo em torno de seis meses.
Ou seja, o uso da capacidade da indústria tenderia a voltar a seus níveis mais altos daqui a seis meses,
reflexo da queda do juro real para
seu patamar histórico mais baixo, o
que está ocorrendo agora.
O problema é que a taxa de uso dos
equipamentos industriais tem reagido em ritmo muito lento. De resto,
como mostra o gráfico ao lado, faz
algum tempo que parece "sobrar"
capacidade produtiva (compara-se o
nível de utilização da capacidade
instalada, medido pela Confederação da Indústria, com o índice de
produção industrial do IBGE).
A indústria vinha queimando estoques, o que pode explicar uma
parte, parte agora quase negligenciável, de seu desempenho medíocre. A inflação baixa em parte se deve ao câmbio -em parte, se deve à
baixa expansão econômica.
Ainda ontem, saíram os números
das vendas da Associação Brasileira
de Supermercados, os quais indicam
um baixo apetite do consumidor por
produtos de maior valor. A indústria
automobilística ainda vai relativamente bem, mostram os dados de
ontem, mas suas exportações sofrem com o real forte. O câmbio continua a razia nos setores de bens
não-duráveis (comida, roupa, plásticos etc.) e de insumos industriais.
Pelo andar da carruagem, o BC terá mesmo de testar um novo piso
histórico para os juros.
vinit@uol.com.br
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