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São Paulo, quinta-feira, 06 de novembro de 2003

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ETERNO REGRESSO

Após desencontros, sai acordo que prevê investimento em saneamento e prazo maior para pagar ao Fundo

Pacote do FMI terá US$ 6 bi em dinheiro novo

Lula Marques/Folha Imagem
Anne Krueger, número dois do Fundo, e o ministro Antonio Palocci


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Horas depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva negar, em Moçambique, a possibilidade de um acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) enquanto estivesse fora do Brasil, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, anunciou os detalhes do novo entendimento com o Fundo -o primeiro a ser firmado pelo governo petista.
Ao lado da vice-diretora-gerente do FMI, Anne Krueger, Palocci disse que o país terá acesso a uma linha de crédito de US$ 14 bilhões, dos quais US$ 6 bilhões em dinheiro novo e US$ 8 bilhões remanescentes do acordo atual. A Fazenda diz que o acordo é "preventivo": não há intenção, a princípio, de sacar os recursos.
Haverá também mais prazo para o pagamento das dívidas com o Fundo e a possibilidade de destinar ao setor de saneamento básico R$ 2,9 bilhões em 2004 -resultado da economia feita neste ano acima das metas negociadas com o FMI.
O anúncio do que Palocci chamou de "proposta" de acordo, no começo da noite, encerrou um dia inteiro de confusões e declarações desencontradas das autoridades do Fundo e do governo, iniciadas pelo presidente da República.
"Não é possível haver acordo com o presidente estando em Moçambique", disse Lula, quando ainda era manhã em Brasília. Àquela altura, a equipe econômica já aguardava a chegada de Krueger para uma divulgação conjunta do acordo.
O ministro Guido Mantega (Planejamento) reforçou as afirmações do presidente: "Não sabemos se [o acordo] vai ser fechado. Só será feita essa formalização quando o presidente Lula voltar".
Já o chefe da missão do FMI no Brasil, Jorge Márquez-Ruarte, dava como certo o acordo.
Segundo a Folha apurou, Lula interveio para preservar sua autoridade, evitando que Palocci desse a palavra final sobre o acordo. O tema é delicado para os petistas, críticos históricos do Fundo, e o presidente quer trabalhar politicamente sua divulgação.
Não por acaso, Lula, nas declarações de ontem, minimizou a necessidade do acordo, pregou mudanças no FMI e, entre o crescimento econômico e o controle das contas públicas, tratou o primeiro como mais importante.
"O ajuste fiscal foi fracassado na maioria dos países. Os países estão precisando voltar a crescer, e é essa a base de qualquer acordo", disse o presidente.
No acordo anunciado por Palocci, porém, o ponto central continua sendo um superávit primário (a economia destinada a pagar juros da dívida) médio de 4,25% do Produto Interno Bruto em 2003 e 2004 -com a inovação que permite gastar em 2004 o dinheiro cortado além do necessário neste ano.


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