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LUÍS NASSIF
Um subsídio moderno
Em um país em que subsídio virou palavrão, política social, sinal de anacronismo, e Tesouro Nacional, ícone
de insensibilidade, vale a pena
registrar a experiência -ainda incipiente- do PSH (Programa de Subsídio para Habitação de Interesse Social).
É um modelo descentralizado, transparente, que, se contar com um pouco de sensibilidade e responsabilidade social
do setor bancário, poderá trazer resultados expressivos para a solução do problema da
habitação de baixa renda no
país.
O programa começou a ser
pensado em 2001 por técnicos
do Tesouro, traumatizados
por sucessivos esqueletos que o
órgão teve de absorver ao longo da década.
Na análise da situação, o
principal problema para um
programa em massa eram os
custos bancários e a capacidade de pagamento do mutuário.
Os técnicos fizeram os primeiros cálculos. Para uma
prestação de R$ 200 mensais,
a 6% ao ano mais TR (Taxa
Referencial), em 72 meses, seria possível um financiamento
de R$ 2.500,00. Os bancos disseram ser inviável remuneração dessa ordem.
Decidiu-se então disponibilizar recursos que subsidiassem os financiamentos de forma direta. Ocorre que nem o
Tesouro nem o Ministério das
Cidades têm estrutura para
fiscalizar e aplicar recursos.
Apelou-se para um mecanismo de leilão, pelo qual a instituição que apresentar o menor
custo terá direito ao subsídio
para financiamento para famílias de renda familiar bruta
de R$ 740,00, ao prazo máximo de 72 meses. Foi montada
uma tabela com faixas de subsídios de acordo com as regiões, com especial ênfase para
as regiões metropolitanas
-onde se concentram a
maior miséria e os maiores
custos.
No primeiro leilão, R$ 150
milhões para financiamento
de 20 mil casas, o Tesouro Nacional pagou R$ 1.700,00 de
subsídio para cada contrato
de R$ 2.500,00. No segundo
leilão, esse valor caiu para R$
1.100,00. Depois, em 2003, para R$ 800,00.
O último, neste ano, saiu por
R$ 400,00, vencido pela Caixa
Econômica Federal. O risco de
crédito é inteiramente da instituição.
Entre 2003 e 2004, o PSH
permitiu financiar 80 mil moradias, quantidade maior que
a do Sistema Financeiro da
Habitação. Mas a maioria dos
contratos foi bancada pelos
bancos públicos federais. Só a
Caixa Econômica Federal assumiu 80% deles. A única exceção, entre os privados, foi o
Bradesco, mas em valores pequenos.
Se os demais bancos entrarem no processo, se se montarem esquemas de barateamento de custos -como o da
cobrança e pagamento via
Correios, por exemplo-, será
possível.
É o tipo do programa que
poderia ajudar o sistema bancário a diluir parte do desgaste de imagem que vem sofrendo, por contas das taxas de juros e dos "spreads" (diferença
entre a taxa de captação dos
bancos e a cobrada na ponta).
O risco é diluído, permite ao
banco exercitar o conceito de
responsabilidade social, ser
bem-visto pela comunidade e
lustrar a imagem para a próxima etapa da vida do país
-assim que os celerados do
Banco Central permitirem a
volta do crédito.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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