|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
COFRE ABERTO
Dilma negocia com área econômica liberação de até R$ 900 mi em despesas adicionais, a serem anunciadas nesta semana
Governo vai relaxar o controle de gastos
VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal anunciará
nesta semana uma folga na política de controle dos gastos orçamentários deste ano, que poderá
resultar em gastos adicionais de
até R$ 900 milhões.
A liberação foi negociada nos
últimos dias entre a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e a área
econômica. Dilma vem enfrentando os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento), defensores do aprofundamento do aperto
fiscal -que deve apresentar números recordes neste ano.
Segundo a Folha apurou, o desempenho acima do esperado da
arrecadação tributária facilitou o
entendimento para a expansão
dos gastos. Avalia-se que há margem para desbloquear uma parcela mais expressiva dos gastos
sem maior alteração dos resultados esperados.
Já estão assegurados cerca de R$
500 milhões para a ampliação da
despesa. Procuram-se agora
meios de elevar o valor aos R$ 900
milhões.
Em fevereiro, um decreto do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou o represamento de
R$ 15,9 bilhões das despesas orçamentárias, atingindo principalmente investimentos, saneamento, defesa e reforma agrária. Como já virou praxe na administração federal, a liberação posterior
do dinheiro foi condicionada ao
desempenho da receita.
Desde então, a elevação da carga
tributária permitiu que, do total
contingenciado no início do ano,
R$ 2,5 bilhões fossem liberados
para gastos. No afrouxamento
mais recente, em setembro, saíram R$ 820 milhões, destinados
na maior parte às áreas de transporte e educação.
Nas últimas semanas, medidas
provisórias também têm autorizado novas despesas. A maior delas, de R$ 350 milhões, foi destinada a reformas nos aeroportos de
Guarulhos e Congonhas, no Estado de São Paulo, e em outros cinco Estados.
Embora representem muito para os ministérios beneficiados e
para os parlamentares que incluem obras paroquiais no Orçamento, o dinheiro liberado a conta-gotas pela área econômica não
impede o governo de caminhar
para um aperto fiscal bem superior às metas oficiais.
Superávit
De janeiro a setembro deste ano,
União, Estados, municípios e estatais economizaram R$ 86,502
bilhões para o pagamento de juros da dívida. O valor, chamado
de superávit primário, superou
em quase R$ 4 bilhões a meta fixada para todo o ano pelo governo.
Não por acaso, já é consenso entre os analistas de mercado que a
área econômica, na prática, trabalha com uma meta de superávit
superior aos 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto) fixados nas
leis orçamentárias para este ano.
De acordo com pesquisa do
Banco Central, o ponto médio das
expectativas do mercado para o
superávit primário deste ano já
chegou a 4,6% do PIB. Boa parte
dos bancos e empresas de consultoria já fala em resultados na casa
dos 5% do PIB.
Nos bastidores, os ministros Palocci e Bernardo defendem uma
meta explicitamente mais elevada, além de reformas voltadas para reduzir os gastos obrigatórios
da União -proposta considerada polêmica porque implicaria
cortes na área social.
Dilma, aliada ao ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais), reagiu a esse movimento, repetindo o papel desempenhado por seu antecessor, José
Dirceu. Conforme declaração publicada na última sexta-feira pela
Folha, a ministra Dilma vê um
"conservadorismo intrínseco" à
política fiscal.
Dilma tem sabatinado todos os
ministros para acelerar gastos nas
obras que o governo concluirá em
2006, quando o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva deverá disputar a reeleição.
Texto Anterior: Transporte: Laif alega prejuízo Fundo dos EUA contesta mudança em ferrovia Próximo Texto: Tributação: MP da "Super-Receita" corre risco de naufragar Índice
|