São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2008

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Crise reduz inflação em novembro, diz IBGE

IPCA recua para 0,36%, sob efeito da queda do consumo e do preço das commodities, e deve fechar ano dentro do teto da meta de 6,5%

Em outubro, índice havia subido 0,45%; para instituto, queda no preço de matérias-primas compensa impacto da alta do dólar

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
CIRILO JUNIOR
DA FOLHA ONLINE, NO RIO

Graças à crise, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor) de novembro se desacelerou para 0,36%, resultado que evita o estouro do teto da meta de inflação do governo para 2008 -6,5%. Em outubro, o índice havia sido de 0,45%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Sob efeito da redução do consumo e da queda do preço das commodities em decorrência da turbulência externa, o IPCA de novembro surpreendeu as estimativas de alta na casa dos 0,50% e recolocou as previsões abaixo do teto da meta. Em 12 meses, o índice ficou em 6,39%. No ano, a variação soma 5,61%, de acordo com o IBGE.
Esses dois impactos da crise anularam, pelo menos em novembro, a pressão do câmbio sobre os preços, especialmente de alimentos e bens duráveis. Em novembro, o grupo alimentação subiu 0,61%, abaixo do 0,69% de outubro. O item que mais contribuiu para conter a taxa foi refeição fora de casa -alta de 0,21%. Nos duráveis, os veículos usados cederam 2,61% com a menor demanda e o crédito escasso.
"Não dá para dizer que a pressão do dólar sobre os preços foi evidenciada. Ao mesmo tempo em que o dólar aumenta, as commodities caem. Isso tem efeito no mercado interno", afirma Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE.
Para o economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-RJ, "a crise salvou o teto da meta de inflação", que deve fechar próxima a 6%, com a taxa deste mês ficando no mesmo nível da de novembro. "Mas isso não é uma boa notícia, pois mostra a desaceleração da economia."
Mas o esfriamento da economia, diz Cunha, não assegura que o Banco Central reduza os juros. É que, segundo ele, o câmbio gera uma instabilidade muito grande e seu repasse para os preços é postergado, especialmente em momentos de demanda enfraquecida. "Nesse cenário de incerteza, que deve durar muito tempo, o BC vai optar pela cautela."
Na visão de Marcela Prada, da Tendências, o resultado de novembro afasta a possibilidade de alta dos juros, mas não garante a redução na reunião da próxima semana. "O BC deve optar pela cautela e espera para ver o impacto da depreciação cambial e de como se comportará a demanda."
Para ela, a crise favorecerá a inflação de 2009 também, que deve ficar em 4,8%. Isso porque as commodities se manterão em baixa e o consumo permanecerá desaquecido.
O economista Carlos Thadeu de Freitas Filho, da SLW, avalia, por sua vez, que o cenário de inflação não é tão positivo, já que o câmbio "sempre tem um impacto muito forte sobre os índices de preço". Já em novembro, alguns poucos itens sentiram a pressão do dólar: o microcomputador passou de queda de 1,92% em outubro para alta de 1,78%.
"O dólar subiu muito, e não será desta vez que não haverá repasses, mesmo com a economia desaquecida. O cenário para a inflação não é otimista."
Ele não espera redução tão breve na taxa de juros -mantida em 13,75% ao ano no final de outubro. E estima um IPCA de 5,8% para 2008, justamente por causa da pressão cambial.
"O Banco Central não vai se acomodar. Poderá vir com um tom menos duro, mas a redução da taxa vai depender de indicadores futuros. Nada está muito claro ainda", afirma o economista-chefe da corretora Concórdia, Elson Teles.


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