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Minc acusa Odebrecht de manobrar contra Jirau
Liminar obtida por ambientalistas para impedir o início das obras caiu ontem
Odebrecht afirma que as acusações são infundadas; Fórum de ONGs diz que o governo está a serviço do consórcio vencedor da obra
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, afirmou ontem
que a Odebrecht "manobrou" o
grupo de ambientalistas que
obteve liminar na Justiça Federal de Rondônia contrária à licença de instalação das obras
da usina de Jirau, no rio Madeira. A liminar foi cassada ontem
pelo TRF (Tribunal Regional
Federal) da 1º Região, em recurso movido pelo Ibama.
Segundo Minc, o advogado
do Fboms (Fórum Brasileiro de
ONGs e Movimentos Sociais
para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento), que entrou
com a ação, é o mesmo da Odebrecht. Tanto a ONG como a
construtora negam.
"Na verdade, o que está por
trás disso é uma guerra comercial. Nós descobrimos que o advogado dos ambientalistas é
advogado da Odebrecht", afirmou o ministro.
Desde que o consórcio Enersus, liderado pela franco-belga
Suez, venceu o leilão, em maio,
da usina de Jirau, a Odebrecht,
líder do consórcio adversário,
contesta a decisão do grupo de
alterar o eixo de construção da
barragem em 9,2 km em relação ao projeto original. A construtora ameaça ir à Justiça contra a licitação.
A Enersus alega que a mudança permite uma economia
de R$ 1 bilhão no custo final do
projeto, orçado em R$ 8,7 bilhões.
"É uma guerra pesada entre
dois grandes consórcios. Por
mim, briguem à vontade, mas
não podem prejudicar o Brasil.
Ambientalistas não podem ser
manobrados por interesses de
uma guerra comercial. A energia hidrelétrica é muito menos
poluidora do que as térmicas a
óleo e a carvão", disse Minc.
O governo receia que as liminares atrasem a obra e que os
construtores percam a chamada janela hidrológica. Se isso
acontecer, a obra, prevista para
2012, atrasará um ano e provocará uma despesa de R$ 400
milhões com a geração a óleo
diesel.
Em nota, a Odebrecht diz que
"são infundadas as afirmações
que insinuam o seu envolvimento com organizações ambientais ou seus dirigentes nas
questões judiciais sobre a hidrelétrica de Jirau" e nega estar
"por trás de qualquer iniciativa
de terceiros".
Apesar de Minc não ter citado o nome do advogado, a Odebrecht afirma ainda que Clayton Conrad Kussler, contratado pela Madeira Energia S.A.
(originária do consórcio vencedor, liderado pela Odebrecht),
atua em questões relativas à
usina Santo Antônio (a outra
usina do Madeira), mas nada
tem a ver com a ação que gerou
a liminar.
De acordo com Ivan Marcelo
Neves, secretário-executivo do
Fboms, o advogado do caso é
Magno Neves, que não é pago
pela Odebrecht. Ele reagiu ainda às declarações de Minc.
"Ele vai ter de provar isso. A
gente pode falar, então, que o
Minc está trabalhando para a
Enersus, porque foi o Ibama
que entrou com o recurso contra a liminar. Ele está defendendo os interesses de uma
empresa privada."
De fato, na liminar obtida pelo Fórum Brasileiro de ONGs e
Movimentos Sociais, o consórcio Energia Sustentável do Brasil não apresentou nenhum recurso contra a liminar.
A usina de Jirau faz parte de
um complexo de geração hidrelétrica que começa a ser instalado no rio Madeira. Além desse, há o projeto da Odebrecht, a
usina de Santo Antônio.
Juntos os dois projetos elevarão em 6.450 MW a capacidade instalada de geração no
país.
Colaborou AGNALDO BRITO,
da Reportagem Local
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