São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2008

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Minc acusa Odebrecht de manobrar contra Jirau

Liminar obtida por ambientalistas para impedir o início das obras caiu ontem

Odebrecht afirma que as acusações são infundadas; Fórum de ONGs diz que o governo está a serviço do consórcio vencedor da obra

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, afirmou ontem que a Odebrecht "manobrou" o grupo de ambientalistas que obteve liminar na Justiça Federal de Rondônia contrária à licença de instalação das obras da usina de Jirau, no rio Madeira. A liminar foi cassada ontem pelo TRF (Tribunal Regional Federal) da 1º Região, em recurso movido pelo Ibama.
Segundo Minc, o advogado do Fboms (Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento), que entrou com a ação, é o mesmo da Odebrecht. Tanto a ONG como a construtora negam.
"Na verdade, o que está por trás disso é uma guerra comercial. Nós descobrimos que o advogado dos ambientalistas é advogado da Odebrecht", afirmou o ministro. Desde que o consórcio Enersus, liderado pela franco-belga Suez, venceu o leilão, em maio, da usina de Jirau, a Odebrecht, líder do consórcio adversário, contesta a decisão do grupo de alterar o eixo de construção da barragem em 9,2 km em relação ao projeto original. A construtora ameaça ir à Justiça contra a licitação. A Enersus alega que a mudança permite uma economia de R$ 1 bilhão no custo final do projeto, orçado em R$ 8,7 bilhões.
"É uma guerra pesada entre dois grandes consórcios. Por mim, briguem à vontade, mas não podem prejudicar o Brasil.
Ambientalistas não podem ser manobrados por interesses de uma guerra comercial. A energia hidrelétrica é muito menos poluidora do que as térmicas a óleo e a carvão", disse Minc.
O governo receia que as liminares atrasem a obra e que os construtores percam a chamada janela hidrológica. Se isso acontecer, a obra, prevista para 2012, atrasará um ano e provocará uma despesa de R$ 400 milhões com a geração a óleo diesel.
Em nota, a Odebrecht diz que "são infundadas as afirmações que insinuam o seu envolvimento com organizações ambientais ou seus dirigentes nas questões judiciais sobre a hidrelétrica de Jirau" e nega estar "por trás de qualquer iniciativa de terceiros".
Apesar de Minc não ter citado o nome do advogado, a Odebrecht afirma ainda que Clayton Conrad Kussler, contratado pela Madeira Energia S.A. (originária do consórcio vencedor, liderado pela Odebrecht), atua em questões relativas à usina Santo Antônio (a outra usina do Madeira), mas nada tem a ver com a ação que gerou a liminar.
De acordo com Ivan Marcelo Neves, secretário-executivo do Fboms, o advogado do caso é Magno Neves, que não é pago pela Odebrecht. Ele reagiu ainda às declarações de Minc.
"Ele vai ter de provar isso. A gente pode falar, então, que o Minc está trabalhando para a Enersus, porque foi o Ibama que entrou com o recurso contra a liminar. Ele está defendendo os interesses de uma empresa privada."
De fato, na liminar obtida pelo Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais, o consórcio Energia Sustentável do Brasil não apresentou nenhum recurso contra a liminar.
A usina de Jirau faz parte de um complexo de geração hidrelétrica que começa a ser instalado no rio Madeira. Além desse, há o projeto da Odebrecht, a usina de Santo Antônio. Juntos os dois projetos elevarão em 6.450 MW a capacidade instalada de geração no país.

Colaborou AGNALDO BRITO, da Reportagem Local



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