São Paulo, quarta-feira, 07 de janeiro de 2004

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MERCADO FINANCEIRO

Medida deve favorecer a desvalorização do real, mas Meirelles nega intenção de intervir na taxa de câmbio

BC comprará dólares para reforçar reservas

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A partir de hoje, o Banco Central vai comprar dólares regularmente no mercado financeiro. O objetivo é usar esses dólares para reforçar as reservas em moeda estrangeira do país, que estão em níveis baixos. Embora o BC diga não ter intenção de controlar a taxa de câmbio, a medida deve favorecer a desvalorização do real.
O presidente do BC, Henrique Meirelles, disse que não há intenção de interferir na cotação do dólar, já que, "no Brasil, vigora o regime de câmbio flutuante". Mas, segundo o próprio, quanto maior a procura por dólares, maior a pressão sobre sua cotação.
"Que há influência [das compras do BC na cotação do dólar], não há dúvida, já que todos os agentes de mercado influenciam as cotações. Mas o BC não tem meta específica para a taxa de câmbio", afirmou Meirelles.
Uma alta do dólar favoreceria as exportações brasileiras, colaborando para manter o equilíbrio das contas externas. Dentro do próprio governo, há quem defenda uma atuação mais forte do BC nesse sentido -o ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) já disse em algumas ocasiões que manter a cotação da moeda dos EUA perto de R$ 3 seria o ideal para os exportadores.
Meirelles disse que a maior atuação do BC será possível graças a "um enorme aumento de confiança no país", em referência à recente euforia que tomou conta dos investidores, que resultou em queda do dólar e valorização dos títulos da dívida externa brasileira. "Cada vez mais a normalidade volta aos mercados brasileiros e aos mercados internacionais."
As compras não necessariamente serão feitas todos os dias. "Nossa política de compras será pautada pelas condições de liquidez existentes no mercado."
É das reservas internacionais que saem os recursos usados pelo governo para honrar seus compromissos externos. Mas, desde o ano passado, também para evitar uma queda excessiva nas reservas, o Tesouro Nacional tem intensificado suas compras de dólares no mercado. O objetivo era usar essas divisas para quitar parte da dívida externa do governo.
Descontados os empréstimos do FMI (Fundo Monetário Internacional), as reservas internacionais do Brasil fecharam 2003 em US$ 17,3 bilhões. Elas já chegaram a superar os US$ 60 bilhões nos anos 90, e foram caindo após sucessivas crises, quando o BC usava os recursos para conter uma excessiva desvalorização do real.
Ao longo de 2003, o Tesouro comprou US$ 11,2 bilhões diretamente no mercado. Só no último trimestre, as aquisições somaram US$ 6,3 bilhões -uma média de aproximadamente US$ 115 milhões por dia útil. Meirelles afirmou que o BC não tem um valor fixo a ser comprado no mercado, mas considerou a média de US$ 115 milhões registrada no final do ano passado "um bom número" para ser seguido em 2004.
Segundo o presidente do BC, o fato de o Tesouro ter feito compras dessa magnitude sem que houvesse fortes pressões na taxa de câmbio sinalizam que a atuação do BC também não deve provocar uma desvalorização muito forte do real. Também afirmou que o Tesouro poderá continuar comprando dólares no mercado, mas que as operações ficarão concentradas no BC.
O próprio FMI apontava, ao fim de 2003, que o baixo nível das reservas é uma das principais vulnerabilidades do país. Meirelles disse que as compras de dólares não foram discutidas com o Fundo.


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