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MERCADO FINANCEIRO
Medida deve favorecer a desvalorização do real, mas Meirelles nega intenção de intervir na taxa de câmbio
BC comprará dólares para reforçar reservas
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A partir de hoje, o Banco Central vai comprar dólares regularmente no mercado financeiro. O
objetivo é usar esses dólares para
reforçar as reservas em moeda estrangeira do país, que estão em níveis baixos. Embora o BC diga
não ter intenção de controlar a taxa de câmbio, a medida deve favorecer a desvalorização do real.
O presidente do BC, Henrique
Meirelles, disse que não há intenção de interferir na cotação do dólar, já que, "no Brasil, vigora o regime de câmbio flutuante". Mas,
segundo o próprio, quanto maior
a procura por dólares, maior a
pressão sobre sua cotação.
"Que há influência [das compras do BC na cotação do dólar],
não há dúvida, já que todos os
agentes de mercado influenciam
as cotações. Mas o BC não tem
meta específica para a taxa de
câmbio", afirmou Meirelles.
Uma alta do dólar favoreceria as
exportações brasileiras, colaborando para manter o equilíbrio
das contas externas. Dentro do
próprio governo, há quem defenda uma atuação mais forte do BC
nesse sentido -o ministro Luiz
Fernando Furlan (Desenvolvimento) já disse em algumas ocasiões que manter a cotação da
moeda dos EUA perto de R$ 3 seria o ideal para os exportadores.
Meirelles disse que a maior
atuação do BC será possível graças a "um enorme aumento de
confiança no país", em referência
à recente euforia que tomou conta
dos investidores, que resultou em
queda do dólar e valorização dos
títulos da dívida externa brasileira. "Cada vez mais a normalidade
volta aos mercados brasileiros e
aos mercados internacionais."
As compras não necessariamente serão feitas todos os dias.
"Nossa política de compras será
pautada pelas condições de liquidez existentes no mercado."
É das reservas internacionais
que saem os recursos usados pelo
governo para honrar seus compromissos externos. Mas, desde o
ano passado, também para evitar
uma queda excessiva nas reservas, o Tesouro Nacional tem intensificado suas compras de dólares no mercado. O objetivo era
usar essas divisas para quitar parte da dívida externa do governo.
Descontados os empréstimos
do FMI (Fundo Monetário Internacional), as reservas internacionais do Brasil fecharam 2003 em
US$ 17,3 bilhões. Elas já chegaram
a superar os US$ 60 bilhões nos
anos 90, e foram caindo após sucessivas crises, quando o BC usava os recursos para conter uma
excessiva desvalorização do real.
Ao longo de 2003, o Tesouro
comprou US$ 11,2 bilhões diretamente no mercado. Só no último
trimestre, as aquisições somaram
US$ 6,3 bilhões -uma média de
aproximadamente US$ 115 milhões por dia útil. Meirelles afirmou que o BC não tem um valor
fixo a ser comprado no mercado,
mas considerou a média de US$
115 milhões registrada no final do
ano passado "um bom número"
para ser seguido em 2004.
Segundo o presidente do BC, o
fato de o Tesouro ter feito compras dessa magnitude sem que
houvesse fortes pressões na taxa
de câmbio sinalizam que a atuação do BC também não deve provocar uma desvalorização muito
forte do real. Também afirmou
que o Tesouro poderá continuar
comprando dólares no mercado,
mas que as operações ficarão concentradas no BC.
O próprio FMI apontava, ao fim
de 2003, que o baixo nível das reservas é uma das principais vulnerabilidades do país. Meirelles disse que as compras de dólares não
foram discutidas com o Fundo.
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