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LUÍS NASSIF
China e o êxodo rural
A China é uma máquina
de propulsão que tanto
poderá entrar para o firmamento das grandes potências
mundiais como explodir em
menos de uma década. É fantástico como a percepção de lucro imediato embota a razão
do mais frio empresário.
Não se percebe, nas multinacionais que operam na China,
nenhuma dúvida quanto às intenções do PCC de construir
uma economia capitalista de
mercado. A questão é a enorme
minimização dos riscos da operação.
A agricultura é um desafio
monumental. A China tem um
consumo de 500 milhões de toneladas/ano de grãos e importa 30 milhões. Tende a ser
grande importadora de carne,
açúcar, trigo e álcool.
Por outro lado, terá que enfrentar dois desafios no campo.
O primeiro, o da redução de
sua fronteira agrícola, em razão de fortes problemas ambientais que provocaram assoreamento dos rios, comprometendo a produção de energia. A
área agricultável na China não
chega ao equivalente ao Estado
do Pará, informa Renato Amorim, do Departamento de Economia da Embaixada em Pequim. Além de exígua, a área
agricultável abriga uma população de 900 milhões de pessoas, a maioria das quais vivendo de agricultura de subsistência.
Em 1978, no início da liberalização, permitiu-se que agricultores gradativamente pudessem vender seus excedentes.
Esse movimento acabou criando uma grande estratificação
do uso da terra.
Confira-se a produção de algodão. No Brasil, são 700 mil
hectares de plantação distribuídos entre 800 produtores,
com escala para uma agricultura competitiva. Na China,
são 7,5 milhões de hectares entre 40 milhões de chineses.
Esse movimento exigirá a
mecanização do campo, o que
significará ter que enfrentar o
êxodo rural. E aí se criará o desafio fundamental, que poderá
significar o grande salto final
da China, ou o desastre.
O movimento de êxodo rural
oferece uma oportunidade histórica e um risco expressivo. Se
bem conduzido, com a criação
de empregos urbanos para absorver a mão-de-obra rural,
cria um choque de demanda
capaz de mudar um país. Se
mal conduzido, gera problemas sociais e uma multidão de
miseráveis com aumento da
tensão social. Um dos erros
fundamentais do Brasil dos
militares foi não ter aproveitado o crescimento pujante da
economia para um processo
controlado de absorção da
mão-de-obra rural. Em vez de
consumidores, o erro criou
enormes favelas.
A estratégia da China consistirá em estimular o crescimento de cidades rurais, lugarejos
com 10 mil, 20 mil habitantes
que se pretende transformar
em cidades de 200 mil habitantes. Ao mesmo tempo, o país
deu início a um furioso programa de construção de grandes
obras públicas para absorver
essa mão-de-obra.
É tarefa ciclópica, levando-se
em conta o vastíssimo contingente de mão-de-obra que será
liberada pela modernização do
campo para um país em que,
mesmo com as elevadíssimas
taxas de crescimento, existe
uma taxa de desemprego encoberto estimada em 20% da população.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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