São Paulo, domingo, 07 de janeiro de 2007

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Institutos vão mudar definição de classe social

Até 20% da população deve "mudar de classe" por causa de revisão em critério

Aspirador, "tanquinho" e freezer devem sair de lista de pontuação, enquanto número total de linhas telefônicas deve entrar

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Os critérios que definem a que classe econômica o brasileiro pertence mudaram. Parte dos cidadãos poderá ganhar uma nova posição na pirâmide social, apurou a Folha. Alguns serão considerados mais ricos, e outros, mais pobres.
É a primeira mudança de maior peso feita desde que esses princípios de classes econômicas foram instituídos, em 1996, por meio de uma pesquisa chamada CCEB (Critério de Classificação Econômica Brasil), desenvolvida pela Abep (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa) e seguida como padrão pelo mercado. As alterações vigorarão neste ano.
Instrumento de segmentação da população segundo o seu poder de compra -e não de acordo com a renda familiar-, o CCEB separa os consumidores em classes econômicas (A, B, C, D e E). A divisão é feita por meio de pontuação obtida pela posse de determinados bens e pelo grau de instrução do chefe de família, em pesquisa feita no domicílio por técnicos.
Aqueles que têm em casa mais automóveis ou pagam os serviços de uma empregada somam mais pontos, pelo CCEB. Logo, têm mais chances de pertencer às classes de maior poder de compra.
O CCEB, ou "Critério Brasil", precisava sofrer uma revisão. As transformações no perfil de compra do brasileiro nos últimos anos, com a perda de importância de determinados bens -e com outros ganhando espaço-, mostraram que era necessária uma revisão, ou um "refinamento" do modelo, como explica a Abep.
Nesta semana, haverá uma reunião na associação, em São Paulo, com a presença de institutos de pesquisa, e esse assunto está na pauta. Mas já há um consenso. "Tiramos alguns itens da lista de posses [que ajuda a definir a que classe se pertence] e incluímos outros. Nos últimos três ou quatro meses, estamos focados nessas adaptações", conta Waldyr Pilli, presidente da entidade.

Aspirador fora
Já está definido, por exemplo, que o aspirador de pó deve sair dessa seleção. Objeto em desuso, quem tinha esse eletrodoméstico em casa, até então, ganhava um ponto na soma total. Com mais de 30 pontos, a família está na classe A. Entre 17 e 24 pontos, cai para a B.
O freezer -seja o acoplado à geladeira ou o equipamento independente- deve ser retirado da amostra, apurou a Folha. Com ele em casa, era possível somar um ponto a mais no resultado final. A linha telefônica será incluída como um novo bem da família -até o momento, não fazia parte do levantamento. Haverá pontos diferentes para domicílios com uma ou duas linhas em casa.
Mais: o "tanquinho" de lavar roupas, que também era contabilizado na soma de pontos (quando citado em resposta espontânea), ficará fora da pesquisa. A última adaptação feita no CCEB aconteceu em 2002, quando o aparelho de DVD foi incorporado ao levantamento e a sua posse passou a contar pontos. Foi o primeiro e último ajuste feito desde a criação do Critério Brasil.

Migração
A Folha apurou que, pelas projeções iniciais, 20% da população deve mudar de classe com as alterações. Pode subir ou descer um degrau -da classe D para a E ou para a C, por exemplo.
A Abep não acredita em uma migração brusca. "Se 20% mudam, não é uma revolução. É um ajuste, um resultado natural de uma mobilidade social", afirma Pilli.
Ibope, ACNielsen, Datafolha, entre outras empresas, acompanham a discussão de perto. Elas elaboram levantamentos próprios, com metodologias que se baseiam no critério de pontos do CCEB. Esses levantamentos se transformaram em produtos valiosos, com elevados preços, que são vendidos a uma série de clientes -grandes empresas que compram ou encomendam levantamentos sobre consumo e poder de compra, entre outros aspectos.

Cautela
Para Antonio Ricardo Ferreira, diretor-executivo do Ibope Mídia, não há necessidade de mais alterações no atual modelo do CCEB. "Pode parecer que ele não condiz com a realidade, mas não é isso. Não é possível, por exemplo, incluir a máquina fotográfica digital nele, só porque se popularizou, pois isso muda muito. Daqui a pouco vem outra tecnologia. As coisas precisam ser feitas com cautela, sem se basear em percepções e subjetividades."
Atualmente, países como os EUA, além da Europa, utilizam critérios de classificação econômica com base em renda. A classificação por posses de bens é mais freqüente em países da América Latina.
"Isso acontece porque vivemos períodos de alta inflação e deterioração na renda no passado, e uma análise por rendimento ficaria comprometida", diz Ferreira.


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