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Institutos vão mudar definição de classe social
Até 20% da população deve "mudar de classe" por causa de revisão em critério
Aspirador, "tanquinho" e
freezer devem sair de lista
de pontuação, enquanto
número total de linhas
telefônicas deve entrar
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Os critérios que definem a
que classe econômica o brasileiro pertence mudaram. Parte
dos cidadãos poderá ganhar
uma nova posição na pirâmide
social, apurou a Folha. Alguns
serão considerados mais ricos,
e outros, mais pobres.
É a primeira mudança de
maior peso feita desde que esses princípios de classes econômicas foram instituídos, em
1996, por meio de uma pesquisa chamada CCEB (Critério de
Classificação Econômica Brasil), desenvolvida pela Abep
(Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa) e seguida
como padrão pelo mercado. As
alterações vigorarão neste ano.
Instrumento de segmentação da população segundo o
seu poder de compra -e não de
acordo com a renda familiar-,
o CCEB separa os consumidores em classes econômicas (A,
B, C, D e E). A divisão é feita por
meio de pontuação obtida pela
posse de determinados bens e
pelo grau de instrução do chefe
de família, em pesquisa feita no
domicílio por técnicos.
Aqueles que têm em casa
mais automóveis ou pagam os
serviços de uma empregada somam mais pontos, pelo CCEB.
Logo, têm mais chances de pertencer às classes de maior poder de compra.
O CCEB, ou "Critério Brasil",
precisava sofrer uma revisão.
As transformações no perfil de
compra do brasileiro nos últimos anos, com a perda de importância de determinados
bens -e com outros ganhando
espaço-, mostraram que era
necessária uma revisão, ou um
"refinamento" do modelo, como explica a Abep.
Nesta semana, haverá uma
reunião na associação, em São
Paulo, com a presença de institutos de pesquisa, e esse assunto está na pauta. Mas já há um
consenso. "Tiramos alguns
itens da lista de posses [que
ajuda a definir a que classe se
pertence] e incluímos outros.
Nos últimos três ou quatro meses, estamos focados nessas
adaptações", conta Waldyr Pilli, presidente da entidade.
Aspirador fora
Já está definido, por exemplo, que o aspirador de pó deve
sair dessa seleção. Objeto em
desuso, quem tinha esse eletrodoméstico em casa, até então,
ganhava um ponto na soma total. Com mais de 30 pontos, a
família está na classe A. Entre
17 e 24 pontos, cai para a B.
O freezer -seja o acoplado à
geladeira ou o equipamento independente- deve ser retirado
da amostra, apurou a Folha.
Com ele em casa, era possível
somar um ponto a mais no resultado final. A linha telefônica
será incluída como um novo
bem da família -até o momento, não fazia parte do levantamento. Haverá pontos diferentes para domicílios com uma
ou duas linhas em casa.
Mais: o "tanquinho" de lavar
roupas, que também era contabilizado na soma de pontos
(quando citado em resposta espontânea), ficará fora da pesquisa. A última adaptação feita
no CCEB aconteceu em 2002,
quando o aparelho de DVD foi
incorporado ao levantamento e
a sua posse passou a contar
pontos. Foi o primeiro e último
ajuste feito desde a criação do
Critério Brasil.
Migração
A Folha apurou que, pelas
projeções iniciais, 20% da população deve mudar de classe
com as alterações. Pode subir
ou descer um degrau -da classe D para a E ou para a C, por
exemplo.
A Abep não acredita em uma
migração brusca. "Se 20% mudam, não é uma revolução. É
um ajuste, um resultado natural de uma mobilidade social",
afirma Pilli.
Ibope, ACNielsen, Datafolha,
entre outras empresas, acompanham a discussão de perto.
Elas elaboram levantamentos
próprios, com metodologias
que se baseiam no critério de
pontos do CCEB. Esses levantamentos se transformaram
em produtos valiosos, com elevados preços, que são vendidos
a uma série de clientes -grandes empresas que compram ou
encomendam levantamentos
sobre consumo e poder de
compra, entre outros aspectos.
Cautela
Para Antonio Ricardo Ferreira, diretor-executivo do Ibope
Mídia, não há necessidade de
mais alterações no atual modelo do CCEB. "Pode parecer que
ele não condiz com a realidade,
mas não é isso. Não é possível,
por exemplo, incluir a máquina
fotográfica digital nele, só porque se popularizou, pois isso
muda muito. Daqui a pouco
vem outra tecnologia. As coisas
precisam ser feitas com cautela, sem se basear em percepções e subjetividades."
Atualmente, países como os
EUA, além da Europa, utilizam
critérios de classificação econômica com base em renda. A
classificação por posses de bens
é mais freqüente em países da
América Latina.
"Isso acontece porque vivemos períodos de alta inflação e
deterioração na renda no passado, e uma análise por rendimento ficaria comprometida",
diz Ferreira.
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