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ENTREVISTA DA 2ª/JÚLIO SÉRGIO GOMES DE ALMEIDA
Mudanças tributárias vão elevar a competitividade de setores produtivos, diz ex-secretário da Fazenda
que hoje trabalha no Iedi
"Pacote fiscal é produtivo e tem que ser festejado"
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
Os empresários reagiram
mal ao pacote anunciado pelo
governo. A crítica se concentrou no fato de o aumento de
impostos atuar principalmente sobre o crédito, que tem sido uma das molas propulsoras do crescimento da economia. Na contramão das críticas, o economista Júlio Sérgio
Gomes de Almeida, 52, que foi
secretário de Política Econômica da Fazenda de 2005 a
2007 e é consultor do Iedi
(Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial),
acha que o setor produtivo
saiu ganhando com o pacote,
principalmente aqueles de
maior valor agregado.
O pacote, segundo ele, proporcionará maior competitividade às empresas. "Para
muitos setores, o pacote do
governo é para ser comemorado." A seguir, a entrevista:
FOLHA - O que o senhor achou do
pacote?
JÚLIO SÉRGIO GOMES DE ALMEIDA -
O pacote já era esperado. Todo
mundo sabia que o governo tinha que fazer alguma coisa na
parte de impostos para recuperar os R$ 40 bilhões da CPMF.
O aumento de impostos corresponde a 25% dessa perda e o
imposto escolhido foi o mais
próximo da CPMF, que foi o
IOF, que incide sobre as operações financeiras e o crédito. O
governo foi muito coerente
nessa mexida. O governo também complementou o pacote
com o aumento da cobrança da
CSLL sobre as instituições financeiras, que também foi outra medida coerente para substituir o imposto que acabou.
FOLHA - O setor produtivo será afetado pelas medidas do pacote?
GOMES DE ALMEIDA - Na prática, o
que o governo fez foi reintroduzir a CPMF sobre o crédito, o
que não deixou de ser uma frustração para quem acreditou
que o crédito iria ficar mais barato. Mas é bom separar o joio
do trigo. Essa frustração não
envolveu toda a incidência da
CPMF sobre o setor produtivo.
No balanço geral de ganhos e
perdas com o fim da CPMF, o
pacote foi altamente produtivo
para as empresas e também para as pessoas físicas.
FOLHA - Por que o pacote foi produtivo para as empresas?
GOMES DE ALMEIDA - Porque vai
proporcionar aumento de competitividade. Não vamos esquecer que a CPMF era um imposto cumulativo, o último dos impostos cumulativos que tínhamos. Trata-se de um imposto
que incide em cascata. Ele se
renova nas operações em cadeia, o que significa que nas cadeias produtivas mais amplas,
como os setores automotivo,
petroquímico e de bens de capital, o 0,38% da CPMF acabava
se transformando em 2% a 3%
sobre o preço final do produto.
Com o fim da CPMF, muitos
setores industriais tendem a se
beneficiar com reduções importantes de custos. Para muitos setores produtivos, especialmente as indústrias de maior valor agregado, o pacote
é para ser comemorado.
FOLHA - E para as pessoas físicas?
GOMES DE ALMEIDA - Para as pessoas físicas, os cálculos são que
o fim da CPMF irá gerar cerca
de R$ 10 bilhões de renda real
disponível adicional. É dinheiro disponível em conta para as
pessoas. Uma boa parte disso o
governo vai captar com o aumento do IOF sobre o crédito,
mas será uma parcela pequena.
Outro detalhe importante é
que a CPMF era um imposto
regressivo, que incidia mais sobre as pessoas de renda mais
baixa. O fim da CPMF vai beneficiar as pessoas de renda mais
baixa. Em outras palavras, vai
beneficiar o consumo do país,
mesmo com o aumento do IOF.
O balanço também é positivo.
FOLHA - Quais as críticas que o sr.
faria ao pacote?
GOMES DE ALMEIDA - Todo mundo concorda que o Brasil precisa muito de investimentos em
2008, inclusive para afastar esse fantasma da inflação de demanda. Por isso, não faz sentido o governo taxar os empréstimos para investimentos do
BNDES. O governo não pode
tratar o problema só do ponto
de vista tributário. O IOF que
incide sobre o crédito para investimento do BNDES teria
que ser retirado do processo,
assim como o governo não introduziu o IOF sobre as operações de financiamento do crédito imobiliário, que é uma prioridade do governo.
Outro ponto importante foi
que o governo não taxou a importação, mas taxou a exportação com o IOF. Não faz sentido
punir a exportação e não punir
a importação, principalmente
porque o exportador já vem sofrendo há muito tempo o problema da valorização do real.
Eu não defendo a taxação da
importação, mas, sim, condições iguais para a exportação.
Um terceiro ponto, que seria
mais ousado, é que o governo
deveria ter aproveitado essa situação para tentar minimizar
um pouco o problema da excessiva valorização do real, que
chegou a quase 20% no ano
passado, se tivesse criado um
IOF maior sobre a entrada de
recursos estrangeiros no país,
incluindo o adiantamento de
contrato de câmbio, os ACCs.
Essas operações foram responsáveis pelo excesso de dólares
no ano passado, num montante
de US$ 87 bilhões.
Outra medida que também
poderia ter sido adotada era eliminar a isenção do IR (Imposto
de Renda) para as aplicações do
exterior em títulos públicos,
que também teria um efeito
cambial importante, além de
aumentar a arrecadação.
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