|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crise leva produção industrial à maior queda em 13 anos
Produção cai 5,2% de outubro para novembro, taxa inferior apenas à de maio de 95 (-11,2%); quase todos os setores recuam
Por causa da forte atividade antes da crise, produção e estoques estavam em alta, mas intensidade da retração surpreende economistas
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A crise bateu com força na indústria em novembro, e a produção do setor sofreu o maior
baque em 13 anos e meio: caiu
5,2% ante outubro na série livre de influências sazonais. Foi
a maior retração desde maio de
1995 (-11,2%), segundo o IBGE.
Já sob impacto da turbulência global, a produção havia caído 2,8% em outubro. Em apenas dois meses, a queda chegou
a 7,8%, o que fez a indústria voltar a produzir no mesmo patamar de maio de 2007.
Segundo o IBGE, a contração
foi geral: atingiu 21 dos 27 setores -desde 2002, quando começou a pesquisa com esse número de atividades, nunca tantos haviam registrado queda.
Na comparação com novembro de 2007, a perda foi de
6,2%, a maior desde dezembro
de 2001 (-6,4%). "Essa redução
atingiu níveis recordes. O quadro de novembro mostra um
aprofundamento da queda da
produção industrial e um alargamento dos setores atingidos
por esse movimento", disse Silvio Sales, coordenador de Indústria do IBGE.
Ele ressalta que em maio de
1995 a indústria caiu puxada
por só um setor: o de petróleo,
que sofreu com a mais extensa
greve da história da Petrobras.
Em novembro, diz Sales, ela
foi afetada especialmente pela
escassez de crédito desde o
agravamento da crise, em setembro, e pela forte compressão da demanda mundial.
Desse modo, os ramos mais
dependentes de financiamento
sentiram mais. É o caso de bens
duráveis, cuja produção caiu
20,4% em relação a outubro, liderada pelo fraco desempenho
de veículos automotores
(-22,6%). Foi o setor que mais
puxou a indústria para baixo.
"A indústria acusou logo o
golpe, e os números mostram
que os efeitos da crise são bastante graves", diz Rogério Souza, economista do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Para ilustrar o tranco, ele cita
a intensa desaceleração da taxa
acumulada no ano. Até setembro, a indústria avançava 6,4%,
recuou para 5,8% em outubro, e
em novembro foi a 4,7%.
Segundo Sales, a perda de ritmo é um efeito claro da crise.
Várias indústrias cujos produtos tiveram quedas expressivas,
diz, apontaram como motivos a
adoção de férias coletivas e a redução de pedidos do país e do
exterior.
Para Bráulio Borges, da LCA,
a "grande tônica dessa freada" é
o acúmulo excessivo de estoques, que obrigou "um forte
ajuste de produção para baixo".
É que, como a economia vinha bastante aquecida até setembro, diz o economista, as indústrias se prepararam para
produzir num ritmo acelerado.
Diante da crise, porém, a demanda se contraiu com a secura do crédito e o mercado externo travado, o que resultou num
intenso ajuste na produção, segundo Borges.
"Foi uma freada brusca. Em
bom português, a indústria parou mesmo em novembro,
mantendo suas linhas de produção paralisadas", afirma Borges.
Um sinal desse cenário é a retração na produção de 64% dos
produtos pesquisados pelo IBGE -mais alto índice desde janeiro de 2003, primeiro mês
dessa série.
"Todos esperavam uma queda, mas ela surpreendeu em sua
magnitude. O fato de dois terços dos produtos registrarem
recuo é relevante. A crise financeira afetou a economia real
numa velocidade muito rápida
e incomum. E pegou a indústria
numa fase de estoques elevados, o que levou a um forte ajuste", diz Flávio Castello Branco,
economista da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Silvio Sales, do IBGE, concorda: "Os sinais parciais eram
de uma redução da produção de
outubro para novembro. A surpresa é mais por conta da própria dimensão".
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Frases Índice
|