São Paulo, quarta-feira, 07 de janeiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crise leva produção industrial à maior queda em 13 anos

Produção cai 5,2% de outubro para novembro, taxa inferior apenas à de maio de 95 (-11,2%); quase todos os setores recuam

Por causa da forte atividade antes da crise, produção e estoques estavam em alta, mas intensidade da retração surpreende economistas

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A crise bateu com força na indústria em novembro, e a produção do setor sofreu o maior baque em 13 anos e meio: caiu 5,2% ante outubro na série livre de influências sazonais. Foi a maior retração desde maio de 1995 (-11,2%), segundo o IBGE.
Já sob impacto da turbulência global, a produção havia caído 2,8% em outubro. Em apenas dois meses, a queda chegou a 7,8%, o que fez a indústria voltar a produzir no mesmo patamar de maio de 2007.
Segundo o IBGE, a contração foi geral: atingiu 21 dos 27 setores -desde 2002, quando começou a pesquisa com esse número de atividades, nunca tantos haviam registrado queda.
Na comparação com novembro de 2007, a perda foi de 6,2%, a maior desde dezembro de 2001 (-6,4%). "Essa redução atingiu níveis recordes. O quadro de novembro mostra um aprofundamento da queda da produção industrial e um alargamento dos setores atingidos por esse movimento", disse Silvio Sales, coordenador de Indústria do IBGE.
Ele ressalta que em maio de 1995 a indústria caiu puxada por só um setor: o de petróleo, que sofreu com a mais extensa greve da história da Petrobras.
Em novembro, diz Sales, ela foi afetada especialmente pela escassez de crédito desde o agravamento da crise, em setembro, e pela forte compressão da demanda mundial.
Desse modo, os ramos mais dependentes de financiamento sentiram mais. É o caso de bens duráveis, cuja produção caiu 20,4% em relação a outubro, liderada pelo fraco desempenho de veículos automotores (-22,6%). Foi o setor que mais puxou a indústria para baixo.
"A indústria acusou logo o golpe, e os números mostram que os efeitos da crise são bastante graves", diz Rogério Souza, economista do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Para ilustrar o tranco, ele cita a intensa desaceleração da taxa acumulada no ano. Até setembro, a indústria avançava 6,4%, recuou para 5,8% em outubro, e em novembro foi a 4,7%.
Segundo Sales, a perda de ritmo é um efeito claro da crise. Várias indústrias cujos produtos tiveram quedas expressivas, diz, apontaram como motivos a adoção de férias coletivas e a redução de pedidos do país e do exterior.
Para Bráulio Borges, da LCA, a "grande tônica dessa freada" é o acúmulo excessivo de estoques, que obrigou "um forte ajuste de produção para baixo".
É que, como a economia vinha bastante aquecida até setembro, diz o economista, as indústrias se prepararam para produzir num ritmo acelerado. Diante da crise, porém, a demanda se contraiu com a secura do crédito e o mercado externo travado, o que resultou num intenso ajuste na produção, segundo Borges.
"Foi uma freada brusca. Em bom português, a indústria parou mesmo em novembro, mantendo suas linhas de produção paralisadas", afirma Borges.
Um sinal desse cenário é a retração na produção de 64% dos produtos pesquisados pelo IBGE -mais alto índice desde janeiro de 2003, primeiro mês dessa série.
"Todos esperavam uma queda, mas ela surpreendeu em sua magnitude. O fato de dois terços dos produtos registrarem recuo é relevante. A crise financeira afetou a economia real numa velocidade muito rápida e incomum. E pegou a indústria numa fase de estoques elevados, o que levou a um forte ajuste", diz Flávio Castello Branco, economista da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Silvio Sales, do IBGE, concorda: "Os sinais parciais eram de uma redução da produção de outubro para novembro. A surpresa é mais por conta da própria dimensão".


Texto Anterior: Mercado Aberto
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.