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Skaf sugere redução da jornada para evitar alta do desemprego
Paulo Fehlauer - 29.fev.08/Folha Imagem
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Paulo Skaf, da Fiesp, que aponta risco de alta do desemprego |
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
Paulo Skaf (Fiesp) não recebeu com surpresa a queda da
indústria em novembro, assim
como também prevê índices
ruins em dezembro e no primeiro trimestre deste ano. Para
evitar o desemprego, sugere a
adoção da redução da jornada
com diminuição de salários.
Além disso, uma forte redução
dos juros. "Não sei por que tanta cerimônia para baixar o juro.
Estamos sob ataque de uma crise internacional."
FOLHA - O sr. recebeu com surpresa
o resultado da indústria?
PAULO SKAF - Não foi nenhuma
surpresa. Quando saiu o resultado de outubro, tínhamos previsto esse índice negativo de
novembro. Já sentíamos o efeito da crise internacional. Primeiro, o crédito sumiu e agora
começa a reaparecer, mas a um
custo muito mais elevado. Não
foi à toa que muitas empresas
deram férias coletivas. O resultado de dezembro da indústria
também será ruim, assim como
o de janeiro. A expectativa é de
um primeiro trimestre muito
difícil.
FOLHA - O sr. teme o aumento do
desemprego?
SKAF - Temos que aguardar. A
melhor providência a tomar
agora é a redução da jornada de
trabalho em 20% com a respectiva redução do salário. Isso aumenta a possibilidade de manutenção do emprego. Para
atenuar esse problema de ociosidade, estamos oferecendo às
empresas um grande pacote de
cursos técnicos do Senai de São
Paulo para os empregados se
especializarem nesse tempo
em que tiverem suas jornadas
de trabalho reduzidas. Inicialmente são 100 mil vagas adicionais que estamos disponibilizando para diversos cursos,
mas podem ser mais. Essa possibilidade de redução de jornada já está prevista em lei e só
depende de um acordo das empresas com os sindicatos. Não
depende de mudança constitucional nem de flexibilização da
legislação trabalhista. O momento é de trabalhar um pouco
menos. O trabalhador pode até
ganhar um pouco mais quando
acabar essa fase de crise. Essa
medida não elimina o risco do
aumento de desemprego, mas
diminui muito.
FOLHA - O que o governo pode fazer para conter a crise?
SKAF - O governo poderia, por
exemplo, reduzir impostos,
alongar os prazos de pagamento dos tributos e pagar os créditos de ICMS das empresas exportadoras. São medidas mais
do que justas. O governo passou os últimos anos aumentando os impostos e apertando os
prazos de pagamento, e agora é
hora dar um fôlego para as empresas. Mas o foco deve ser o
crédito. A redução dos juros e
do "spread" (diferença entre a
taxa de captação e a cobrada pelos bancos nos empréstimos) é
essencial. Não adianta o crédito
reaparecer a um custo que pode
quebrar as empresas. O que se
espera é que o Banco Central
baixe a Selic (taxa básica de juros) de forma significativa.
FOLHA - Quanto o sr. acha que o BC
deve baixar o juro?
SKAF - A Selic já deveria estar
muito mais baixa do que está. A
decisão de não baixar o juro nas
últimas reuniões do Copom foi
uma medida antiemprego e na
contramão do que o mundo está fazendo. Se a Selic estivesse
hoje em 8% ou 9%, que problema teria? O problema hoje é de
falta de demanda, e não de excesso. Com a Selic mais baixa, o
governo até poderia reduzir o
gasto com juros e elevar os investimentos públicos. Não sei
por que tanta cerimônia para
baixar o juro. Estamos sob ataque de uma crise internacional.
FOLHA - Por que o BC não baixa?
SKAF - Pergunte ao dr. Henrique Meirelles. Só ele pode responder por que se mantém o
juro tão alto no Brasil.
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