São Paulo, quarta-feira, 07 de janeiro de 2009

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Skaf sugere redução da jornada para evitar alta do desemprego

Paulo Fehlauer - 29.fev.08/Folha Imagem
Paulo Skaf, da Fiesp, que aponta risco de alta do desemprego


GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

Paulo Skaf (Fiesp) não recebeu com surpresa a queda da indústria em novembro, assim como também prevê índices ruins em dezembro e no primeiro trimestre deste ano. Para evitar o desemprego, sugere a adoção da redução da jornada com diminuição de salários. Além disso, uma forte redução dos juros. "Não sei por que tanta cerimônia para baixar o juro. Estamos sob ataque de uma crise internacional."

 

FOLHA - O sr. recebeu com surpresa o resultado da indústria?
PAULO SKAF
- Não foi nenhuma surpresa. Quando saiu o resultado de outubro, tínhamos previsto esse índice negativo de novembro. Já sentíamos o efeito da crise internacional. Primeiro, o crédito sumiu e agora começa a reaparecer, mas a um custo muito mais elevado. Não foi à toa que muitas empresas deram férias coletivas. O resultado de dezembro da indústria também será ruim, assim como o de janeiro. A expectativa é de um primeiro trimestre muito difícil.

FOLHA - O sr. teme o aumento do desemprego?
SKAF
- Temos que aguardar. A melhor providência a tomar agora é a redução da jornada de trabalho em 20% com a respectiva redução do salário. Isso aumenta a possibilidade de manutenção do emprego. Para atenuar esse problema de ociosidade, estamos oferecendo às empresas um grande pacote de cursos técnicos do Senai de São Paulo para os empregados se especializarem nesse tempo em que tiverem suas jornadas de trabalho reduzidas. Inicialmente são 100 mil vagas adicionais que estamos disponibilizando para diversos cursos, mas podem ser mais. Essa possibilidade de redução de jornada já está prevista em lei e só depende de um acordo das empresas com os sindicatos. Não depende de mudança constitucional nem de flexibilização da legislação trabalhista. O momento é de trabalhar um pouco menos. O trabalhador pode até ganhar um pouco mais quando acabar essa fase de crise. Essa medida não elimina o risco do aumento de desemprego, mas diminui muito.

FOLHA - O que o governo pode fazer para conter a crise?
SKAF
- O governo poderia, por exemplo, reduzir impostos, alongar os prazos de pagamento dos tributos e pagar os créditos de ICMS das empresas exportadoras. São medidas mais do que justas. O governo passou os últimos anos aumentando os impostos e apertando os prazos de pagamento, e agora é hora dar um fôlego para as empresas. Mas o foco deve ser o crédito. A redução dos juros e do "spread" (diferença entre a taxa de captação e a cobrada pelos bancos nos empréstimos) é essencial. Não adianta o crédito reaparecer a um custo que pode quebrar as empresas. O que se espera é que o Banco Central baixe a Selic (taxa básica de juros) de forma significativa.

FOLHA - Quanto o sr. acha que o BC deve baixar o juro?
SKAF
- A Selic já deveria estar muito mais baixa do que está. A decisão de não baixar o juro nas últimas reuniões do Copom foi uma medida antiemprego e na contramão do que o mundo está fazendo. Se a Selic estivesse hoje em 8% ou 9%, que problema teria? O problema hoje é de falta de demanda, e não de excesso. Com a Selic mais baixa, o governo até poderia reduzir o gasto com juros e elevar os investimentos públicos. Não sei por que tanta cerimônia para baixar o juro. Estamos sob ataque de uma crise internacional.

FOLHA - Por que o BC não baixa?
SKAF
- Pergunte ao dr. Henrique Meirelles. Só ele pode responder por que se mantém o juro tão alto no Brasil.


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