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À FRENTE
Área plantada em 2005/06 caiu, o que reduziu oferta e recuperou preço
Algodão já tem negociação para 2007
DANIELE SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA
A perspectiva de um quadro de
demanda maior que a oferta e a
conseqüente recuperação dos
preços estão dando fôlego às vendas de algodão. Depois de reduzirem em 30% a área plantada com
o produto na atual safra, os produtores brasileiros aproveitam o
bom momento não só para acelerar os negócios no mercado interno como para fechar contratos de
exportação para 2007.
De acordo com Marco Antônio
Aloísio, diretor da Anea (Associação Nacional dos Exportadores de
Algodão), até o final de janeiro foram fechados contratos de exportação envolvendo de 200 mil a 250
mil toneladas de algodão da próxima safra, a 2006/07, cujo plantio
só começa em novembro.
Isso representa mais da metade
do recorde de 391 mil toneladas
que, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), o Brasil vendeu ao exterior na
última safra. Além do volume,
chama a atenção o ritmo acelerado dos negócios. Por conta dos
preços baixos registrados em
2005, os contratos antecipados
para exportação em 2006 só começaram a ser fechados em abril.
As cotações do algodão na Bolsa
de Nova York, que servem de referência para a exportação, acumulam alta de 32% nos últimos 12
meses. Quase metade desse avanço ocorreu em dezembro e janeiro, quando os contratos para 2007
começaram a ser feitos.
"O produtor toma por base comercializar a safra com antecedência para poder utilizar esses
contratos como hedge [proteção]
do custo de produção", disse o diretor da Anea. As exportações são
contratadas com antecedência
porque servem como garantia na
busca de financiamento junto a
empresas de insumos. "O contrato se faz necessário, muitas vezes,
para o produtor ter acesso a crédito privado", afirmou o analista
Daniel Dias, do Instituto FNP.
Tendência de alta
Esperam-se preços firmes o ano
todo, especialmente se as previsões de queda na produção do hemisfério norte e de aumento no
consumo se realizarem. Para Daniel Dias, a produção mundial recorde do ano passado -26 milhões de toneladas, segundo o Usda (Departamento de Agricultura
dos EUA)-, não deve se repetir.
"É muito difícil acreditar que o
clima será perfeito como nos dois
últimos anos", disse o analista,
que também espera redução na
área plantada mundial. Ele acredita que a descapitalização sofrida
na safra passada pesará na decisão de plantio no exterior.
O Usda aponta uma redução de
900 mil hectares na área que será
colhida com algodão na safra
2005/06, calculada em 34,9 milhões de hectares. A maior redução, de 590 mil hectares, deve
ocorrer na China, maior produtor
e consumidor mundial. Em contrapartida, a demanda chinesa deve crescer 10%, de 8,2 milhões para 9 milhões de toneladas.
A China é o país que mais importa algodão do Brasil. Em 2005,
foram 78 mil toneladas, ou 20%
das vendas brasileiras. Na safra
passada, o Brasil colheu 1,2 milhão de toneladas de algodão em
pluma, segundo a Conab. Para a
safra atual, o órgão calcula uma
produção de 1 milhão de toneladas. As exportações são estimadas
em 385 mil toneladas -apenas 6
mil a menos que na safra passada.
Mercado interno
No mercado brasileiro, a recuperação dos preços do algodão é
ainda mais acentuada que no internacional. Só nos últimos dois
meses, o índice Cepea/Esalq,
principal referência dos preços
nacionais, acumula alta de 32%.
O principal motivo da melhora
é a redução da área plantada na
safra 2005/06, causada pelos preços baixos do ano passado, pela
queda do dólar e pelo endividamento dos produtores.
Com grande parte dos contratos
de exportação para 2006 já fechados, o que movimenta o mercado
do algodão restante da safra passada e do que vai ser colhido no
atual ciclo são os negócios internos. "As indústrias estão procurando se precaver, sabendo que
neste ano a demanda vai ser
maior que a oferta", disse João Ribas Pessa, conselheiro da Abrapa
(Associação Brasileira dos Produtores de Algodão). Para Pessa, são
poucos os produtores que aproveitam os preços mais altos, pois a
maioria teve de vender antes para
fazer caixa. Ele calcula que, com a
redução da área plantada em Mato Grosso, maior produtor nacional, US$ 212 milhões deixaram de
circular no Estado.
Com produção menor e exportações já contratadas, o Brasil corre o risco de ter que aumentar as
importações - para a Conab, o
país poderá comprar 196 mil toneladas de algodão nesta safra,
contra 38 mil na anterior.
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