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VINICIUS TORRES FREIRE
O dólar e os cachinhos dourados
Não há consenso entre economistas sobre queda do dólar, mas calmaria global ajuda a manter o real forte
O TOMBO do dólar no final da
semana passada é um tropeço ladeira abaixo ou o quê? A
balançada no preço do dólar parece
ter se devido a um ciclo curto de
ajuste de posições. Teve gente que
perdeu algum dinheiro com a confirmação do cenário mais positivo
para a economia, que se desenhava
em janeiro, e com as decisões do Fed
e com a do Banco Central do Brasil.
Mas a respeito do câmbio há polêmica até sobre os motivos fundamentais da valorização do real. Até
entre economistas de visão macroeconômica assemelhada, "ortodoxos" ou de "esquerda", seja qual for o
apelido, há posições divididas e irredutíveis a respeito.
Para simplificar: o real está forte
devido a juros altos e ao decorrente
influxo financeiro, devido ao grande
saldo do comércio exterior ou a uma
combinação das duas coisas?
Ex-integrantes do BC, hoje em posições top de consultoria ou na gestão de finanças, também não sabem
bem o que aconteceu ou não chegam
a um acordo sobre os motivos da nova onda de desvalorização recente.
Mas a maioria deles diz que é melhor reduzir os juros mais rapidamente do que intervir no câmbio (é a
posição mais comum de ex-BCs da
época de FHC).
De menos incerto é que o período
de calmaria econômica global está
indo além do esperado pela finança
e seus analistas. Para o pessoal do JP
Morgan em NY, fazia mais de 25
anos que os BCs do mundo rico não
estavam tão tolerantes com o que
antes consideravam sinais de risco.
O crescimento mundial tem sido
forte, com baixa volatilidade e é disperso pelo planeta. Disparadas em
preços de commodities essenciais,
como petróleo, não fizeram a inflação desandar, nem o aquecimento
dos mercados de trabalho. A finança
global está calma. Resiste a boatos
de estouro de bolhas. O risco percebido em papéis de mercados emergentes e de títulos podres vive baixa
recorde. Com essa percepção de estabilidade, a queda do rendimento
das aplicações em mercados de risco
não reduziu o apetite por tais papéis.
A incerteza sobre o destino da economia dos EUA continua, mas por
ora a finança global preocupa-se
menos com o problema. Ou acha
que, se a desaceleração vier, virá
suave. É o cenário "goldilocks", literalmente "cachinhos dourados"
(sim, da menininha da fábula).
Os cenários mais típicos ainda cotam o dólar de R$ 2,15 a R$ 2,20 no
final do ano. As empresas exportadoras brasileiras apanhariam mais?
Nesse cenário de dólar estável, não.
A rentabilidade média das exportações brasileiras quase parou de
piorar (vide gráfico). Muita empresa
teve seu custo reduzido com a inflação baixa e com os insumos importados baratos. Embora alguns setores, como manufaturas básicas, continuem a se desmilinguir com o real
forte, o preço das commodities, em
especial agrícolas, vai bem. O saldo
comercial deve continuar forte.
vinit@uol.com.br
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