São Paulo, quarta-feira, 07 de fevereiro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

O dólar e os cachinhos dourados

Não há consenso entre economistas sobre queda do dólar, mas calmaria global ajuda a manter o real forte

O TOMBO do dólar no final da semana passada é um tropeço ladeira abaixo ou o quê? A balançada no preço do dólar parece ter se devido a um ciclo curto de ajuste de posições. Teve gente que perdeu algum dinheiro com a confirmação do cenário mais positivo para a economia, que se desenhava em janeiro, e com as decisões do Fed e com a do Banco Central do Brasil.
Mas a respeito do câmbio há polêmica até sobre os motivos fundamentais da valorização do real. Até entre economistas de visão macroeconômica assemelhada, "ortodoxos" ou de "esquerda", seja qual for o apelido, há posições divididas e irredutíveis a respeito.
Para simplificar: o real está forte devido a juros altos e ao decorrente influxo financeiro, devido ao grande saldo do comércio exterior ou a uma combinação das duas coisas?
Ex-integrantes do BC, hoje em posições top de consultoria ou na gestão de finanças, também não sabem bem o que aconteceu ou não chegam a um acordo sobre os motivos da nova onda de desvalorização recente.
Mas a maioria deles diz que é melhor reduzir os juros mais rapidamente do que intervir no câmbio (é a posição mais comum de ex-BCs da época de FHC).
De menos incerto é que o período de calmaria econômica global está indo além do esperado pela finança e seus analistas. Para o pessoal do JP Morgan em NY, fazia mais de 25 anos que os BCs do mundo rico não estavam tão tolerantes com o que antes consideravam sinais de risco.
O crescimento mundial tem sido forte, com baixa volatilidade e é disperso pelo planeta. Disparadas em preços de commodities essenciais, como petróleo, não fizeram a inflação desandar, nem o aquecimento dos mercados de trabalho. A finança global está calma. Resiste a boatos de estouro de bolhas. O risco percebido em papéis de mercados emergentes e de títulos podres vive baixa recorde. Com essa percepção de estabilidade, a queda do rendimento das aplicações em mercados de risco não reduziu o apetite por tais papéis.
A incerteza sobre o destino da economia dos EUA continua, mas por ora a finança global preocupa-se menos com o problema. Ou acha que, se a desaceleração vier, virá suave. É o cenário "goldilocks", literalmente "cachinhos dourados" (sim, da menininha da fábula).
Os cenários mais típicos ainda cotam o dólar de R$ 2,15 a R$ 2,20 no final do ano. As empresas exportadoras brasileiras apanhariam mais? Nesse cenário de dólar estável, não.
A rentabilidade média das exportações brasileiras quase parou de piorar (vide gráfico). Muita empresa teve seu custo reduzido com a inflação baixa e com os insumos importados baratos. Embora alguns setores, como manufaturas básicas, continuem a se desmilinguir com o real forte, o preço das commodities, em especial agrícolas, vai bem. O saldo comercial deve continuar forte.


vinit@uol.com.br

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